Com liderança folgada, a busca pelo apoio do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva se tornou segundo que UOL, Quma moeda pesada na hora fechar acordos políticos nos estados do Nordeste. Os pré-candidatos ao governo com chances reais de se elegerem buscam o petista para seus palanques ou —no caso dos nomes da direita— evitam o discurso antilulista.
O lulismo se coloca, assim, como a força motriz para que candidatos mudem de partido, de lado ou mesmo abandonem candidaturas.
“Mesmo os candidatos de direita não batem de frente com Lula, ficam no máximo neutros, porque sabem que ele tem um capital eleitoral muito grande. Seria colocar em risco sua própria sobrevivência política”, afirma Luciana Santana, professora de ciência política da Ufal (Universidade Federal de Alagoas) e da pós-graduação da UFPI (Universidade Federal do Piauí).
Para ela, o lulismo em alta tem causado grande impacto na formação de chapas e anúncios de candidaturas.
Esse jogo político vai ter essa força de Lula como principal tônica. Se Lula mantiver essa boa avaliação, isso deve continuar até a eleição. Mas, hoje, estamos percebendo a manutenção desse comportamento de a direita se afastar do discurso anti-Lula”.Luciana Santana, da Ufal e da UFPI
ACM Neto e a distância de Bolsonaro
Por conta da força do lulismo —em especial nas cidades do interior—, até candidatos de direita com densidade eleitoral parecem cautelosos em discursos anti-Lula. É o caso de ACM Neto (União Brasil), que disputa o governo da Bahia de olho em acabar com a hegemonia do PT, que já dura 16 anos. Neto não quer saber de ligação estreita com Bolsonaro.
“Eu não sou adversário de Lula. Lula é candidato à Presidência, eu sou candidato ao governo do estado”, disse nesta semana.
Neto recebeu o apoio do vice-governador João Leão (PP), na última quinta-feira, que rompeu com o PT e vai disputar o Senado na chapa dele. Leão, ressalte-se, tem se alinhado historicamente ao lulismo —e não deve abandonar essa atitude durante a campanha.
Candidatos também têm mudado de partido. No Maranhão, o vice-governador Carlos Brandão deixou o PSDB para ingressar no PSB e ter o apoio do PT na sucessão de Flávio Dino (PSB). No anúncio da pré-candidatura, ele disse que iria para o PSB por não se sentir confortável entre tucanos e querer apoiar Lula.
No mesmo estado, o senador Weverton Rocha (PDT) é outro que tenta, ao máximo, colar sua imagem à de Lula. Apesar de seu partido ter candidato à Presidência (Ciro Gomes), Weverton faz elogios ao ex-presidente e deve ter em sua composição partidos aliados ao PT nacionalmente.
No Piauí, a dança das cadeiras “tirou” o ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira (PP), da disputa pelo governo. Ele agora apoia o ex-prefeito de Teresina Silvio Mendes (PSDB) e indicou sua esposa, a deputada federal Iracema Portela (PP-PI), como vice. No lançamento da candidatura, Nogueira nem sequer citou o nome de Bolsonaro.
“Ciro Nogueira não é candidato porque sabe a força do lulismo. Obviamente, ele vai procurar lançar um candidato lá, mas não pedirá voto para Bolsonaro e ficará neutro”, explica Adriano Oliveira, cientista político da UFPE (Universidade Federal de Pernambuco).
Em Pernambuco, berço político do PSB, o PT desistiu de lançar candidato —que seria o senador Humberto Costa— em nome de uma costura nacional para reaproximar PSB e PT. Na aliança pernambucana, o PT deve lançar o nome ao Senado ou —caso o governador Paulo Câmara (PSB) renuncie— indicar o vice de Danilo Cabral (PSB). O PSB já usa e abusa da imagem de Lula para manter a hegemonia de 16 anos no estado.
A nova união da chamada “frente popular” poderia não ser uma surpresa, caso os partidos não tivessem travado uma disputa acirrada há menos de dois anos pela Prefeitura do Recife. Na época, João Campos (PSB) e Marília Arraes (PT) foram a um segundo turno marcado por ataques de ambos lados e uso, pelo PSB, do antipetismo como propaganda de campanha.
Sem espaço com essa aliança, Marília Arraes anunciou que deixa o PT para se filiar a outro partido (ainda a ser definido), por onde deve disputar o Senado em uma outra chapa —provavelmente encabeçada pela prefeita de Caruaru, Raquel Lyra (PSDB). Isso deve gerar uma divisão que dificulte a escolha de Lula por um senador em Pernambuco.
“Nesse cenário, os outros [principais] pré-candidatos ao governo Raquel Lira e Miguel Coelho [MDB] devem ser também candidatos neutros em relação a Lula”, completa Adriano Oliveira.
Em Alagoas, o PT vai apoiar a candidatura do deputado Paulo Dantas (MDB). No estado, o partido orbita em torno da família Calheiros. Porém, além de Dantas, o prefeito de Maceió, João Henrique Caldas (PSB), pode ser outro candidato de um partido da base nacional e dividir o palanque de Lula (ou JHC, como é chamado, pode deixar o partido, numa aliança com o presidente da Câmara Arthur Lira, do PP).
Ainda no Nordeste, um caso curioso está no Ceará, onde o deputado federal Capitão Wagner (PROS) vai enfrentar o candidato (ainda não definido) indicado pelo governador Camilo Santana (PT) e pela família Ferreira Gomes (PDT).
Apesar da conhecida ligação com Jair Bolsonaro, ele tentou neutralizar esse apoio em sua campanha à Prefeitura de Fortaleza em 2020.
“Ainda não estamos vendo claramente qual será o discurso do Capitão Wagner. Hoje é um discurso de oposição a Camilo, muito voltado para uma liderança que ele foi da greve da Polícia Militar. Ele não colocou esse discurso antilulista, e não acredito que esse discurso venha prosperar em virtude da grande avaliação que o Camilo Santana tem”, destaca Oliveira.
Para o cientista político, a interferência nas coligações é um resultado da força do lulismo —e ocorre em todos os estados do Nordeste. “Você não deve olhar o PT, mas sim o fenômeno lulismo —que é muito maior que o partido”, explica.
O ex-presidente lidera em todas as pesquisas de intenção de voto do Nordeste, geralmente com mais 60%. O lulismo influencia as escolhas dos eleitores, e isso faz com que os partidos não façam oposição a Lula, inclusive aqueles do centrão [ligado hoje a Bolsonaro].”Adriano Oliveira, cientista político