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Bolsonaro reuniu milhares de pessoas em ato convocado após avanço das investigações sobre a articulação de um golpe de Estado Foto: Tabata Benedicto/Estadão
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segunda-feira 26 de fevereiro de 2024 às 06:09h

O que o ato na Paulista diz sobre o espólio de Bolsonaro, as eleições de SP e o futuro da direita

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O ato em favor do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) realizado na Avenida Paulista, em São Paulo, neste domingo, 25, mostra apoio popular ao ex-mandatário, confere evidência a alguns aliados e projeta alguns outros no espectro político da direita. Analistas, no entanto, entendem que a manifestação pouco deve afetar o futuro de Bolsonaro. A partir das repercussões sobre a manifestação e de avaliações de políticos e de especialistas, é possível apontar lideranças que se beneficiaram mais e menos do ato. As informações são de  Samuel Lima e Vinícius Valfré, do Estadão.

Jair Bolsonaro

O ex-presidente conseguiu fazer uma demonstração de apoio popular, mas a pressão que sofre com as investigações o levaram a mudar por completo o tom que adotava quando ainda tinha mandato. Bolsonaro poupou o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), classificou a derrota eleitoral como “página virada”, clamou por uma anistia que poderia beneficiá-lo e viu aliados falarem abertamente na possibilidade de ele ser preso.

“Bolsonaro continua sendo capaz de mobilizar sua base política e promover manifestações populares. Cada lado do jogo vai valorizar sua interpretação do fato, mas é inegável que bastante gente foi até a Paulista apoiá-lo”, aponta o cientista político Felipe Nunes, presidente do instituto de pesquisas Quaest.

Para o cientista político Marco Antônio Teixeira, o evento não muda o futuro de Bolsonaro e somente “mostra o que já sabíamos, que ele tem capital político”. Como exemplo, ele cita o fato de o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a ex-presidente Dilma Rousseff, ambos do PT, também conseguirem mobilizar apoiadores durante investigações da Lava Jato e do processo de impeachment. As manifestações petistas não foram suficientes para reverter julgamentos desfavoráveis.

Silas Malafaia

Líder da Assembleia de Deus Vitória em Cristo, o pastor evangélico Silas Malafaia foi o responsável pelo mais duro discurso no ato político. Ele atacou Moraes, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e afirmou não ter medo de ser preso. A postura de Malafaia foi criticada por alguns bolsonaristas, mas ele sagrou-se uma referência política no campo da direita.

Organizador do ato, o líder religioso alimentou discursos que atenderam à bolha bolsonarista, como a que sugere uma “engenharia do mal” para prender o ex-presidente e um conluio do Judiciário para favorecer o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na eleição. “Todo mundo sabe como foi a eleição. Podiam chamar Bolsonaro de genocida, mas não podiam dizer que Lula é ex-presidiário”, declarou.

O cientista político Marco Antônio Teixeira avalia que o religioso “vira uma personalidade política” e sai como homem de absoluta confiança de Bolsonaro, o que pode gerar até ciúmes no entorno do político e nos filhos — Eduardo e Carlos sequer estiveram presentes no ato. “Se terá projeto político, não sei, mas com Bolsonaro fora tudo pode acontecer”, analisa.

Tarcísio de Freitas

No início do mês, o governador de São Paulo, Tarcísio Freitas, havia sido elogiado por Lula durante um evento com o presidente marcado por vaias ao governador. Dias depois, recebeu Bolsonaro no Palácio dos Bandeirantes e falou representando os governadores na manifestação na Avenida Paulista. Recebeu elogios de Bolsonaro e sinalizou fidelidade ao ex-presidente. “Eu não era ninguém, Bolsonaro apostou em mim”, declarou.

Tarcísio pareceu largar na frente na disputa pelo cobiçado espólio eleitoral de Bolsonaro, declarado inelegível por oito anos pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) por abuso de poder político e econômico ao atacar o sistema eleitoral em reunião com embaixadores. Também compareceram os governadores Jorginho Mello (PL-SC), Ronaldo Caiado (União-GO), Romeu Zema (Novo-MG).

Ricardo Nunes

O resultado do cálculo eleitoral do prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), ainda é incerto. Até então, a estratégia da campanha de Nunes à reeleição era se apresentar como um moderado para a disputa com o pré-candidato Guilherme Boulos (PSOL). O prefeito contrariou recomendação do partido e não apenas compareceu à Paulista como foi vestindo amarelo, cor que ganhou um peso político em manifestações.

Apesar do comparecimento, ele tentou ser discreto. Em cima do trio elétrico das principais lideranças, posicionou-se mais ao fundo, sem buscar forçar uma “foto” ao lado de Bolsonaro. Nunes tem agora sobre a mesa a decisão de aceitar ou não o indicado “linha dura” de Bolsonaro para ser seu vice em outubro.

Nikolas Ferreira

Se o bolsonarismo costumava se ancorar antes em políticos como Carla Zambelli (PL-SP), a lista de aliados com acesso ao microfone pode ter sinalizado que uma “nova geração” bolsonarista com mandato ganhou prioridade na fila, como os ex-youtubers Nikolas Ferreira (PL-MG) e Gustavo Gayer (PL-GO).

Deputado mais votado do País nas eleições de 2022, Nikolas Ferreira (PL-MG) optou por falar de “futuro”, sem alimentar brigas com ministros do STF. “A hora mais escura antecede o amanhecer. Talvez não hoje, talvez não amanhã, mas um dia veremos um presidente de direita retornar à Presidência do nosso país”, disse.

Bolsonarismo

A avaliação do ato feita por alguns dos principais aliados de Jair Bolsonaro no Congresso foi a de que a manifestação foi positiva ao bolsonarismo. A adesão popular e a volta de políticos da direita às ruas depois de meses amargando reveses e aparecendo como alvos de operações da Polícia Federal ajudaram a alavancar a significado político do protesto, segundo parlamentares em São Paulo.

O deputado Carlos Jordy (PL) considerou que o ato teve o papel de “desacuar” bolsonaristas. O parlamentar foi um dos alvos da 24ª fase da Operação Lesa Pátria, que apura organização e financiamento dos atos de 8 de Janeiro de 2023.

“Estávamos acuados com tudo isso que está acontecendo, todas essas perseguições. E agora estamos voltando às ruas, mostrando que não vamos ficar calados nem aceitar tudo isso que está acontecendo, essa tirania de um Poder que deveria ser o guardião da Constituição”, disse.

Eleições 2024 e 2026

A manifestação também sinalizou que Jair Bolsonaro pretende usar seu capital político nas eleições de 2024, quando serão eleitos vereadores e prefeitos, e também nas disputas gerais de 2026.

“Em 2024, teremos eleições municipais. Vamos caprichar nos votos, em especial para vereadores. E também para prefeitos. E nos preparemos para 2026. O futuro a Deus pertence. Sabemos o que deve ser feito no futuro para que o Brasil tenha um presidente que tenha Deus no coração, ame a sua bandeira, cante o hino nacional e que ame de verdade o seu povo”, disse.

Em outra referência ao futuro, o ex-presidente, inelegível, reclamou de retirada de políticos das disputas por decisões judiciais. “Não podemos concordar que um Poder tire do palco político quem quer que seja, a não ser por um motivo extremamente justo”, afirmou.

O ato na Paulista também evidenciou pré-candidatos das eleições municipais no interior de São Paulo e de outros estados. As caravanas pró-Bolsonaro, por exemplo, serviram como propaganda de políticos do interior do Brasil.

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