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sexta-feira 10 de fevereiro de 2023 às 08:58h

Nicarágua liberta e expulsa 222 opositores para os EUA

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Mais de 200 opositores libertados nesta última quinta-feira (9) na Nicarágua pelo governo de Daniel Ortega foram privados de seus direitos políticos, despojados de sua nacionalidade e deportados para os Estados Unidos.

O anúncio é feito no momento em que Ortega é pressionado devido ao autoritarismo crescente de seu governo. Em entrevista coletiva, ele negou que tenha negociado as libertações com Washington.

O ex-embaixador de Ortega na OEA, Arturo McFields, afirmou em vídeo que “222 presos políticos vêm para cidade de Washington, foram libertados”. McFields foi demitido após qualificar seu país como uma ditadura e agora reside nos Estados Unidos.

“Em um país democrático, um preso político é libertado, volta para casa, abraça sua família e o Estado garante a sua segurança, seu bem-estar e seus direitos fundamentais. Na Nicarágua, se alguém é solto, não tem essas garantias fundamentais: o direito à vida, à livre-circulação, a poder se manifestar e continuar sendo um cidadão, por isso tem que sair do país”, observou McFields.

Um tribunal da Nicarágua confirmou a libertação e expulsão dos 222 opositores. Um bispo se negou a ser deportado e voltou para a prisão, segundo Ortega.

A notícia havia sido anunciada pouco antes por parentes e opositores exilados, os quais informaram que, entre eles, estavam a ex-comandante sandinista Dora María Téllez, a ex-pré-candidata à presidência Cristiana Chamorro e Juan Lorenzo Holmann, mas não o bispo Rolando Álvarez, nem outros sacerdotes.

“Ordena-se a deportação imediata e já efetiva de 222 pessoas. Essas pessoas já foram deportadas do país”, disse à mídia oficial da Nicarágua Octavio Rothschuh, presidente da Sala Um do Tribunal de Apelações de Manágua.

O juiz declarou que todos os libertados foram privados permanentemente de seus direitos políticos e declarados “traidores da pátria”.

A vice-presidente do país, Rosario Murillo, ressaltou que a decisão foi tomada “no interesse supremo de nossa pátria de viver em harmonia, de viver trabalhando e prosperando com a paz”.

Alguns nicaragüenses viram a libertação como um sinal de boa vontade para com os Estados Unidos, que haviam imposto sanções a Manágua e saudaram a medida. Outros acreditam que o objetivo tenha sido se livrar dos opositores presos.

Washington disse ter “facilitado o transporte dessas pessoas assim que foram libertadas” e garantiu que poderão permanecer nos Estados Unidos por motivos humanitários por dois anos.

Todos os que foram libertados e deixaram o país “concordaram voluntariamente em viajar” para Washington, onde o governo lhes fornecerá assistência médica e jurídica, disse o Departamento de Estado dos Estados Unidos.

A decisão de Manágua “é positiva e bem-vinda”, mas “estamos firmes em encorajar novos passos” do governo Ortega para “restaurar as liberdades civis e a democracia ao povo nicaraguense”, acrescentou o porta-voz.

“Estamos aqui na terra da liberdade e muito agradecidos”, declarou um dos presos libertados, o economista e ex-candidato à presidência Juan Sebastián Chamorro. “Foram 20 meses atrás das grades, em uma prisão de segurança máxima, mas aqui estamos, de cabeça erguida”, ressaltou o sobrinho político de Violeta Chamorro.

Ortega disse que o bispo católico Rolando Álvarez, detido desde agosto por conspiração, recusou-se a seguir para os Estados Unidos com o grupo de libertados. “Álvarez não quis cumprir o que manda a lei, o que manda o Estado da Nicarágua”, comentou o presidente sobre a decisão do bispo de rejeitar a ordem de expulsão do país.

 Hino no avião

No avião para Washington, os presos libertados cantaram o Hino da Nicarágua, descreveu o ativista político Félix Maradiaga. “Levamos a nacionalidade espiritualmente”, ressaltou. “Serei nicaraguense até o dia da minha morte.”

A notícia da libertação foi bem-recebida pelo governo americano e por nicaraguenses exilados. O chefe da diplomacia americana, Antony Blinken, saudou a libertação e disse que a mesma poderia abrir caminho para mais diálogo com Ortega.

“A libertação desses indivíduos, um dos quais é cidadão americano, marca um passo construtivo para abordar os abusos contra os direitos humanos naquele país e abre as portas para mais diálogo entre Estados Unidos e Nicarágua”, declarou Blinken.

O escritor nicaraguense Sergio Ramírez, que foi vice-presidente de Ortega em seu primeiro mandato (1985-1990) e atualmente se encontra exilado na Espanha, expressou sua satisfação pela libertação dos presos.

“Hoje é um grande dia para a luta pela liberdade da Nicarágua, pois tantos prisioneiros injustamente condenados ou processados são libertados de prisões, nas quais nunca deveriam estar. Eles vão para o exílio, mas vão para a liberdade”, tuitou Ramírez.

“A esta hora, os deportados já estão nos Estados Unidos, de forma que damos por cumprida a sentença”, declarou Octavio Rothschuh.

Parentes no aeroporto

A diretora da Anistia Internacional para as Américas, Erika Guevara, disse no Twitter que parentes de presos lhe haviam confirmado a libertação, mas não deu detalhes: “Recebemos a confirmação de várias famílias sobre a libertação de pessoas presas na Nicarágua. Foram enviadas para o exílio”, indicou.

Parentes e amigos dos presos libertados reuniram-se no aeroporto internacional Dulles, em Washington, para aguardar a sua chegada. A mãe de Evelyn Pinto, defensora dos direitos humanos presa desde novembro de 2021, disse sentir esperança após a libertação de sua filha.

Lyana Barahona esperava a prima Sueyen, defensora dos direitos humanos e presidente da Unamos, que estava presa havia mais de um ano. Ela levou uma mala de roupas para a parente. “Estou muito feliz”, afirmou.

Centenas de opositores foram presos na Nicarágua no contexto da repressão que se seguiu aos protestos que eclodiram em 2018 contra Ortega, no poder desde 2007.

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