Recuperando-se da ressaca prolongada causada pela eleição presidencial de 2018, partidos derrotados miram o centro do espectro político para se reposicionarem até a disputa de 2022. Já o presidente Jair Bolsonaro (PSL) tem procurado manter a polarização esquerda-direita que o levou ao Planalto. Dirigentes de outros partidos, no entanto, apostam no desgaste desta tensão e na fadiga do governo por causa de tropeços administrativos e de uma recuperação econômica aquém das expectativas – bancos e consultorias têm revisado suas projeções de crescimento para níveis inferiores a 2% em 2020.
Para estes políticos, se o governo não der certo, a decepção da população pode trazer o eleitor para o centro em busca não de uma outra ideologia, mas de um novo nome. Apesar de estarmos a três anos das eleições, análises sobre possíveis candidatos de centro já irrompem em rodas de conversa. Um dos mais fortes é o do apresentador e empresário Luciano Huck, que, por ora, mantém o discurso oficial de que é apenas um cidadão interessado em ajudar o Brasil, mas, como a Folha mostrou, tem intensificado sua movimentação política nos últimos meses, em sinal de que a candidatura é uma vontade mais viva do que nunca.
Mas o deslocamento até o centro não é simples para todas as siglas, a começar pelo PT. A legenda vive um tensionamento entre integrantes da ala majoritária e a presidente nacional do partido, a deputada Gleisi Hoffmann (PR), que segue no comando da sigla com aval do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, preso em Curitiba. Nomes deste grupo majoritário dizem querer posicionar o partido na centro-esquerda, com um discurso menos agressivo e que permita a retomada do diálogo com antigos aliados, como PDT e PSB. Essa ala chegou a ensaiar uma rebelião para levar o ex-prefeito e presidenciável derrotado Fernando Haddad (SP) à presidência petista, mas houve um recuo depois que Lula deixou claro que queria manter Gleisi no cargo.
Parlamentares classificam o discurso do PT sob as rédeas de Gleisi como mais radical e tentam repartir o poder interno para comandar estruturas do partido como a secretaria de comunicação. É uma tentativa, dizem estes petistas, de reaproximar a legenda do eleitorado com o qual perdeu interlocução, o mais pobre e conservador, em especial os evangélicos. O rumo que o PT irá tomar depende de uma condicionante: se Lula será solto ou permanecerá preso. Fora da prisão, correligionários dizem acreditar que ele pode conduzir articulações com partidos do campo de centro-esquerda. Atrás das grades, tende a querer elevar o tom de enfrentamento, restringindo alianças. As informações são da Folha de São Paulo.