Um manifesto foi criado a seis mãos para explicar o significado de Heristoria, palavra que não existe em nenhum dicionário e que foi escolhida para nomear um e-commerce muito exclusivo: o de peças históricas do conglomerado de luxo LVMH. Criado com a fusão das marcas Louis Vuitton, Moët e Henessy, o grupo controlado pelo francês Bernard Arnault fez dele o homem mais rico do mundo, com uma fortuna avaliada em US$ 209,2 bilhões pela revista Forbes. Seu império inclui dezenas de grifes nos segmentos de moda (entre as quais Dior, Fendi, Givenchy, Kenzo e Marc Jacobs), joalheria (Bvlgari, Hublot, TAG Heuer e Tiffany & Co), perfumaria (Acqua di Parma, Guerlain), bebidas (Dom Perignon, Krug, Veuve Clicquot, Château Cheval Blanc), redes de hotéis e de fretamento de iates. Algumas dessas marcas foram criadas há séculos e acumularam mais que tradição e prestígio. Das principais maisons unidas na sigla LVMH saíram objetos únicos que se tornaram cultuados. Reuni-los em uma mesma plataforma e colocá-los ao alcance do consumidor é o propósito do site Heristoria.
Segundo seus idealizadores, trata-se de um neologismo que combina sílabas de heritage e storia. A primeira, usada tanto em francês (com acento agudo no primeiro e) quanto em inglês, significa herança, legado, patrimônio. Storia, por sua vez, é uma referência ao que o trio por trás da iniciativa define como uma paixão por compartilhar histórias. “A história consiste na continuidade e no diálogo entre as épocas, e o Heristoria se assenta nos três pilares da vida: o passado, o presente e o futuro”, afirma o manifesto. “O que poderia ser mais volátil do que uma memória emergindo do passado? O que poderia ser mais precioso do que revivê-la no presente e levá-la para o futuro?”, questiona o texto. A resposta está na coleção de 29 objetos únicos que representam 21 grifes do grupo, cobrindo as décadas de 1900 a 2010.
A curadoria coube a três executivos da LVMH: Gérosine Henriot, que controlava as finanças da Bvlgari na França, Laurence Mayer, ex-gerente de desenvolvimento de varejo da Louis Vuitton, e Nicolas Forge, responsável pela transformação digital da holding. Juntos eles desenvolveram para o homem mais rico do mundo um ecossistema que irá torná-lo ainda mais rico. Pois acima da receita que poderá ser obtida com a venda de cada peça, o que Heristoria tem de genial é contar as histórias das marcas de uma forma lúdica, criativa, e que tende a formar novos apaixonados por cada grife.
ART NOVEAU
O site é dividido por décadas e para cada uma há um prefácio que contextualiza o momento histórico. O capítulo dedicado a 1900 abre com os seguintes dizeres: “O Art Nouveau define-se pela sua criatividade, seu ritmo e cores, seus ornamentos inspirados nas formas da natureza: árvores, flores, insetos…”. A primeira peça à venda é o perfume Guerlain Mouchoir de Monsieur (lenço de cavalheiro) Fragrance. O preço: 800 euros. Ao clicar sobre a imagem, aparecem detalhes que vão desde a empresa responsável pela elaboração do frasco em forma de caracol até as novidades da grife para o verão de 2023. Há uma linha do tempo com a história da maison e um depoimento de sua atual diretora de arte e cultura. Uma verdadeira aula, como ocorre em todos os itens à venda.
Saltando para 2010 — e para o segmento de bebidas—, uma das 700 garrafas do uísque Glenmorangie Pride 1978 (a de número 29) está à venda por 8 mil euros. Mesmo para quem não atingiu a idade legal para ser o proprietário da raridade, o site oferece, de graça, a história da destilaria fundada na Escócia em 1843. Além de fotografias históricas, há algumas palavras do responsável pelos uísques da Glenmorangie, o head of distilling Dr. Lumsden.
Multibilionário, Bernard Arnault poderia guardar para si, ou em suas empresas, tudo o que está à venda no Heristoria. Permitir que qualquer pessoa tenha acesso às raridades é uma forma de compartilhar não só as histórias como também uma parte do que de melhor a indústria do luxo produziu até hoje.