Segundo o jornal A Tarde, elas ocupam menos de um sexto das cadeiras da Câmara Municipal de Salvador, cidade que, em seus 470 anos, só foi administrada durante quatro anos por uma mulher, quando Lídice da Mata foi prefeita, de 1993 a 1996.
Na semana do Dia Internacional da Mulher, o jornal A Tarde publicou uma reportagem onde conversou com algumas “caras novas” da política local – pré-candidatas, de diferentes partidos e orientações políticas, que tentam ocupar o primeiro cargo eletivo de suas vidas.
Só dentro do PT, são duas pré-candidatas à prefeitura já colocadas: a socióloga Vilma Reis, ex-ouvidora-geral da Defensoria Pública do Estado (DPE-BA), e a secretária de Promoção da Igualdade Racial, Fabya Reis. Ambas relacionam suas origens políticas à juventude – Vilma participou do movimento estudantil no início dos anos 90 e Fabya começou a participar do Movimento Sem Terra (MST) aos 16 anos. Disputavam internamente, com outros dois correligionários, a preferência do partido, mas viram a entrada em cena da major Denice Santiago, da Polícia Militar.
É a quantidade de deputadas em uma Assembleia Legislativa com 63 cadeiras. A bancada feminina baiana tinha sete integrantes antes da eleição de 2018
Apoiada pelo governador Rui Costa (PT), a comandante da Ronda Maria da Penha não pode ter filiação partidária enquanto estiver em atividade na corporação. Procurada, evitou se manifestar sobre questões políticas, justamente em função das questões legais. Apesar da preferência de Rui por Denice – e dos prognósticos muito favoráveis à sua candidatura pelo PT, Vilma e Fabya mantêm suas pré-candidaturas.
“Você não constrói uma liderança artificialmente, nem de um dia para o outro. Do grêmio do Colégio Central até aqui são 31 anos. Depois do assassinato da companheira Marielle Franco, a resposta mais contudente é eleger mulheres negras”, afirma a ex-ouvidora-geral da Defensoria.
Formada em um treinamento para lideranças na Universidade de Howard, nos Estados Unidos, Vilma diz que sua pré-candidatura foi uma “decisão coletiva do movimento de mulheres”. “O mundo inteiro considera o Brasil como um caso aberrante, por não haver representação negra no poder”, defende.
Mesmo sem ter concorrido a nenhum cargo eletivo antes, a socióloga tem ocupado espaços de poder desde o governo Wagner, quando foi presidente do Conselho de Desenvolvimento da Comunidade Negra do Estado da Bahia (CDCN). Em 2015, venceu a eleição para ser ouvidora-geral da Defensoria, onde esteve por dois mandatos, até maio do ano passado.
Fabya também passou a integrar a administração petista no governo Wagner. Atuou como coordenadora de gestão de planejamento na então Secretaria de Desenvolvimento Social e Combate à Pobreza. Depois, migrou para a Secretaria de Políticas para as Mulheres, onde foi chefe de gabinete.
Já na atual pasta, passou pelos cargos de coordenadora de Políticas para Comunidades Tradicionais (CPCT) e chefe de gabinete, antes de assumir a titularidade da Sepromi. Para a secretária, é prioritário ampliar os mecanimos de participação direta da população nas decisões administrativas.
É o número de mulheres na bancada baiana na Câmara dos Deputados, formada por 39 integrantes. São deputadas federais Alice Portugal, Lídice da Mata e Dayane Pimentel
“Penso que o PPA [Plano Plurianual] precisa traduzir as necessidades e urgências da cidade. A primeira questão é incluir a participação popular nesse programa de governo participativo”, diz. Entre os pontos da atual gestão criticados por Fabya estão a atenção básica de saúde, mobilidade e paisagismo. “Não podem ser praças de cimento, que, quando chove, vira um caos”, afirma.
Legislativo
Aliada do prefeito ACM Neto, a chefe da Coordenadoria de Proteção e Defesa do Consumidor (Codecon), Roberta Caires, será uma das candidatas do DEM à Câmara Municipal. Ex-presidente da Fundação Cidade Mãe, Roberta comanda o Democratas Mulher, que realizou em dezembro um seminário para fomentar mais candidaturas femininas. Além disso, já foram realizadas atividades em bairros de Salvador como Periperi, Cajazeiras e Castelo Branco, além dos municípios de Alagoinhas e Vitória da Conquista.
“O Democratas Mulher, aqui na Bahia e nacionalmente, com o total apoio do presidente do partido, ACM Neto, vem investindo pesado em formação política para viabilizar candidaturas femininas, para que mulheres estejam aptas a ocuparem cargos eletivos, sabendo como funciona uma campanha, como se forma uma base político-eleitoral, que documentação é necessária para que se candidatem de fato, o que a legislação eleitoral diz, entre outros”, afirma Roberta.
Para a chefe da Codecon, a participação feminina na política “é uma crescente, mas não suficiente”. “Em cargos públicos de poder, sejam eletivos ou de gestão, a participação ainda é tímida, embora nossa voz seja muito mais ouvida atualmente”, opina.
Quem também busca se eleger vereadora na capital baiana é a jornalista, social media e empreendedora Priscila Chammas (Novo). Em 2016, ao concorrer pela primeira vez ao cargo, teve pouco mais de 3,7 mil votos. Dois anos depois, quando tentou se eleger deputada federal, foram quase 33,7 mil, dos quais 20 mil em Salvador.
“As redes sociais ajudaram muito a diminuir a diferença para quem tem a máquina na mão. Se não fosse isso, a renovação seria ainda menor do que já é”, opina. Para ela, a dificuldade para as mulheres na política é comparável à de carreiras profissionais, como o magistério ou o mundo dos negócios. “Não é fácil, mas não chega a ser um bicho de sete cabeças”, defende.
É o número de cadeiras da Câmara Municipal de Salvador ocupadas por mulheres. No total, a Casa tem 43 representantes do povo
Ao comentar a decisão de buscar a política institucional, Priscila afirma que não se sentia representada. “Quando comecei a me interessar por política, pensei em ajudar alguém com quem me identificasse, e percebi que não tinha esse candidato. Cheguei à conclusão de que existia um gap grande de representatividade dentro do meu nicho, das ideias que defendo”, diz.
Histórico familiar
Neta do guerrilheiro Carlos Marighella, a atriz e gestora cultural Maria Marighella concorrerá a vereadora pelo PT. Pela história de sua família, diz não considerar a política como “um mundo novo”.
“Tomei outras decisões na vida, mas desde 2017 eu acompanho o movimento Ocupa Política, entendendo que a vida pública brasileira precisa de outras saídas”, afirma. Como plataforma de campanha, ela defende “a cultura na centralidade de um projeto de desenvolvimento de cidade”. “A esquerda sabe a importância da cultura, mas é hora de a gente avançar”, acresenta.
Maria diz que o cenário político brasileiro, após a vitória de Jair Bolsonaro em 2018, a influenciou ainda mais a disputar eleições. “O Brasil está exigindo saídas políticas. Esse tipo de avanço precisa de reação imediata”, defende.
Sobre o peso do sobrenome, minimiza: “Não tem muito como separar. É com isso que eu vou. Claro que trago a referência desse homem, como também quero dialogar com esse novo Brasil, que flerta com o que há de mais odioso na história”.