O presidente Lula cumpria agenda em Araraquara (SP) no dia 8 de janeiro e voltou às pressas à capital federal após as sedes dos três poderes serem invadidas e depredadas por vândalos que não aceitavam o resultado das eleições. Logo ao pousar, ainda no aeroporto, o presidente foi recepcionado pelo ministro da Defesa, José Múcio, que ouviu de um nervoso e irritado Lula a determinação para prender todos aqueles que estavam acampados em frente ao Quartel-General do Exército, de onde saíram os manifestantes para, de acordo com o governo, iniciar uma frustrada tentativa de golpe. Dias antes, o ministro da Defesa havia dito que o local era “democrático”.
Antes de buscar o presidente no aeroporto, Múcio esteve no Comando Militar do Planalto (CMP) e em reuniões com ministros, entre os quais o da Justiça, Flávio Dino. No entanto, o chefe da Defesa não estava presente no ápice da tensão envolvendo militares e o governo, o que gerou contrariedade em Lula.
Como mostrou reportagem da revista Veja, os militares resistiam a cumprir a ordem de desmobilizar o acampamento naquela noite alegando riscos de violência e morte. O impasse só foi solucionado após uma conversa por telefone entre o general Gustavo Dutra, que à época chefiava o CMP, e o presidente da República, que concordou em retirar os manifestantes apenas no dia seguinte.
Antes de terminar a ligação com o general, Lula perguntou: “O Múcio está aí?”. Diante da negativa, demonstrou irritação: “Deveria estar”. E desligou o telefone.
Cerca de 20 minutos depois, o ministro da Defesa chegou ao Comando Militar do Planalto. Ele estava acompanhado dos ministros Rui Costa, da Casa Civil, e Flávio Dino, da Justiça. Reuniões que se estenderam até o início da madrugada definiram o plano para a retirada do agrupamento na segunda-feira.
Depois desse episódio, o ministro da Defesa passou a sofrer um processo de fritura dentro do próprio PT. Como mostrou reportagem da revista Veja, Múcio chegou a receber uma proposta de uma “saída honrosa” para assumir o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), hoje comandado pelo vice-presidente Geraldo Alckmin, que o substituiria na chefia militar.