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Lula e o presidente da Câmara, Arthur Lira/09.11.2022 Cristiano Mariz/O Globo
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quarta-feira 31 de janeiro de 2024 às 10:43h

O baile de máscaras de Lula e Lira no pré-carnaval

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Sempre falta animação no pré-carnaval de Brasília. Mas não neste ano. Na política, pelo menos, há grande agitação em torno da volta dos trabalhos do Congresso. A grande dúvida é como estarão as relações entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o deputado Arthur Lira (PP-AL), presidente da Câmara, depois dos vetos às propostas que ampliam o poder dos parlamentares na gestão dos recursos do Orçamento.

Por parte do Palácio do Planalto, a expectativa de auxiliares diretos de Lula é que o presidente da Câmara passe a adotar o que, na visão deles, seria um posicionamento menos ambíguo. Já pelo lado das lideranças do Centrão, espera-se que o governo passe a cumprir com mais rapidez os acordos fechados. Torcem para que a situação da Funasa, a Fundação Nacional da Saúde, seja resolvida antes da quarta-feira de cinzas.

Interlocutores de Lula reconhecem que Lira tem contribuído para a aprovação das ações centrais do governo.

A pauta econômica é o maior exemplo, a despeito de um ou outro atrito. Há poucos dias, o presidente da Câmara respondeu em tempo real o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que em entrevista ao programa “Roda Viva”, da TV Cultura, afirmara ter fechado um acordo com Lira para limitar a R$ 20 bilhões os incentivos previstos no Programa Emergencial de Retomada do Setor de Eventos (Perse). “Ele não combinou comigo. Combinou R$ 25 bilhões com o Congresso”, rebateu o deputado ao site “Poder360” durante o programa, levando o ministro a fazer novo comentário sobre o tema logo na sequência. O assunto estará novamente em pauta a partir de fevereiro.

No retorno do recesso, o governo também dependerá de Lira para concluir a tramitação de projetos que fazem parte da agenda de transição energética. E espera atenção a outros itens da pauta econômica, como a reforma tributária.

A relação dos dois começou melhor do que o previsto. Aliado do então presidente Jair Bolsonaro (PL), Lira foi a primeira autoridade brasileira a parabenizar Lula pela vitória no segundo turno da eleição de 2022, em um gesto que ajudou a barrar eventuais contestações do resultado. Não citou o nome do petista, é verdade, mas em um ágil pronunciamento reconheceu a vitória do “presidente eleito” e declarou que era “hora de desarmar os espíritos e estender a mão aos adversários”.

Ao longo do ano passado, contudo, ocorreram altos e baixos. Enquanto o Centrão pressionava pela rápida nomeação de vice-presidentes na Caixa Econômica Federal, o que só ocorreu no início de 2024, um ou outro revés era imposto ao governo na Câmara. Indicações do Centrão à Esplanada dos Ministérios também demoraram a sair.

“Lula, por tudo o que passou e pela experiência que tem, não se deixar intimidar com o tempo”, explica um interlocutor do presidente da República. E ele acrescenta: o calendário de 2024 joga contra Lira, cujo mandato de presidente da Câmara acaba no início do ano que vem. “Já é fevereiro. Tem agora o Carnaval, depois mais um feriado, festas juninas [que são importantes para os parlamentares do Nordeste e esvaziam o Congresso] e logo novo recesso parlamentar. Depois, eleição municipal”, lista.

Um outro auxiliar direto de Lula diz que a insatisfação do Centrão com os articuladores políticos do Planalto deve ser vista como natural, uma vez que o governo anterior cedeu a condução da agenda legislativa para os partidos aliados que seguraram Bolsonaro no cargo. Esse modelo está sendo revisto e uma reação era inevitável. Conclusão: hoje está descartada uma troca na articulação do governo e, se Lula o fizesse, seria para continuar tendo um político experiente na função. A ideia é manter o anteparo que visa proteger o gabinete presidencial de pressões políticas diretas.

Para essa fonte, “Lira está com a ampulheta virada”. Por isso, insiste, é preciso entender se o alagoano irá se aproximar mais do Palácio do Planalto, o que pode ajudá-lo em seu projeto de eleger-se senador em 2026, ou reforçará laços com a oposição. Neste caso, o movimento pode ser útil para construir a candidatura de seu sucessor na presidência da Câmara.

É justamente por esse motivo que o Planalto pretende manter distância das articulações para a sucessão da Mesa Diretora da Casa, que já ocorrem. Do contrário, será sugado para uma eventual crise. “Se tem alguém que pode acabar com um governo é o presidente da Câmara”, pondera uma fonte do governo.

O presidente da Câmara manterá forte influência sobre o andamento da pauta congressual, ao longo de um ano que já começa tenso devido à briga pela ascendência sobre o Orçamento. Enquanto não se sabe o destino dos vetos presidenciais à criação das emendas de comissão e à maior impositividade das emendas parlamentares, segue o baile de máscaras ao som de Chico Buarque.

“Quem é você? Diga logo que eu quero saber o seu jogo”, diz o compositor no início da canção. “Mas é carnaval, não me diga mais quem é você. Amanhã tudo volta ao normal, deixa a festa acabar, deixa o barco correr… Deixa o dia raiar, que hoje eu sou da maneira que você me quer. O que você pedir eu lhe dou, seja você quem for, seja o que Deus quiser”.

Por Fernando Exman – Trabalhou nas redações de “Investnews”, “Gazeta Mercantil”, “Jornal do Brasil”, “Reuters” e “Veja”. Entrou no Valor em 2011, e desde 2013 é coordenador digital

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