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quarta-feira 31 de janeiro de 2024 às 16:14h

Nordeste pode perder até 40% da água em 2040, diz Agência Nacional de Águas

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As regiões Norte, Nordeste e parte do Centro-Oeste podem ter uma perda de até 40% da água disponível para uso em 2040. Os dados são do estudo “Impacto das Mudanças Climáticas nos Recursos Hídricos do Brasil”, desenvolvido pela Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA), que será lançado nesta quarta-feira (31).

Neste cenário, a estimativa é de aumento substancial no número de trechos de rios intermitentes (que secam na época de estiagem), principalmente perto das cabeceiras. Esse quadro poderia trazer situações críticas semelhantes à ocorrida no ano passado, durante a seca histórica na Amazônia.

A estimativa considera um futuro de altas emissões de carbono e mais de 4,5°C de aquecimento no mundo, em relação às temperaturas do período anterior à Revolução Industrial (de 1850 a 1900). No entanto, mesmo em cenários mais otimistas, com menos carbono na atmosfera e um planeta não tão quente, foram observadas diminuições de 20% nos níveis de rios nestas regiões.

No quadro mais pessimista, aumenta o risco de falta de água para a população nestas regiões, especialmente no semiárido, com prejuízo no abastecimento de cidades, na geração de energia hidrelétrica e na agricultura, além de riscos para a saúde.

No Sul, por outro lado, a tendência é de um aumento de, em média, 5% da disponibilidade hídrica em 2040. Apesar disso, verificou-se também um crescimento da variabilidade deste indicador. Ou seja, mesmo que, em geral, possa haver mais água, a sua ocorrência será mais inconstante —e muitas vezes associada a eventos climáticos extremos, como cheias e inundações, o que nem sempre favorece o eventual benefício proveniente dessa alta.

Metodologia

O estudo foi elaborado por meio de um amplo conjunto de dados climáticos, tanto do presente quanto projetados para o futuro, e de modelagem hidrológica, usada para obter as vazões das bacias.

Como resultado, foram produzidos cenários futuros de disponibilidade hídrica para mais de 450 mil trechos de rios brasileiros, considerando três horizontes temporais: de 2015 a 2040, de 2041 a 2070, e de 2071 a 2100.

Foram analisados critérios como níveis de precipitação, evapotranspiração (evaporação da água impulsionada pelas altas temperaturas), disponibilidade hídrica (água disponível para uso, que é outorgada pela ANA) e variação da vazão (volume de água que passa pelos rios).

Também é preciso considerar preocupações com segurança energética, já que mais de 70% da eletricidade utilizada no país vêm de hidrelétricas, ampliando o número de reservatórios.

O coordenador de Mudanças Climáticas da ANA, Saulo Aires de Souza, ressalta, porém, que as projeções presentes no estudo não podem ser confundidas com previsões.

“São possíveis cenários futuros. E, é claro, vai depender muito se nós vamos continuar emitindo mais ou menos gases de efeito estufa”, diz. “À medida que a gente vai piorando a situação, o que a gente mostra é que a redução na disponibilidade hídrica é bem mais acentuada, principalmente porque aumentam as taxas de evapotranspiração. Isso é um consenso.”

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