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terça-feira 21 de novembro de 2023 às 18:15h

Os eleitores jovens que foram fundamentais para vitória de Javier Milei na Argentina

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Uma das muitas idiossincrasias de Javier Milei, o economista “libertário” que acaba de ser eleito o próximo presidente da Argentina, é que ele cita frequentemente textos religiosos, em particular do judaísmo, religião que estuda com um rabino.

“Eu não vim aqui para liderar cordeiros. Vim acordar leões” é, talvez, a sua frase mais conhecida.

Mas foi outra das suas referências bíblicas – que voltou a repetir no domingo (19/11), no seu primeiro discurso após a vitória eleitoral – que inspirou o nome com o qual batizou o grupo de militantes.

Um coletivo composto maioritariamente por jovens, que foi fundamental para a ascensão meteórica do libertário.

“O triunfo na guerra não vem do número de soldados, mas das forças que vêm do céu.”

Essa é uma citação do livro dos Macabeus, que se refere à revolta de um movimento de libertação judaica contra o exército de invasores gregos no ano 166 a.C..

Milei falou isso pela primeira vez em 2021, quando acabava de entrar na arena política ao se tornar deputado federal, em um bloco formado por apenas duas pessoas: ele e Victoria Villarruel, a advogada que será a vice-presidente dele a partir de 10 de dezembro.

Segundo explicou, isso foi uma resposta aos que questionavam o peso que o seu novo partido, La Libertad Avanza (LLA), teria no Congresso.

Mas os jovens liberais que seguiram Milei nas redes sociais com o mesmo fervor que despertam alguns líderes religiosos e celebridades sentiram-se identificados com a frase e espontaneamente passaram a se definir como “As Forças do Céu”.

Esses apoiadores ajudaram a popularizar o ex-comentarista de televisão, levando-o a atingir inesperados 17% dos votos na cidade de Buenos Aires.

“Tornou-se uma identidade, somos a força do céu, a militância. Seria como La Cámpora do kirchnerismo”, explicou ao jornal Clarín um dos apoiadores que ajudaram a fazer Milei viralizar.

O próprio economista repetiu o nome informal da sua tropa de apoiadores digitais.

“A que horas votam amanhã os membros das Forças do Céu?”, tuitou ele um dia antes das primárias de agosto que – contra todas as probabilidades – o consideraram o candidato mais popular.

Um ‘produto das redes’

“Javier (Milei) é o primeiro produto genuíno das redes sociais, nascido da viralização e dos cortes do WhatsApp. Ele é o primeiro a emergir deste novo paradigma político”, diz Yamil Santoro, líder do partido liberal Republicanos Unidos, em El Loco, a biografia de Milei, escrita pelo jornalista Juan Luis González.

“Os grandes vetores que antes poderiam ser os grupos econômicos ou os grandes meios de comunicação já não são o único fator determinante. Hoje, por meio das redes, você tem a possibilidade genuína de ter um relacionamento direto com o eleitorado”, afirmou.

Iñaki Gutiérrez, um influenciador de 22 anos que se tornou “gerente de comunidades” de Milei, explicou à correspondente da BBC Katy Watson como ele se tornou responsável pela estratégia digital do libertário.

“Conheci Milei pela minha namorada e me encontrei com ele para compartilhar a ideia que tive… de que a campanha do Brexit, no Reino Unido, e a do (ex-presidente Donald) Trump nos Estados Unidos, tinham sido realizadas pelo Facebook. E a de (Jair) Bolsonaro, no Brasil, foi por meio do Instagram”, observou.

“E me pareceu que a campanha na Argentina poderia ser pelo TikTok.”

Gutiérrez destacou a relevância que essas redes sociais tiveram para o sucesso do LLA, que deixou de ser um partido minoritário no Parlamento para liderar o governo no espaço de apenas dois anos.

“Foram muito importantes porque, quando se tem uma campanha com financiamento tão pequeno como a nossa, é importante aproveitar esse tipo de ferramenta que não custa nada e que, além disso, nos permite chegar a um grande número de pessoas”, afirmou.

“Os vídeos publicados no TikTok de Javier são vistos por 7 milhões, 10 milhões, 15 milhões de pessoas, então, você pode alcançar muita gente sem usar dinheiro.”

Jovens desencantados

Mas quem são os “soldados” que compõem as forças celestes de Milei?

O tiktoker destacou que se trata principalmente de pessoas com menos de 30 anos.

“Foram os jovens que criaram este movimento e o levaram ao governo”, disse Gutiérrez à BBC.

Segundo os consultores, a maioria dos que votaram em Milei nas primárias e no primeiro turno das eleições é de homens entre os 16 e os 29 anos, embora quatro em cada dez eleitores fossem mulheres.

Juan Luis González, que publicou neste ano a biografia não autorizada de Milei, observou que muitos dos jovens que o seguem se sentem excluídos das políticas progressistas dos últimos anos. Entre elas, estão a legalização do aborto e o movimento feminista e os direitos das mulheres e das minorias sexuais.

Muitos também ficaram muito irritados com o longo confinamento durante a pandemia do coronavírus – que durou mais de oito meses – ordenado pelo governo de Alberto Fernández , diz González.

Mas, acima de tudo, estão fartos dos “políticos de sempre” – “a casta”, como Milei os chama – que não conseguiu encontrar uma saída para a longa crise econômica que se arrasta há décadas e com uma inflação que raramente ficou abaixo dos dois dígitos e atualmente ultrapassa 140% em relação ao ano anterior.

Segundo o biógrafo de Milei, “ele deu esperança aos jovens que haviam perdido a esperança”.

Anárquico

O analista político Facundo Cruz, do Centro de Pesquisa para a Qualidade Democrática (Cicad), concorda com a eficácia do trabalho de Iñaki Gutiérrez e da militância do LLA.

“Os vídeos curtos do TikTok em que Milei simplesmente explica coisas tremendamente complexas são mensagens que ressoaram muito bem entre os jovens”, disse ele à BBC News Mundo, serviço de notícias em espanhol da BBC.

O cientista político destacou que a campanha digital das Forças do Céu foi fundamental para a vitória do candidato “anarcocapitalista”.

“Os espaços comunitários nas redes sociais tornaram-se suas unidades partidárias básicas”, afirmou.

“Eles viralizaram Milei e o nacionalizaram.”

No entanto, alertou que essa nova forma “semianárquica” de fazer política “a partir do indivíduo” tem seus problemas.

“Cada um milita por Milei, mas são poucos os processos de organização e coordenação. Cada um tem suas próprias agendas”, disse.

A falta de uma estrutura partidária tradicional pode complicar a capacidade de governar do LLA, observou.

“Um partido político dá estrutura e organização para que, quando for preciso tomar decisões, uma determinada diretriz seja seguida”, disse.

“Agora, vem o desafio de ver como o LLA vai funcionar organicamente, quem vai tomar as decisões, quais serão os papéis de autoridade.”

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