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quinta-feira 5 de janeiro de 2023 às 08:10h

O histórico caos na Câmara dos Deputados dos EUA após fracasso republicano em eleger presidente da Casa

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Uma crise política nos Estados Unidos inédita em mais de um século está impedindo que a Câmara dos Deputados escolha a presidência da Casa, em meio a uma profunda divisão dentro do Partido Republicano, que controla a maioria.

Após duas sessões legislativas tensas, na última terça (3) e quarta-feira (4), o deputado republicano Kevin McCarthy, da Califórnia, não obteve votos necessários em seis rodadas de votação na sua tentativa de ganhar a presidência da Câmara.

Na noite de quarta-feira, depois de um recesso para tentar resolver o impasse, a Câmara votou pelo adiamento da votação novamente, desta vez para esta quinta-feira (05/01) ao meio-dia. A mesma coisa já havia acontecido na terça-feira.

O Partido Republicano e os EUA estão mergulhados no caos e na incerteza política. O novo Congresso foi eleito em novembro do ano passado e marca a retomada, pelo partido de oposição de Joe Biden, da maioria na Câmara dos Representantes.

No entanto, o candidato republicano Kevin McCarthy enfrentou uma rebelião dentro de seu próprio partido. Esta é a primeira vez em um século que um candidato à presidência da Câmara dos Deputados não consegue os votos necessários para se eleger ao cargo.

McCarthy segue como candidato por enquanto, embora não esteja claro como ele convencerá os 20 rebeldes republicanos que votaram contra ele a apoiá-lo.

“Insistiremos até vencermos”, disse McCarthy a repórteres antes da terceira votação na terça-feira, recusando-se a desistir.

Apesar do apoio do próprio ex-presidente Donald Trump, que pediu a seus colegas legisladores que votassem no deputado californiano, McCarthy perdeu em todas as rodadas.

Os republicanos rebeldes se recusam a indicar outro candidato para disputar a Presidência da Câmara no lugar de McCarthy.

McCarthy só pode perder quatro votos na Câmara, já que precisa do apoio de 218 dos 222 republicanos na Casa. Todos os 212 democratas votaram em seu líder partidário na Câmara, o deputado Hakeem Jeffries, de Nova York.

Ele enfrenta oposição de republicanos de extrema-direita, que se opõem à sua presidência por razões ideológicas e pessoais, e passaram semanas negociando concessões, como mudanças no procedimento para se remover o presidente da Câmara.

O grupo rebelde é liderado pelo republicano Andy Biggs (Arizona), que se apresentou como alternativa, e Matt Gaetz (Flórida), que passou grande parte do último mandato sob ameaça de uma investigação federal. O deputado republicano Bob Good disse que os membros de seu partido que se opõem a McCarthy “nunca recuarão”.

“Quanto mais cedo McCarthy desistir, melhor será para o país”, disse.

Resumindo a frustração com McCarthy, o popular comentarista de direita da Fox News, Tucker Carlson, disse: “McCarthy não é especialmente conservador. Ele é ideologicamente agnóstico. Seu verdadeiro eleitorado é a comunidade de lobby em Washington. Isso é enfurecedor para quem tem convicções políticas sinceras”.

Confira abaixo o que pode acontecer agora com a crise política:

1. Kevin McCarthy vence

A estratégia de Kevin McCarthy parece ser a de tentar desgastar seus rivais. Seus partidários continuarão indicando seu nome até que os oposicionistas se cansem de votar contra ele.

Se McCarthy for capaz de costurar algum tipo de acordo, ele terá de oferecer mais poder e influência a seus oponentes.

Mas quaisquer concessões acabarão por enfraquecer seu poder, tornando mais provável que ele venha a ser destituído da Presidência ao longo do ano, quando são travadas as discussões mais duras — sobre o orçamento e o aumento do teto da dívida.

McCarthy também pode esperar que os democratas se cansem da disputa e parem de comparecer às votações, diminuindo a margem necessária para que ele obtenha a maioria. Até agora, no entanto, os democratas parecem estar gostando de ver o caos republicano.

Alguns republicanos — como Ken Buck, do Colorado — estão insinuando que McCarthy deveria renunciar em favor de um candidato alternativo, como seu vice, Steve Scalise, da Louisiana.

2. Kevin McCarthy desiste

Após dois dias de derrotas, é possível que McCarthy desista. A desistência pode partir dos próprios republicanos que apoiam McCarthy.

“Estamos começando a ter algum conflito aberto no plenário e a portas fechadas”, disse Buck, que votou em McCarthy em todas as seis rodadas. “Temos que escolher um presidente e seguir em frente.”

Scalise talvez seja a escolha mais aceitável tanto para os conservadores da linha dura quanto para o resto dos republicanos da Câmara. Ele é considerado um conservador ferrenho e literalmente sangrou pelo partido, tendo sido gravemente ferido no ataque a tiros contra deputados republicanos durante um treino de beisebol em 2017. O maior obstáculo no momento é que ele não parece querer o cargo.

Outras possibilidades incluem o congressista Jim Jordan, de Ohio, e Jim Banks, de Indiana, chefe do Comitê de Estudos Republicanos. Mas nenhum dos dois parece ser capaz de unificar o partido. Byron Donalds, da Flórida, foi indicado pelos republicanos rebeldes três vezes na quarta-feira, mas o congressista novato não tem sido levado a sério pela maioria.

3. Os dois lados optam por outro nome

Democratas e republicanos na Câmara dos Representantes do Estado de Ohio se uniram na terça-feira para rejeitar um presidente da Casa mais conservador e eleger um candidato moderado. Isso também poderia acontecer na Câmara dos Deputados dos EUA?

Esse tipo de especulação começou a surgir nos últimos dias, diante do impasse político.

Don Bacon, um republicano de centro de Nebraska, já havia expressado a vontade de trabalhar com os democratas para achar um nome de consenso, caso McCarthy não consiga se eleger.

Fred Upton, um ex-congressista republicano de Michigan moderado, se apresentou como uma escolha da coalizão (não há exigência de que o presidente tenha que ser um membro atual do Congresso). E os democratas têm recebido sinalizações de vantagens para ajudar a resolver a crise — como mudanças em regras que lhes permitiriam apresentar projetos de lei ou mais poder nas comissões.

Tudo isso exigiria que um número considerável de democratas concordasse com o plano, o que no ambiente fortemente polarizado de hoje parece extremamente improvável. E qualquer republicano que trabalhe com os democratas será considerado instantaneamente persona non grata entre a maioria dos conservadores.

Mas dado que a Casa já chegou a este momento inédito na sua história, nenhuma opção é descartada por ora.

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