O Brasil realizará as eleições presidenciais mais polarizadas em décadas no próximo mês, com muitos esperando que o presidente Jair Bolsonaro (PL) conteste o resultado caso seja derrotado pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), como sugerem as pesquisas.
Votação Eletrônica
O Brasil adotou as urnas eletrônicas em 1996 para acabar com a fraude generalizada envolvendo cédulas de papel. Depois de ser eleito para cargos políticos em várias eleições que usaram o sistema de votação atual, Bolsonaro aumentou suas críticas no ano passado, quando pesquisas de opinião apontavam para sua derrota na tentativa de reeleição.
Ele tem afirmado repetidamente que as urnas eletrônicas estão sujeitas a adulterações, mas não apresentou nenhuma evidência de fraude.
Bolsonaro também tem atacado ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) que atuam no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) por defenderem o sistema eletrônico e alegado que eles poderiam manipulá-lo para favorecer Lula.
Especialistas em votação internacional e autoridades eleitorais dizem que a tecnologia é segura, sem havendo casos de fraude detectados.
Trilha de Papel Fino
Ainda assim, alguns especialistas em eleições dizem que a falta de um registro em papel para cada voto limita as oportunidades de realizar auditorias se a eleição for contestada.
Os eleitores depositam suas escolhas em 477 mil urnas eletrônicas em todo o Brasil. Um recibo em papel do total de cada máquina é assinado por autoridades e exibido publicamente em cada local de votação.
Os resultados digitais de cada máquina são colocados em pendrives e enviados via conexão segura para os Tribunais Regionais Eleitorais (TREs) e dali são transmitidos para o TSE em Brasília.
No ano passado, o Congresso rejeitou a proposta de Bolsonaro de reintroduzir um registro em papel para cada voto.
Modelo Trump
Alguns dos apoiadores de Bolsonaro no ano passado tentaram ocupar o STF, inspirados pelo ataque de 2021 ao Capitólio dos Estados Unidos por apoiadores do ex-presidente Donald Trump.
Bolsonaro ecoou as alegações de fraude sem fundamentos de Trump após a eleição de 2020 nos EUA, e ele foi um dos últimos líderes mundiais a reconhecer a vitória do presidente Joe Biden.
Muitos observadores temem que Bolsonaro possa adotar uma abordagem semelhante se perder no próximo mês.
“Meu exército”
Bolsonaro, ex-capitão do Exército, aumentou as tensões institucionais ao buscar romper as separações entre o governo e as Forças Armadas. Ele se referiu aos militares várias vezes como “meu Exército”.
Bolsonaro também entregou um número recorde de cargos a atuais e ex-oficiais das Forças Armadas em seu governo, incluindo posições importantes em seu gabinete.
No entanto, os líderes das Forças Armadas oferecem garantias privadas a ex-companheiros de que não querem participar da ruptura da ordem democrática, de acordo com meia dúzia de ex-oficiais com laços estreitos com a liderança militar.
Analistas políticos e de defesa concordam amplamente que os militares perderam o apetite pela política após a ditadura entre 1964 e 1985 que corroeu o prestígio das Forças Armadas.
Ao contrário do golpe militar de 1964, as elites empresariais brasileiras, as igrejas e a grande mídia não estão pedindo intervenção política das Forças Armadas.
Observadores estrangeiros
Preparando-se para problemas, as autoridades eleitorais convidaram um número recorde de organizações estrangeiras para enviar missões de observação e garantir a integridade das eleições.
Pela primeira vez, duas organizações sediadas nos EUA, a Fundação Internacional para Sistemas Eleitorais (Ifes, na sigla em inglês), um grupo apartidário e sem fins lucrativos, e o Carter Center, uma organização sem fins lucrativos criada pelo ex-presidente Jimmy Carter, estão enviando missões de observação das eleições no Brasil.
O Carter Center disse que sua missão de especialistas eleitorais avaliará a transparência e o funcionamento do sistema de votação eletrônica, mas não inspecionará a tecnologia nem fornecerá uma avaliação geral dos processos de contagem.
O TSE também convidou a União Europeia a enviar observadores eleitorais, mas o governo Bolsonaro vetou a proposta.