O presidente da Argentina, Mauricio Macri, anunciou nesta quarta-feira (14) um pacote de novas medidas em que veio trabalhando junto a sua equipe econômica nos últimos dias.
A ideia é minimizar a inflação que já se nota no comércio devido à desvalorização do peso e conter a disparada dos preços.
Entre as medidas está o congelamento do preço do combustível por 90 dias (o primeiro turno das eleições será em 73 dias), um aumento de 25% do salário mínimo (atualmente é de US$ 225, ou cerca de R$ 902) e aumento de 40% para os que recebem a bolsa “progresar” (progredir), voltada a estudantes, e para os que recebem a Asignación Universal por Hijo (uma espécie de bolsa-família criada durante o kirchnerismo).
Macri disse que, nos próximos dias, haverá anúncios de quanto será a redução de impostos para a população de baixa renda e sobre um plano para ajudar as pequenas e médias empresas que consistiria em reduzir suas obrigações junto à Afip (receita federal).
Por enquanto, o presidente afirmou que aumentará o piso do imposto de renda em 20%, abrindo caminho para um corte de impostos para dois milhões de trabalhadores.
“São medidas que trarão alívio para 17 milhões de trabalhadores e suas famílias”, disse Macri em uma mensagem gravada antes da abertura dos mercados. As mudanças custarão cerca de R$ 2,7 bilhões ao país, segundo o governo.
Macri e seu oponente, o candidato Alberto Fernández, conversaram por telefone nesta quarta-feira. O clima tenso entre os dois foi aliviado e, em seguida, Macri postou no Twitter que: Fernández prometeu colaborar em tudo o que for possível para que o processo eleitoral e a incerteza política gerada afetem a economia o mínimo possível”.
Pouco antes, o candidato havia dito que Macri deveria permanecer no governo “até o último dia”, e que o presidente teria a sua ajuda para assegurar que seu mandato não fosse questionado.
O anúncio das medidas foi feito pelo presidente após fazer uma mea culpa do tom adotado na última segunda-feira (12), um dia depois da derrota nas primárias.
Com outro semblante e sem mostrar a irritação daquele dia, disse com firmeza e tranquilidade que queria “pedir desculpas pelas expressões” que usou na ocasião.
Macri foi muito criticado por analistas e nas redes sociais por tentar assustar as pessoas com a ameaça kirchnerista e por sugerir que a culpa de que o dólar e as ações argentinas se descontrolassem era dos eleitores que votaram em Alberto Fernández.
“Quero que saibam que respeito profundamente a decisão dos argentinos”. E acrescentou: “Tive dúvidas de convocar a coletiva de segunda porque ainda estava muito impactado pelo resultado da eleição, estava sem dormir e estava triste. Mas volto aqui hoje para que tenham certeza de que eu os entendi”.
A vitória da oposição nas primárias fez a Bolsa de Buenos Aires despencar 37% na segunda e o peso argentino se desvalorizar 17%. Na terça-feira (13) a Bolsa se recuperou um pouco e subiu 10,76%, mas o peso voltou a perder valor. O dólar subiu 5% e atingiu nova máxima, de 55,65 pesos argentinos.
O candidato kirchnerista, Alberto Fernández, negou que avalia colaborar com o governo daqui até outubro.
“Eu sou apenas um candidato, o presidente é Macri, ele que se encarregue de resolver essa crise econômica que seu governo criou”. E acrescentou: “Não vou dialogar com ele, com Wall Street, com a CGT nem com os bancos. Quem tem de governar é Macri, que criou essa situação toda. Não sou nem mesmo o presidente eleito.”
Nesta quarta, após o anúncio de Macri das medidas emergenciais, a moeda argentina abriu em queda de 12,3%, a 61 pesos por dólar, marcando a terceira abertura consecutiva de grandes perdas. O peso fechou em queda de 4,29%, a 55,9 por dólar, na terça-feira, após atingir 59 no início do dia. A moeda registrou uma mínima histórica na segunda-feira, de 65 por dólar, uma queda de 30%.
Este é o terceiro dia consecutivo de grandes perdas no peso, devido às preocupações do mercado sobre a capacidade dos políticos de tirar a Argentina de outra rodada de recessão e inflação alta.
As vendas de mercadorias, que vão de carros a alimentos e produtos de beleza, diminuíram devido ao declínio do peso, já que os fornecedores têm retido os embarques enquanto tentam calcular como a moeda mais fraca afetará os preços ao consumidor.
O custo de garantia contra a exposição da dívida soberana da Argentina subiu mais 150 pontos-base nesta quarta-feira, com os investidores permanecendo afastados em meio ao colapso do mercado após as eleições preliminares.
Os credit default swaps (CDS), espécie de seguro contra calote da dívida do país, de cinco anos da Argentina estavam em 2.720 pontos básicos, acima dos 2.570 pontos de terça e bem mais que o dobro do fechamento de 1.017 de sexta-feira, antes das eleições primárias do fim de semana, segundo dados da IHS Markit.
As últimas estimativas da IHS Markit, baseadas no nível de fechamento dos CDS de terça-feira, precificam a probabilidade de um default soberano dentro dos próximos cinco anos de 78%.