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Eleitores aguardam para votar em uma seção na Gávea, na Zona Sul do Rio de Janeiro — Foto: Ana Branco
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terça-feira 3 de setembro de 2024 às 06:04h

Mulher, evangélico e eleitor de baixa renda: o perfil mais indeciso nas eleições

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A quase um mês das eleições municipais, os índices de eleitores indecisos sobre qual candidato escolher nos pleitos de São Paulo e do Rio apontam para um perfil que se repete pelo país. Nas duas cidades, eleitores de baixa renda, mulheres e evangélicos tendem mais que outros segmentos da população a não saber quem escolher para prefeito quando questionados sobre a intenção de voto nas pesquisas espontâneas — modalidade em que não é apresentada uma lista de nomes aos entrevistados. A tendência é observada nos levantamentos mais recentes dos institutos Datafolha e Quaest, divulgados nas últimas semanas.

Apesar dos quadros políticos distintos, as duas capitais mais populosas do país reproduzem números semelhantes nos três segmentos, quando se trata do percentual do eleitorado que não sabe em quem votar. Na pesquisa Quaest, divulgada na semana passada, o recorte por gênero mostra que as eleitoras indecisas em São Paulo somam 64% na pesquisa espontânea, índice que é de 51% entre os homens. Na última pesquisa Datafolha, feita entre 20 e 21 de agosto, a diferença é ainda maior: as mulheres que não indicavam saber em que votar somaram 57%, frente a 37% dos homens.

No Rio, as mulheres aparecem numericamente à frente no índice de indecisos, embora empatadas com os homens na margem de erro, de quatro pontos para o segmento. São 67% as que afirmaram não saber em quem votar para prefeito na pesquisa espontânea da Quaest, contra 62% dos homens. Já no mais recente levantamento Datafolha, as indecisas eram 59%, contra 43% no eleitorado masculino.

Indecisos, segundo as pesquisas — Foto: Arte / O Globo
Indecisos, segundo as pesquisas — Foto: Arte / O Globo

Nas duas cidades, os índices de indecisos também são maiores nos segmentos de menor renda e diminuem conforme sobe o rendimento familiar do eleitor. Outro segmento relevante é o eleitorado evangélico. Em São Paulo, o Datafolha indicou indecisão ligeiramente maior no grupo religioso na comparação com católicos: 55% a 47%. Já a Quaest mostra empate na margem de erro em pesquisa feita em outro dia, com os evangélicos numericamente à frente (62% a 60%).

Na disputa do Rio, o cenário se repete: 74% dos evangélicos se mostram indecisos, segundo a pesquisa Quaest, contra 62% dos católicos. Na pesquisa Datafolha, o placar ficou em 59%, para evangélicos, a 43%, para católicos.

Diferenças na hora de escolha

Na avaliação de cientistas políticos ouvidos pelo jornal O Globo, o acesso desigual a informações sobre política e eleições e as diferenças na forma de decidir o voto nos diferentes segmentos ajudam a explicar os resultados.

— Existe uma característica de mulheres e dos mais pobres de serem mais indecisos, que pode ser vista desde 2018. As mulheres porque medem mais o voto, querem ouvir mais que os homens. Elas estão aderindo menos à espetacularização da política, porque têm um voto mais crítico. Saúde, educação e até a conservação da cidade são mais importantes para elas do que a questão ideológica — avalia o CEO do Instituto Travessia, Renato Dorgan, especialista em pesquisas qualitativas.

Segundo Dorgan, os evangélicos pentecostais e neopentecostais podem figurar nesse quadro de indecisão por serem ou de segmentos mais pobres ou por enfrentarem dificuldades em identificar quem é o candidato da igreja. O último fator pode ser visto em São Paulo, onde o atual prefeito Ricardo Nunes (MDB) costurou acordos com os setores mais conservadores da política paulistana, mas Pablo Marçal (PRTB) seria mais identificado com os valores propagados e defendidos por essa parcela.

A polarização, mais comum entre os homens de classe média, ajuda a entender o outro lado da moeda: o dos eleitores decididos e que não mudam o voto de jeito nenhum. No entanto, nem todas as grandes cidades reproduzem a disputa que mobiliza esquerda e direita, Lula e Bolsonaro.

— Existe uma divisão que vai orientar parte dos votos, e cada capital terá um potencial específico para nacionalizar as campanhas. No Rio e em Recife, com gestões bem avaliadas, o apelo maior que se faz aos eleitores tem a ver com questões mais concretas, do dia a dia — destaca a cientista política Marcia Ribeiro Dias, da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio).

Ainda segundo a pesquisadora, no caso das populações de menor poder aquisitivo e periféricas, que invariavelmente podem abarcar mulheres e evangélicos, a falta de decisão costuma ser resolvida de forma analógica: carros de som, panfletagem e mídias tradicionais. As inserções de propagandas eleitorais ao longo das programações do rádio e da TV aberta, por exemplo, que tiveram início na última sexta-feira (30), costumam ser decisivas.

Cientista político da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e coordenador do Observatório Político e Eleitoral (OPEL), Josué Medeiros chama atenção para as inserções nos intervalos comerciais na TV:

— Por mais que essas pessoas recebam propaganda por outros meios de comunicação, como o WhatsApp, isso não costuma ser o suficiente para confirmar o voto. Elas podem não assistir ao horário eleitoral inteiro, mas escutam nos intervalos, em chamadas com uma linguagem curta e direta, muito semelhante a dos cortes que viralizam nas redes sociais.

A pesquisa Quaest entrevistou 1.200 eleitores em São Paulo e 1.140 no Rio, entre 25 e 27 de agosto. Já o Datafolha ouviu 1.204 eleitores na capital paulista e 1.106 na fluminense entre 20 e 21 de agosto.

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