Imitando Ariano Suassuna, eu divido a humanidade em duas metades: de um lado, as pessoas que gostam do Nordeste. Do outro, os equivocados. Com um pensamento similar a este, internautas de bom gosto resolveram bolar uma ideia (e a gente vai junto) para se distanciar daqueles de opinião duvidosa: colocar uma fronteira entre os grupos. “O Nordeste é meu país”, bradavam os revolucionários mais empolgados, em postagens na última semana, conforme publicou o jornal Correio neste domingo (4).
A ideia de separar os nordestinos dos meros mortais não é exatamente nova. O nosso povo, visionário do jeito que é, já vislumbrava tal possibilidade desde quando o Brasil era colônia. Mas os revolucionários de hoje apresentaram uma versão 2.0 do movimento. Alcunhas como “Sabinada” e “Confederação do Equador” são um tanto quanto demodê. O novo termo repaginado, levantado pelos emancipacionistas, é muito mais ‘muderno’: Nordexit.
A fagulha que desencadeou o espírito separatista do nordestino foi uma publicação do governador maranhense Flávio Dino, ao anunciar o “Consórcio Nordeste” – a união entre os nove governadores da região para defender assuntos comuns. Empolgados com a aliança entre os mandatários, ocorrida na mesma semana que o presidente Jair Bolsonaro chamou, em tom preconceituoso, os governantes da região de “paraíbas”, os internautas começaram a vislumbrar uma possível nova nação.
O hino seria, indubitavelmente, o mais belo do mundo: ‘Anunciação’, de Alceu Valença. Muito melhor que ‘A Marselhesa’ francesa. ‘Asa Branca’ seria o hino à bandeira.
Alguns elementos que são símbolos máximos do Brasil também perderiam a liderança no ranking de importância da nova nação. Assim, feijoada e samba cederiam o primeiro lugar em culinária e música, respectivamente, para cuscuz e forró.
No futebol, a seleção nordestina seria, sem dúvida, uma potência mundial. Um possível escrete seria: Jeanzinho no gol; na lateral, uma dupla mais entrosada que Cumpadi Washington e Beto Jamaica: Daniel Alves e Wendell; Dante e Jemerson fariam a zaga; a meiuca seria formada pela trinca Wallace, Hernanes e Anderson Talisca; já o trio de ataque faria inveja a qualquer Barcelona ou Real Madrid: Hulk, Roberto Firmino e Diego Costa. Para comandar esses cabras teríamos nada mais, nada menos que o treinador mais raiz do mundo: Givanildo Oliveira.
Parece que o jogo viraria
Mas a maior novidade no campo futebolístico seria a prova de que, no final das contas, “os humilhados serão exaltados”. Comumente zombado pelos tricolores por ainda não ter título um nacional, o Vitória seria simplesmente o maior time do Nordeste, pelo menos dentro de sua pátria. Com cinco Nordestões, o Leão da Barra passaria a estampar cinco estrelas acima do mamilo. Polêmico isso, ainda mais quando Bahia e Sport reivindicassem os títulos internacionais.
Imigração
Agora o principal: os feriados. Algumas das datas que poderiam ser contempladas são o 2 de Julho, que concorreria para ser um ‘novo’ 7 de setembro, o Dia do Padre Cícero e o Dia do Forró, que por sinal celebra o nascimento de Luiz Gonzaga, em 13 de dezembro, numa manjedoura de Exu (PE).
São João e Carnaval continuariam do jeito que estão, mas muitos turistas estrangeiros de São Paulo, Rio ou Minas, principalmente, talvez deixassem de vir por conta da exigência de passaporte. E para evitar qualquer tipo de perda de receita com o turismo, uma das primeiras missões do ParlaNordeste (o Congresso Nacional do novo país, que por sinal já existe).
A propósito, os pedidos de asilo feitos por aqueles que, por descuido geográfico, nasceram fora do novo país já começaram a aparecer, como mostram as mensagens que encerram este prenúncio bem humorado de pré-Nordexit.