Um estudo do Observatório de Favelas mostra que entre janeiro de 2021 e junho de 2022 um político foi assassinado a cada 45 dias na Baixada Fluminense. Durante este mesmo período foram mapeados também 31 casos de violência política. O levantamento incluiu também a Baía da Ilha Grande.
Do total de ocorrências, 23 foram praticadas com o uso de armas de fogo e 12 foram execuções sumária, todas na Baixada. As demais foram: atentados contra a vida, ameaça, invasão de espaço político, depredação de espaço político, violência política de gênero, e disparo de arma letal contra manifestação política no período. O município líder em número de casos foi Duque de Caxias, que contabilizou dez ataques, seguido por Nilópolis, com quatro ocorrências. Logo atrás vêm as cidades de Nova Iguaçu, São João de Meriti e Itaguaí.
André Rodrigues, coordenador do estudo e pesquisador da Universidade Federal Fluminense (UFF), explica que houve um aumento do número de ocorrências em relação à pesquisa anterior. A média de políticos mortos na Baixada era de um a cada 50 dias em um período de cinco anos de estudo. Esse aumento é atribuído, em parte, ao avanço das milícias na região.
– Tem vários fatores, sendo que o principal é o uso do poder de matar no cotidiano da Baixada. É algo recorrente há alguns anos, mas houve um acirramento nos últimos. A expansão das milícias por toda a região tem influência direta, até porque o modus operandi, principalmente nos casos de execução, é próprio das práticas milicianas.
A pesquisa aponta também que, entre as vítimas das execuções, há uma incidência maior de integrantes de partidos de direita, embora nenhuma sigla específica tenha concentrado casos de morte.
– Há uma representação maior de partidos de direita, embora não haja concentração numa sigla específica. A maior parte das vítimas são membros das elites políticas da Baixada – completou.
Outro fator destacado é o aumento de casos de violência contra as mulheres. Entre as entrevistadas, houve relatos de agressões físicas e verbais, ameaças, intimidações, violência institucional e violência política de gênero e raça, que atingem principalmente mulheres negras na política.
O estudo foi desenvolvido por pesquisadores do Observatório de Favelas, da Universidade Federal Fluminense (UFF), da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e da Universidade Witwatersrand (WITS), da África do Sul, com apoio da Fundação Heinrich Boll e da Open Society Foundations. A metodologia utilizada foi de levantamento de casos de violência política em jornais, pesquisas complementares na internet, entrevistas e monitoramento e análise das mídias sociais de políticos que atuam na área da segurança pública nas regiões estudadas. Os pesquisadores analisaram casos de violência cometidos contra políticos e ativistas.