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sexta-feira 26 de agosto de 2022 às 08:57h

O ‘terremoto demográfico’ da Coreia do Sul, onde morrem mais pessoas do que nascem

MUNDO, NOTÍCIAS


A Coreia do Sul caminha para uma crise sem precedentes. A razão? Sua população não está crescendo no ritmo que deveria.

Em 2021, o país asiático voltou a registrar a menor taxa de natalidade do mundo: o Escritório Nacional de Estatística registrou o nascimento de 260.600 crianças, 11.800 a menos do que 2020.

Desde 2018, a taxa de natalidade na Coreia do Sul é inferior a um filho por mulher. Os últimos números oficiais mostram que essa tendência, longe de se reverter, deve se acentuar. Nos últimos 12 meses, as mulheres tiveram em média 0,81 filhos — um decréscimo pelo sexto ano consecutivo.

Essa queda na taxa de natalidade ameaça complicar os problemas que atravessa a economia do país, que mal cresce. Nas economias mais avançadas do mundo, o número médio de filhos por casal é de 1,6 — ou seja, duas vezes mais do que no país asiático. No Brasil, de 1,72.

As causas

Nos últimos anos, a pressão econômica e questões profissionais foram fundamentais na decisão de ter ou não filhos, dizem os especialistas.

Considerando dados de 2021, os analistas apontam para um custo de vida cada vez mais elevado, a subida dos preços de imóveis e o impacto da pandemia de coronavírus como fatores que desencorajam a população a ter filhos.

No caso específico das carreiras, as mulheres sul-coreanas têm uma ótima educação, explica o correspondente da BBC em Seul, Jean Mackenzie. Mas elas estão longe de ter alcançado igualdade de condições de trabalho em relação aos homens.

“O país tem a maior diferença salarial entre homens e mulheres de todos os países ricos”, diz Mackenzie.

Além disso, o fato de o trabalho doméstico e o cuidado com os filhos continuarem a recair mais sobre elas torna frequente a situação em que as mulheres param de trabalhar depois de ter filhos ou que suas carreiras estacionem.

Em essência, aponta o correspondente da BBC, muitas mulheres ainda são obrigadas a escolher entre ter uma carreira ou uma família. Cada vez mais, elas decidem pela primeira opção.

Como disse uma mulher ao jornalista, “estamos em greve de ter bebês”.

“Não tenho planos de ter um filho. Não quero sofrer a dor física de dar à luz ou minha carreira sendo prejudicada”, explicou a sul-coreana Jang Yun-hwa em entrevista à BBC em 2018.

“Prefiro viver sozinha e seguir meus sonhos do que fazer parte de uma família”, acrescentou a jovem na ocasião.

As consequências

Nas últimas seis décadas, as taxas de natalidade “diminuíram acentuadamente” nas mais avançadas economias, segundo dados da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).

Países como a Espanha também enfrentam problemas demográficos semelhantes, embora as ondas migratórias registradas nas últimas décadas, especialmente vindas da África e da América Latina, tenham atenuado seus efeitos.

No entanto, o caso da Coreia do Sul é particular porque o tamanho das famílias diminuiu consideravelmente em apenas algumas gerações. No início da década de 1970, as mulheres do país tinham em média quatro filhos.

Essa diminuição tem causado um envelhecimento da população e o consequente aumento da taxa de mortalidade.

Desde 2020, a Coreia do Sul viu sua população diminuir, pois o número de mortes está superando o de recém-nascidos. Só em maio deste ano, o país registrou 28.859 óbitos contra 20.007 nascimentos.

Especialistas alertam que a Coreia do Sul pode enfrentar um “terremoto demográfico” a partir de 2030, devido ao declínio e rápido envelhecimento de sua população. Eles sustentam que os países precisam de pelo menos dois filhos por casal — uma taxa de 2,1 — para manter a população no mesmo tamanho, não considerando a imigração.

A diminuição da população pode trazer muitos problemas econômicos. Por um lado, exige mais gastos públicos para responder ao aumento da demanda por sistemas de saúde e previdência e, por outro, o declínio da população jovem causa escassez de mão de obra.

Estudos do próprio governo sul-coreano citados pela agência Yonhap afirmam que, se a situação no país não for revertida, a população em idade ativa cairá 35% nos próximos 30 anos.

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