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Joaquim Barbosa na estreia da nova temporada do "Conversa com Bial" Imagem: Reprodução/TV Globo
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terça-feira 8 de março de 2022 às 05:52h

‘O Brasil é um país estagnado, milhões no desamparo absoluto’, diz Joaquim Barbosa

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Joaquim Barbosa, ex-presidente e ex-ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), criticou a relação passada do pré-candidato a Presidência da República, Sérgio Moro (Podemos) com o presidente Jair Bolsonaro (PL).

“O pecado dele foi confiar em Jair Bolsonaro, entrar para esse governo”, afirmou o ex-ministro hoje, durante entrevista no “Conversa com Bial” (TV Globo), quando perguntado pelo apresentador se o erro de Moro foi não ser tão transparente quanto Barbosa foi no julgamento do Mensalão.

Barbosa ressaltou ainda que tanto Moro quanto Lula precisam ficar atentos.

“Eu disse isso ao Moro, que ele corre risco de vida. O Brasil de hoje é muito mais violento que o de 4, 8 anos atrás”, completou, comentando a explosão de uma fábrica durante uma visita do ex-juiz.

Barbosa seguiu com suas críticas ao presidente da república, quando questionado sobre seu voto nas eleições de 2022.

“Ainda não formei minha opinião, mas com certeza, jamais votaria em Jair Bolsonaro”, declarou, classificando o governo como desastroso. “O Brasil é um país estagnado, milhões e milhões de pessoas no desamparo absoluto, nós temos uma juventude que vive em total desassossego. E eu não vejo o governo preocupado com esse tipo de coisa”.

No programa, Barbosa também falou sobre o racismo que enfrentou durante sua trajetória.

Eleições de 2018

Joaquim Barbosa explicou ainda porque desistiu de ser candidato à presidência em 2018.

“Eu me filiei no último dia e um mês depois eu desisti. Eu tinha dúvidas se valia ou não a pena entrar nessa guerra e não quis prolongar o mistério, criar um impasse”, declarou.

O ex-presidente do STF deixou claro, contudo, que não acredita ter valores e temperamentos incompatíveis com a política.

“Eu acho que, para começar, se é verdade que eu nunca tive militância política e eu nunca tive, eu posso dizer a você que no âmbito profissional que eu sempre trafeguei, sou uma das pessoas que mais conhece política. Mas uma coisa é conhecer, outra é se lançar na arena”.

Barbosa respondeu ainda sobre a possibilidade de se candidatar em 2022, caso veja a reeleição de Bolsonaro como algo certo de acontecer.

“Em princípio sim, mas o prazo está muito curto e não tenho mais filiação partidária. Não procurei nenhum partido, estou tocando minha vida. Essa decisão teria que ser tomada até o começo de abril. Não sei se tem partidos por aí que querem uma pessoa tão ranzinza como eu”, completou, aos risos.

Ao final da entrevista, ele fez um apelo ainda aos jovens que votarão em 2022: “Seu voto pode ser determinante para a sequência da sua vida. Votar é crucial para essas gerações”.

Possível governo Barbosa

Questionado pelo apresentador, o ministro declarou que, em um eventual governo, teria pilares na social-democracia, falando ainda sobre os atuais partidos ditos sociais democratas.

“PSDB é meio embromador, o PT em certos aspectos, no primeiro governo Lula, havia uma ambiência social-democrata, mas a partir do momento que outros assuntos entraram em jogo, mudou”, contou.

Barbosa disse que tentaria alguma ação pedagógica no sentido de mostrar ao Brasil qual é a verdadeira natureza do seu regime econômico e que a questão social terá que ser prioritária na sua agenda.

Julgamento do Mensalão

O ministro relembrou ainda seus tempos de STF e o julgamento do Mensalão.

“Esse é um momento de ruptura absoluto na história do Brasil pelo seu lado simbólico, pelas suas dimensões. As pessoas não têm noção do que foi aquilo. Passei 11 anos no STF julgando milhares de assuntos e concomitantemente cuidando dessa ação”, contou.

Barbosa, contudo, nega ter sofrido pressão durante o processo.

“Sofria pressão nenhuma, não dava bola. Fazia meu trabalho, estava ali no meu canto, cumpria meu dever. Tinha prática social quase nula, minha vida social era um ciclo pequeno de amigos que eu já tinha”, declarou.

O ex-ministro disse ainda não ter se iludido que o Brasil mudaria após esse julgamento. “O país vive de ilusões. O Brasil gosta de se iludir.”

STF progressista

Outro ponto levantado na entrevista foi as pautas progressistas que avançaram no STF em sua época, como o uso de células tronco e a união estável entre pessoas do mesmo sexo.

“Havia um grupo de ministros abertamente progressistas ou pendente a aderir as causas. Nós nem víamos como progressistas, víamos como obrigação nossa”, declarou, reforçando que nenhuma decisão foi tomada por ativismo político.

“O Supremo só toma decisões quando provocado. Ele não sai por aí procurando problemas sociais para decidir”, ressaltou, reforçando que todas as decisões foram tomadas com base na constituição.

Barbosa declarou ainda que uma parcela da sociedade reagia a tais decisões por causa de uma “letargia social” e um “conservadorismo insuportável”.

“O poder tem que ser temporário, sobretudo poder em altíssimo nível”, ressaltou ainda.

O ex-ministro explicou também a Bial porque há mudanças no entendimento do STF entre os anos quanto a processos julgados. “Mudança da composição. Mudança das pessoas leva a mudança das orientações e dos pontos de vista”.

Momento marcante

Joaquim Barbosa revelou ainda que não gosta de estar no palco e sob atenção.

“Não, tenho muita dificuldade”, destacou, contando a Bial que, no dia em que Lula anunciou sua nomeação ao STF, foi o “momento mais apavorante” para ele. “Até então, não conhecia as luzes da TV e subitamente me vi sob centenas de câmeras, aquele pipocar me deixava apavorado. Com o tempo fui aprendendo”.

Trajetória

Barbosa atuou como ministro do Supremo de 2003 a 2014, presidindo o STF de 2012 até 2014 e ganhando destaque internacional em 2013, sendo eleito pela Revista Time como uma das 100 pessoas mais influentes do mundo.

O ex-presidente do STF se filiou ao PSB em 2018 e permaneceu no partido até este ano. Barbosa atualmente mantém conversas com empresários, economistas e políticos para avaliar uma eventual candidatura ao Palácio do Planalto.

Ainda sem sigla, ele é cobiçado pelo PSD e o União Brasil, fusão do Democratas com o PSL.

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