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segunda-feira 13 de dezembro de 2021 às 06:05h

“Neto ainda está perdido e Roma deve vingar e se manter”, diz deputado

NOTÍCIAS, POLÍTICA


O deputado federal Daniel Almeida (PCdoB) fez críticas contra aquele que deve ser principal adversário do grupo de Rui Costa, Otto Alencar, João Leão, Jaques Wagner, Angelo Coronel e muitos outros na eleição de 2022 ao Governo da Bahia.

Na visão de Daniel, o ex-prefeito de Salvador, ACM Neto (DEM) estaria “muito perdido” e com um “discurso sem identidade”. “Ele não conseguiu ter um partido, acabou destruindo o partido que ele presidia. Ele não consegue se relacionar com o discurso nacional diante de tantos desafios nacionais. São tantos problemas nacionais e ele nem de escola do Bolsonaro, nem se firma como uma candidatura de centro e nem a esquerda. Então, eu vejo ele com grande dificuldade de construir um projeto que aglutine forças políticas que ganhem os eleitores baianos para a disputa”, alfinetou, em entrevista à Tribuna.

Tribuna – Como é que estão as conversas com os outros partidos, PSB e o PT, em torno dessa possível formação de uma federação partidária? Como é que se daria essa congregação de partidos e o que isso traria de benefícios? 

Daniel Almeida – Tem conversas bem adiantadas das direções dos três partidos: do PCdoB, PSB e PT. Como a federação tem caráter nacional, terá que ser feito no país inteiro. As deliberações passam por decisão nacional. Nós temos já uma afirmação do interesse desses três partidos de fazer a federação. A dúvida que alguns semeavam e que podia ter alguma ilegalidade. Ter uma decisão do ministro Barroso, afirmando a constitucionalidade da federação. Então, as coisas estão adiantadas. O interesse nosso é até o final de fevereiro ter esse entendimento formatado para providenciar o registro da federação – uma das condições pra disputar a próxima eleição é que o registro seja feito até o dia 3 de abril. E estamos agora na fase de conversas com as direções estaduais para ver onde pode se localizar um ou outro problema que as direções estaduais, junto com as direções nacionais, possam tratar. Então, as coisas tão bastante adiantadas.

Tribuna – No passado, o presidente Jair Bolsonaro teceu algumas críticas ao que ele chamou de “centrão”, criticou a própria direção do PL e agora se filia ao PL, né? Como é que o senhor vê esse movimento dele diante, inclusive, da proximidade das eleições de 2022? 

Daniel Almeida – O Bolsonaro nunca teve qualquer coerência no discurso que faz. Ele sempre pertenceu, institucionalmente, a partidos do “centrão”, mas sempre tentou fazer o discurso de que é antissistema e nega a velha política. Ele sempre foi um bom representante da velha política. Ao assumir a presidência da República, ele tentou criar condições para desrespeitar as instituições e não conseguiu. Está se ajustando à institucionalidade e ao “centrão”. Acho que é assim que ele vai ser visto na eleição de dois 2022: como uma pessoa confusa, limitada, em um governo péssimo. Não tem nada apresentado do ponto de vista do seu governo e ele fica tentando se equilibrar – entre o discurso do antissistema, a bolha que é fanática por ele e o ajuste que ele efetivamente é o “centrão”, né? Como manter a máquina a serviço do “centrão”. Mas acho que isso não terá impacto, não terá repercussão, não terá aceitação na eleição 2022. Hoje o eleitor não sabe quem é Bolsonaro e tem negado esse modelo de governo que ele apresenta e negado o próprio perfil dele. Eu tenho muita confiança que ele será derrotado nessa eleição de 2022.

Tribuna – As últimas pesquisas que saíram mostraram a consolidação do ex-juiz da Lava Jato e ex-ministro de Bolsonaro, Sergio Moro, em terceiro lugar. O senhor acha que existe alguma chance, daqui para lá, de ele ir para o segundo turno, seja com Lula ou com Bolsonaro? 

Daniel Almeida – É difícil ter uma análise mais precisa a praticamente dez meses da eleição, mas o que eu vejo é uma tendência de se manter essa polarização que temos hoje. O Lula, como principal polo, bem carregado de esperança, de expectativa, e Bolsonaro se mantendo também nesse patamar de, vamos dizer, que podem assegurar o segundo turno. Vejo que esse segundo turno tende a ser num ambiente de polarização, né? E o Moro tem feito esse discurso de alternativa, mas não tem programa, não tem confiança de setores da sociedade. Não vejo espaço para ele crescer.

Tribuna – Tem se ventilado nas últimas semanas a possibilidade de o ex-presidente Lula ter o antigo adversário dele, Geraldo Alckmin, como vice. O senhor acha que, do ponto de vista estratégico, seria uma escolha interessante considerando que o PT é um partido mais de esquerda e é algo que provavelmente viria filiado ao partido mais ao centro? 

Daniel Almeida – As alianças são sempre necessárias para as disputas do Brasil e não tem nenhuma corrente, isoladamente, que tenha força para ganhar sozinha a eleição. E as alianças elas devem corresponder aos desafios de cada momento. O Brasil está sendo desconstruído, desmontado. E todas as forças que defendem a democracia e que podem contribuir pra reconstrução do nosso país, eu acho que devem ser buscadas. O nome do Lula tem uma característica de um perfil, uma identidade com os movimentos sociais, cuidar dos mais pobres e vejo com bons olhos a possibilidade em torno dele virar aglutinação de setores do centro. Alckmin pode ser uma alternativa. Vejo que é muito cedo para definir, bater o martelo sobre o vice. Mas, ter diálogo, buscar a identidade programática ou pelo menos me desafiar a superar os problemas no Brasil agora, é uma coisa positiva.

Tribuna – Vindo para a Bahia, o senhor acredita que, diante do que aconteceu, ACM Neto aceitaria a mão e daria palanque para Bolsonaro no ano que vem? 

Daniel Almeida – O ACM pelo que vejo está muito perdido, né? O discurso sem identidade. Ele não conseguiu ter um partido, acabou destruindo o partido que ele presidia. Ele não consegue se relacionar com o discurso nacional diante de tantos desafios nacionais. São tantos problemas nacionais e ele nem descola do Bolsonaro, nem se firma como uma candidatura de centro e nem à esquerda. Então, eu vejo ele com grande dificuldade de construir um projeto que aglutine forças políticas que ganhem os eleitores baianos para a disputa. Portanto, temos que esperar um pouco mais, mas estou mais preocupado com o nosso campo. Estou mais atento ao nosso campo, que é largamente vantajoso do ponto de vista das respostas para os interesses da Bahia. Alguns até dizem que ele pode, no meio do caminho, não sustentar essa candidatura – o que não seria uma novidade, porque ele fez isso também em 2018.

Tribuna – Nos bastidores, muito se fala sobre a candidatura de João Roma. Inclusive o próprio Flávio Bolsonaro falou sobre isso essa semana. O senhor acha que, diante do cenário atual, ela pode ela pode ou deve ir para frente? Ela se sustentaria, teria densidade para competir com Jaques Wagner com o Neto? 

Daniel Almeida – O Bolsonaro tem uma pequena parcela do eleitorado baiano. E esta pequena parcela se aglutinará em torno de uma candidatura. Acho que tem sentido ter uma candidatura que dialogue com esse eleitorado de Bolsonaro na Bahia. Por isso a candidatura do Roma, na minha perspectiva, deve vingar e se manter.

Tribuna – E quais os planos do PCdoB para a Bahia no ano que vem em termos de candidatos – possíveis deputados federais e estaduais eleitos? 

Daniel Almeida – Nós temos uma bancada federal de dois deputados, uma bancada estadual de quatro deputados e temos objetivo de manter esses seis mandatos – dois federais, quatro estaduais – e procurar ampliar. Acho que tem espaço para apostar em pelo menos mais um deputado federal e mais um deputado estadual. Esse é o nosso objetivo. Fazer isso nesta aliança que nós mantemos na Bahia, em torno da candidatura do nosso campo liderado pelo governador Rui Costa – que tem atualmente a candidatura de Wagner com a mais provável.

Tribuna – O PCdoB vai conversar sobre majoritária, seja senado ou suplência, ou ainda não é o momento de se fazer isso? 

Daniel Almeida – Nós vamos conversar, não nos sentimos excluídos. Entendemos que tem um bloco nesse campo que atuamos que tem acumulado mais forças do que o PCdoB e que tem legitimidade para pleitear: esse bloco formado pelo PT, PSD e PP, que já compõem a majoritária. Entendemos, portanto, que da manutenção desse bloco a chapa majoritária pode se circunscrever a esses três partidos com legitimidade para esse pleito, né? Mas tem outros espaços, outras tratativas que podem justificar o pleito do PCdoB ou de outros partidos que venham compor essa chapa. E tem também outros espaços e que devem fazer parte desse debate, né? Após a eleição, esse espaço do Governo a ser discutido, tem espaços na Assembleia Legislativa, a presidência da Assembleia Legislativa. Temos possibilidade nesse entendimento de contemplar forças que por acaso fiquem fora da chapa majoritária.

Tribuna – Qual é a sua opinião sobre a PEC dos Precatórios, que o governo tanto defendeu para viabilizar o Auxílio Brasil? 

Daniel Almeida – A PEC, do jeito que chegou, não podia ter sido aprovada e nós votamos contra. Foram feitas modificações, unificaram o conteúdo da PEC. A essência dela é produzir um calote de dívidas consolidadas no Brasil e isso é uma coisa muito ruim para a imagem do país, para os credores, para os mais pobres, para quem tem direito a um crédito junto ao Governo. Mas, nas modificações que foram feitas para garantir os conceitos principais do Bolsa Família, que o Governo acabou e colocou o chamado Renda Brasil, esses conceitos foram fundamentalmente preservados. Preservou recursos para a políticas sociais do Renda Brasil permanente. Preservou os recursos do Fundeb, que os estados e municípios têm direito a receber. Com essas modificações, que ainda faltam serem votadas na Câmara, eu acho que ela ficou menos danosa para a sociedade. Por isso, nós votamos contra. As modificações que foram feitas no Senado podem nos levar a votar a favor quando for deliberado agora na Câmara dos Deputados.

Tribuna – Sobre essa questão da pandemia e o surgimento da nova variante, o senhor é a favor da realização das festas de Réveillon e Carnaval? Acredita que isso vai atrapalhar ainda mais a economia no Brasil? 

Daniel Almeida – Eu defendo e sempre estou atuando na defesa da vida, a favor de todas as medidas para proteger a vida das pessoas. Protegendo a vida, a gente protege a economia. A economia de alguma forma se recupera, se nós tivermos os cuidados necessários respeitando a ciência na proteção da vida. E a pandemia não está controlada. Ela está presente. Enquanto ela estiver presente, devemos ter toda atenção e todo cuidado. Falar em aglomerações, festas de carnaval, sem essa garantia e sem essa segurança para a proteção da vida, eu acho que não cabe. Considero que o Governo do Estado e a maioria dos prefeitos têm tomado as posições corretas. Essa nova variante aparentemente não produz o impacto letal que foi anunciado anteriormente. Mas não se tem ainda a certeza sobre as suas características. Se deve ter cuidado, porque outras cepas podem aparecer enquanto não tivermos um grande número de vacinados e controle mais efetivo. A gente deve manter todos esses cuidados que estão sendo mantidos. Por isso que eu acho que tem sido correta a posição de não realizar as festas de Réveillon e de carnaval.

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