Juiz federal contou que a proposta para chefiar o Ministério da Justiça veio antes mesmo do segundo turno das eleições
Sergio Moro deu uma entrevista ao programa Fantástico, da TV Globo, na noite deste domingo (11/11), e falou sobre as críticas que vem recebendo por participar do governo do presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL). “Eu estou exercendo uma função completamente técnica, não me vejo em um palanque pedindo voto como candidato. Isso não é da minha natureza. Se tudo der errado, eu deixo o cargo ministerial e terei de me reinventar no setor privado”, afirmou o juiz federal.
“O grande motivador para aceitar o convite foi poder implementar uma agenda anticorrupção e anticrime organizado”, completou o futuro chefe da pasta da Segurança Pública e Justiça. Ele assumiu ainda que recebeu o convite pelo Paulo Guedes antes do segundo turno, no dia 23 de outubro.
Essa foi a primeira vez que o magistrado falou com exclusividade a uma emissora de TV. Durante a reportagem, Moro disse ainda que “ficou encantado” com o convite do presidente eleito. Questionado sobre assumir um cargo público após colocar na prisão políticos opositores a Bolsonaro, o juiz desconversou.
“Existe uma fantasia de que o ex-presidente Lula teria sido excluído do processo eleitoral por conta de perseguição política. Mas ele foi preso porque cometeu um crime. Eu proferi essa decisão em meados de 2017 e nem conhecia o presidente eleito Jair Bolsonaro. Mas pelo que eu vejo pelas pessoas comuns, ninguém tem essa desconfiança. Eu estou indo consolidar os avanços da Operação Lava Jato em Brasília”, afirmou.
Moro defendeu ainda a investigação para ministros suspeitos de corrupção “desde que haja provas consistentes”. Pelo menos um dos homens de confiança de Bolsonaro tem envolvimento em atividades ilícitas. Onyx Lorenzoni, que irá comandar a Casa Civil, é réu confesso de uma ação que investiga caixa 2 em recursos da JBS. Perguntado em recente entrevista sobre o caso, Moro disse: “Ele [Lorenzoni] já admitiu e pediu desculpas”.
Sobre as críticas que recebeu por não ter pedido exoneração para participar da equipe de transição de Bolsonaro, Moro afirmou: “A Constituição Federal proíbe um juiz de assumir um cargo no executivo. Não estou praticando nenhum ato oficial, só vou assumir o cargo, quando passar as férias.”
Preconceito e minorias
Perguntado sobre a intenção de Jair Bolsonaro em acabar com grupos de ativistas políticos, Sérgio Moro disse duvidar que haverá qualquer atitude preconceituosa no futuro governo. “Acompanhei todo o processo eleitoral e não vi nenhuma proposta do presidente eleito sobre discriminação das minorias”, afirmou.
“O fato de uma pessoa ser bissexual, trans, negro, asiático é indiferente. Eu tenho grandes amigos homossexuais, algumas das melhores pessoas que eu conheço são homossexuais. Eu não poderia ingressar em nenhum governo se tivesse uma proposta nesse sentido”, respondeu Moro a pergunta de Poliana Abrita sobre fala de Bolsonaro em acabar com todo tipo de ativismo.
O futuro ministro
Sérgio Moro ganhou notoriedade por ser responsável pelos principais processos judiciais da Operação Lava Jato. Ele foi o magistrado que condenou o ex-presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em primeira instância. Após o Tribunal Regional Federal da 4ª Região reafirmar a condenação, Lula foi preso e segue detido na sede da Polícia Federal de Curitiba.
Como o juiz federal é considerado o maior algoz do PT por apoiadores e integrantes do partido, a escolha de seu nome para comandar a super pasta no governo Bolsonaro foi muito criticada pelos adversários do presidente eleito. A defesa de Lula afirmou, em nota, que a nomeação “prova definitivamente que Lula foi processado, condenado e encarcerado sem que tenha cometido crime, com o claro objetivo de interditá-lo politicamente”.
Ao decidir virar político e deixar a toga, Moro abriu mão de uma carreira com estabilidade. Por isso, acredita-se que o ainda magistrado está de olho em uma indicação para o Supremo Tribunal Federal. A próxima vaga à Corte surgirá em novembro de 2020, quando o decano Celso de Mello se aposentara.
Por Larissa Rodrigues e Fernando Caixeta