Pode parecer uma obviedade, mas para o economista-chefe do Banco ABC Brasil, Luís Otávio de Souza Leal, mesmo diante da instabilidade política que abala países vizinhos e da implosão do próprio partido, o PSL, pelo presidente Jair Bolsonaro, “o maior risco para o crescimento do Brasil é o Brasil não crescer”. Isso porque, na avaliação dele, esse é apenas mais um dos muitos riscos políticos do País. O que significa dizer que se a economia crescer, os danos serão diminuídos.
A questão é saber se o desempenho da economia na virada de 2019 será suficiente para o País entrar 2020 em um círculo virtuoso, no qual o crescimento vai gerar um ambiente propicio para manter o Congresso no rumo das reformas, atraindo investimentos. Ou se vai descambar para o círculo vicioso no qual a manutenção do baixo crescimento será terreno fértil para a proliferação de soluções heterodoxas, afugentando os investimentos e aumentando ainda mais a ansiedade da classe política.
“Pela nossa experiência pregressa, já sabemos o resultado disso tudo. Mas não custa lembrar a frase do jornalista americano Henry Louis Mencken de que ‘para todo o problema complexo, temos uma solução simples, elegante e… completamente errada!’”, escreveu o economista em relatório enviado a clientes neste fim de semana. Ou seja, sem crescimento, continua ele, “corremos o risco de ver as Reformas pararem no Congresso, as medidas populistas florescerem e os investimentos externos minguarem”.
De acordo com Leal, porém, a chance de o cenário mais favorável prevalecer é alta. Ele recorre ao Índice de Atividade do Banco Central (IBC-Br) de setembro, divulgado na última quinta-feira, 14. O indicador, uma espécie de prévia do PIB, avançou 0,44%, mostrando elevação de 0,37 ponto porcentual sobre agosto. A alta foi de 0,05 ponto sobre a mediana de 0,39% dos analistas do mercado financeiro apuradas e publicados pelo Projeções Broadcast, ficando próximo do 0,47% esperado pelo ABC Brasil, que projeta 0,91% de alta para o terceiro trimestre.
“Usando esse número (de setembro) nos nossos modelos de projeção do PIB do IBGE para o mesmo período, chegamos a um resultado entre 0,5% e 0,6%, o que seria uma aceleração com relação aos 0,4% do 2º trimestre”, diz o economista.
Como o impacto da liberação do FGTS vai se concentrar no 4º trimestre, Leal diz esperar uma intensificação do movimento com crescimento de mais de 1% nos últimos três meses do ano. Ele projeta a expansão do crescimento em 2019 de 1,2%.
“Indo além, com essa composição de crescimento no 2º semestre, teremos um carrego estatístico de 1,2 ponto porcentual para 2020. Ou seja, apenas com essa inércia positiva já teríamos um crescimento igual ao de 2019. Isso nos dá mais segurança em projetar o PIB para ano que vem em 2,5% e acreditar que a mediana do mercado, atualmente em 2,08% pelo Boletim Focus, vá se elevar, principalmente após a divulgação do PIB do 3º trimestre no dia 3 de dezembro”.
Neste sentido, de acordo com o chefe do Departamento Econômico do ABC Brasil, o ambiente externo mais desafiador, com os problemas ocorrendo no “quintal” do País, só reforça a necessidade de crescer e fazer as Reformas. “Sem crescer não teremos apoio político para fazer as Reformas e sem elas não temos como fugir do cenário de voo de galinha para o crescimento”, afirma o economista.
Por Francisco Carlos de Assis