Com a maior fatia dos fundos eleitoral e partidário (cerca de R$ 1 bilhão) e o tempo mais expressivo de TV, ambos consequências de uma bancada volumosa no Congresso, o União Brasil, que nascerá da fusão entre DEM e PSL, tornou-se o partido mais cobiçado no mercado eleitoral. Após a aproximação da futura legenda com o Podemos, que pode resultar numa aliança ou até mesmo na filiação do ex-ministro Sergio Moro, como o jornal O Globo revelou nesta semana, a pré-campanha do presidente Jair Bolsonaro prepara uma reação para neutralizar o adversário. O plano inclui abrir mão de candidaturas bolsonaristas em estados, em prol de integrantes da nova sigla.
Por dividirem o mesmo eleitorado de direita, Moro é visto hoje como uma das principais ameaças à reeleição do presidente. Diante disso, integrantes do governo deflagraram uma investida para distanciar Moro do União Brasil e trazer a legenda para a órbita do Palácio do Planalto.
Em entrevista à CNN na quinta-feira, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) foi incisivo ao dizer que mantém contato com lideranças do União Brasil em prol de um possível apoio a Bolsonaro:
— Tenho mantido conversas com pessoas dentro do partido para compreender qual o pensamento deles, já que é um partido que ficou do tamanho que ficou por causa do fenômeno Bolsonaro em 2018.
Há dois impasses hoje no partido que passaram a ser vistos pelos estrategistas de Bolsonaro como oportunidades. Um é a disputa ao governo da Bahia, que tem coimo principais nomes o secretário-geral do União Brasil e ex-prefeito de Salvador, ACM Neto (DEM), o senador Jaques Wagner (PT) e o ministro da Cidadania, João Roma (Republicanos).
Em troca do apoio do União Brasil a Bolsonaro, uma opção citada nos bastidores seria Roma desistir do governo e apoiar ACM Neto.
A tese, no entanto, depende da reconciliação dos dois, que estão rachados desde que Roma assumiu o ministério — os dois eram amigos há mais de 20 anos, e Roma foi chefe de gabinete de ACM Neto quando ele era prefeito de Salvador.
Interlocutores do ministro, no entanto, avaliam que ele tem potencial de crescer na disputa quando cristalizar a imagem de responsável pelo Auxílio Brasil, programa que substituiu o Bolsa Família e principal vitrine da pasta da Cidadania.
Ao contrário do futuro presidente da sigla, Luciano Bivar, ACM Neto não é entusiasta da ideia de filiar Moro ao União Brasil, o que, para ele, pode levá-lo a perder votos em um estado onde Lula domina as pesquisas de intenção de voto. O ex-prefeito de Salvador também mantém conversas com os presidenciáveis João Doria e Ciro Gomes, que podem subir no seu palanque.
Aliado de ACM Neto, o deputado Elmar Nascimento (DEM-BA) diz que é “zero” a chance de uma aliança com Roma, o que levaria Bolsonaro ao palanque. O parlamentar também considera baixa a possibilidade de Moro migrar ao União Brasil.
— O melhor (para o União Brasil) é não ter candidato a presidente, por conta das nossas diferenças regionais. Tem estado que prefere o Bolsonaro, outros que preferem o Doria e por aí vai — disse.
Nome pelo caminho
nquanto ainda pairam as dúvidas sobre apoiar Moro ou Bolsonaro, a prioridade máxima do novo partido hoje é o pleito ao Legislativo. Para boa parte dos integrantes da legenda, a candidatura à Presidência deveria ficar em segundo plano.
Apesar disso, Moro aparece com mais força do que Bolsonaro entre os integrantes do União. Pesa ainda o fato de o atual presidente da República ter uma relação ruim com Bivar, que tem se empenhado pessoalmente em trazer à sigla o ex-ministro da Justiça. Segundo o colunista Lauro Jardim, do GLOBO, Moro, que está filiado há apenas dois meses no Podemos, passou a indicar que realmente precisa de um partido com mais densidade — e dinheiro — para se viabilizar candidato.
Nesta sexta-feira, Bivar se encontrou pessoalmente com a presidente do Podemos, Renata Abreu, em São Paulo, para discutir a migração do ex-juiz.
— A discussão foi para chegar a esse momento de desprendimento. A Renata abriu essa possibilidade, se mostrou aberta e tem amadurecido a ideia. Nós estamos criando um ambiente de afinidade — afirmou o deputado Júnior Bozzella (PSL-SP), que atuou como intermediário para o encontro e é um dos vice-presidentes da sigla.