Depois de “herdar” a Prefeitura de São Paulo em 2018, com a saída de João Doria para disputar (e vencer) a eleição ao governo do Estado, Bruno Covas começa a construir uma narrativa própria para se candidatar à reeleição em 2020. Enquanto o presidente Jair Bolsonaro e mesmo o atual governador mantêm um discurso que recusa aproximação com a esquerda e o PT, Covas tem procurado se apresentar como moderado e conciliador.
“Divirjo de atitudes que o PT teve, mas isso não significa que eu vá fazer um discurso de ódio”, disse ele ao Estado. “Não faço uma carreira em cima do antipetismo.” Ainda segundo ele, o PSDB não pode mais adiar uma decisão sobre o deputado Aécio Neves, réu na Lava Jato. Covas defende a expulsão do correligionário. A seguir, os principais trechos da entrevista:
O sr. defendeu a expulsão de Aécio Neves do PSDB. Teme que a permanência dele no partido possa prejudicar sua campanha à reeleição no ano que vem?
Não tenho bola de cristal, mas prejudicou em 2018. Não tenho a menor dúvida que o resultado abaixo do esperado do PSDB foi por dois motivos. O partido não conseguiu se expressar e mostrar para a população o que pensa. O partido quer governar o País para fazer o quê? O segundo motivo foi ter enfrentado questões como a do Aécio Neves. Não sei se o que aconteceu em 2018 vai se refletir em 2020, mas o partido já apanhou por causa disso.
Mas por que só agora o pedido de expulsão?
Tenho falado há muito tempo. O diretório municipal do PSDB, que acabou de ser eleito, resolveu trazer o assunto. Aí o diretório do partido em Belo Horizonte resolveu dizer que eu deveria ir para o conselho de ética. Foi quando disse: ou eu ou ele (Aécio).
O PSDB-SP também pediu a saída do ex-governador Alberto Goldman e do ex-secretário Saulo de Castro. Qual sua posição?
Todo mundo que não acata a decisão partidária precisa se explicar no conselho de ética. Que ele mostre as razões pelas quais fez isso e, se julgado culpado, cumpra as punições previstas no estatuto. O pior de tudo é jogar para debaixo do tapete. Não dá mais para deixar de tomar decisão.
Há uma avaliação de que o PSDB em 2018 deveria ter focado sua narrativa no antipetismo…
Não tem como saber. No final das contas, a população viu que o (então candidato Jair) Bolsonaro estava na frente nas pesquisas e fez voto útil nele. O (Geraldo) Alckmin acabou desidratado nas últimas semanas porque a população ficou com receio de perder o voto. Não sei se bater mais ou menos no PT faria ele ter 35% em vez de 4,5% dos votos.
Como avalia a postura de Bolsonaro e de João Doria de manter o PT como antagonista?
É o estilo de cada um. Eu votei pelo impeachment da Dilma (Rousseff) e fui para a rua. Passei a defender isso dentro da bancada quando ela não tinha certeza. Mas não tenho nenhuma questão pessoal (contra o PT). Divirjo de atitudes que o PT teve, mas isso não significa que eu vá fazer um discurso de ódio. Sou contra isso.
O sr. é antipetista?
Eu diria que sim, mas isso não é um atributo positivo. É uma situação. Não faço uma carreira em cima do antipetismo.
João Doria defende uma guinada liberal e conservadora para o PSDB. Como avalia a possibilidade de uma guinada à direita?
Durante os governos Lula e Dilma, éramos considerados liberais. Agora, no governo Bolsonaro, sou chamado de marxista e comunista. Alguém sempre está à sua esquerda ou direita. A linha do PSDB é que apostamos na parceria com o setor privado. Do ponto de vista social, mantemos nosso compromisso com as políticas sociais. O próprio Doria fez isso. Montou um grande programa de privatização na cidade de São Paulo e criou 18 CTAs (Centros de Testagem e Aconselhamento) para moradores de rua.
O governador muitas vezes fala em nome do partido sem consultar instâncias partidárias.
Ele é a maior liderança do partido hoje. O resultado foi dado pelas urnas em 2018. Doria exerce o mesmo papel de influência que o (Mario) Covas, (José) Serra e Alckmin quando foram governadores.
Doria é o seu candidato à Presidência em 2022 ou deve terminar o mandato em São Paulo?
Ele é o meu candidato à Presidência da República. É o melhor nome do PSDB para 2022.
Qual deve ser a relação do PSDB com o governo Bolsonaro?
Todos que estão no governo foram convidados pessoalmente. Não houve indicação partidária ou adesão da bancada. Eles deveriam, pelo menos, se licenciar do PSDB, já que a sigla tomou decisão de independência em relação ao governo.
Qual a sua avaliação sobre o governo Bolsonaro?
As declarações não são diferentes do que ele falava na campanha. Foi por isso que no segundo turno em 2018 eu anulei meu voto para presidente. Ele foca no grupo político que representa, com discurso de ódio, segregação.