O presidente Donald Trump e o ex-vice presidente Joe Biden se enfrentam, nesta terça-feira (29), no primeiro debate da eleição americana. A CNN Brasil e a CNN americana irão transmitir simultaneamente o debate, a partir das 22 horas (horário de Brasília). Em parceria com a CNN Brasil, o portal UOL retransmitirá o evento.
O debate desta noite será dividido em 6 segmentos de 15 minutos cada. Aqui o que esperar de cada segmento:
1) O histórico de cada um
O candidato democrata Joe Biden deverá aproveitar a reportagem de domingo do jornal The New York Times, que retrata Donald Trump como um empresário sonegador, fracassado e endividado, para colocar em dúvida as credenciais do presidente como gestor. Sem experiência anterior de gestão pública, Trump usou em 2016 sua imagem de empresário bem-sucedido para se apresentar como a pessoa certa para administrar a economia americana.
Em contrapartida, Trump deverá argumentar, como fez há um mês na convenção republicana, que em 36 anos no Senado e 8 na vice-presidência, “Biden não fez nada”. Por que faria agora?
O processo de impeachment contra Trump aprovado pela maioria democrata na Câmara, do qual a maioria republicana no Senado o absolveu, coloca os dois candidatos em lados opostos da história.
Biden poderá dizer que Trump pressionou o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, a ordenar a investigação de seu filho, Hunter Biden, em troca da liberação de ajuda militar à Ucrânia, para prejudicar seu rival democrata — o motivo do impeachment. Já Trump pode acusar de corrupção Hunter, que participou do conselho de administração da petroleira ucraniana Barisma, e seu pai Joe Biden, que era vice-presidente na época.
Como se vê, o debate poderá pegar fogo já no primeiro bloco.
2) A Corte Suprema
Trump se apressa a nomear uma substituta na Suprema Corte para a juíza Ruth Bader Ginsburg, que morreu no dia 18. O presidente pretende ratificar no Senado o nome de sua escolhida, Amy Coney Barrett, poucas semanas antes das eleições do dia 3 de novembro. Em 2016, a maioria republicana no Senado bloqueou a sabatina do indicado pelo então presidente Barack Obama para uma vaga na Suprema Corte 8 meses antes das eleições, alegando que o correto seria esperar o resultado das urnas. Os republicanos argumentam que a situação é diferente, porque hoje tanto o presidente quanto a maioria do Senado são do mesmo partido.
Há muito em jogo para ambos os lados. Os direitos ao aborto, das minorias e dos imigrantes, assim como a manutenção do Obamacare, o sistema de saúde criado pelo governo democrata, dividem conservadores e liberais. A nomeação deixaria os conservadores com uma maioria de 6 a 3. A composição anterior, de 5 a 4, era instável, porque o presidente da Corte, John Roberts, considerado conservador, vota com os liberais em algumas ações, incluindo o direito ao aborto, como ocorreu no fim de junho, numa decisão sobre uma lei da Louisiana.
3) Covid-19
Biden responsabiliza Trump pelas 200 mil mortes e 7 milhões de casos de coronavírus, pela resposta lenta em relação aos testes, pela falta de incentivo para usar máscaras e pelas pressões em favor da reabertura da economia. O candidato democrata diz que, se eleito, seguirá as orientações dos infectologistas do governo, e defende restrições da circulação de pessoas nos lugares em que o número de casos esteja aumentando.
O presidente culpa a China pelo vírus e diz que, se não tivesse banido a entrada de chineses e europeus, mais de 1 milhão de americanos teriam morrido. Ele acusa o governo Obama de não ter preparado o país para o fornecimento de equipamentos de proteção pessoal, testes e respiradores, embora na sua gestão, em maio de 2018, tenha sido dissolvida uma unidade no Conselho de Segurança Nacional dedicada a pandemias. Trump diz que Biden imporia um lockdown em todo o país.
4) A economia
Trump afirma que em seu governo os Estados Unidos tiveram o maior índice de crescimento, o melhor desempenho na Bolsa e o menor desemprego da história. Esses dados são contestados, mas não há dúvida de que antes da pandemia o país vivia um excelente momento. As principais medidas que propulsionaram a atividade econômica foram simplificação e diminuição de impostos, principalmente para as grandes empresas, e desregulamentação de uma série de setores.
Foi o governo Obama que retirou os EUA da crise financeira de 2008/2009 e coube ao vice Biden negociar com o Congresso o pacote de resgate das empresas e das famílias, cujas hipotecas os bancos ameaçavam executar em massa. Biden propõe agora aumentar os impostos de grandes empresas e famílias ricas, cobrar mais das indústrias americanas que mantêm suas fábricas fora do país e oferecer incentivos fiscais para elas voltarem a produzir nos EUA.
5) Raça e violência nas cidades
Inspirado na campanha vitoriosa de Richard Nixon em 1968, em meio a protestos violentos por causa do assassinato do líder negro Martin Luther King, Trump se declara “o presidente da lei e da ordem”, na busca sobretudo do voto dos moradores dos subúrbios de classe média. O presidente aponta para a violência dos protestos nas cidades e nos estados administrados por democratas, afirma que eles têm planos de reduzir verbas da polícia, e diz que a “América de Biden” seria o caos.
Biden responde que não diminuiria as verbas, mas investiria no treinamento para os policiais adotarem táticas não-violentas. “Esta é a América de Trump”, rebate o candidato democrata, acusando o presidente de incitar a violência ao fazer declarações contra os manifestantes antirracismo e a favor das milícias armadas que invadem os protestos a pretexto de proteger a propriedade privada. Biden conta que decidiu se lançar à presidência depois da declaração de Trump de que havia “pessoas muito boas” entre os supremacistas brancos que participaram de uma marcha em Charlottesville, na Virgínia, em agosto de 2017.
Trump se considera “o melhor presidente para os afro-americanos desde Abraham Lincoln”, que liderou a luta contra a escravidão, por ter gerado empregos para os negros e destinado mais verbas para escolas e universidades frequentadas pela minoria. Na convenção republicana, eleitores negros e latinos defenderam Trump, mas a ênfase do presidente está nas preocupações dos brancos, que representam 76% da população americana, enquanto os negros são 13% e os latinos, 18,5%, segundo o censo de 2010.
6) A integridade do processo eleitoral
Estima-se que até metade dos votos será enviada pelo correio este ano, por causa da pandemia. Tradicionalmente os democratas votam mais pelo correio do que os republicanos. Os eleitores de mais baixa renda, que tendem ao voto democrata, têm mais dificuldade de comparecer numa seção eleitoral num dia normal de trabalho. Este ano os democratas, que levam mais em conta do que os republicanos a necessidade de distanciamento social, têm mais um incentivo para votar pelo correio.
Trump afirma que milhões de cédulas estão sendo enviadas para as casas dos eleitores sem terem sido solicitadas, que muitos poderão votar mais de uma vez — ele chegou a sugerir a seus eleitores que façam isso — e que a contagem dos votos poderá demorar semanas, meses ou até anos. O presidente tem se recusado a afirmar que aceitará uma eventual derrota. Biden argumenta que não há provas de que o voto pelo correio não seja seguro.
Esse tema acabou associado ao da Suprema Corte. Trump justificou assim sua pressa em preencher a cadeira vaga: “Com os milhões de cédulas não-solicitadas que estão mandando, é uma armação. Todo mundo sabe. E os democratas sabem melhor que todo mundo. Acho que isso vai acabar na Suprema Corte, e é muito importante termos nove juízes”.
É mais um aspecto que torna essa eleição inteiramente atípica. No debate desta noite, as Américas de Trump e de Biden se encontrarão pela primeira vez.