Como Sergio Moro vê em si o sumo e a essência da honestidade, a pairar acima das mundanidades, não se sente obrigado nem a cuidar das aparências. Segundo Reinaldo Azevedo Colunista do UOL, há muito superou as obrigações que recaíam sobre os ombros da mulher de César, a quem não bastava ser honesta. Havia de parecer também. Com ele, não! Sente-se o próprio César. Se já atravessou o rubicão da condenação sem provas, então pode tudo.
Com milhões de empresas no mundo, o ex-juiz resolveu trabalhar na Álvarez & Marsal. O resto, vocês já sabem. Na hora de indicar o homem forte da sua campanha, aquele que goza de sua irrestrita confiança, a escolha recaiu sobre um amigão seu, o advogado Luis Felipe Cunha.
Segundo o Globo, o homem vai lidar com temas que são nitroglicerina pura:
“Atuará com o time de comunicação do ex-juiz da Lava-Jato, montará a equipe jurídica do candidato e, principalmente, fará a ponte com os empresários que possam virar doadores”.
É no “principalmente” que está o principalmente.
Quando você quer saber em quem um político, um empresário ou um poderoso qualquer realmente confiam, pergunte: “A quem ele atribui a responsabilidade de cuidar do dinheiro?” Essa é a pessoa de confiança.
Com milhões de empresas no mundo também nesse caso, sabem quem é a principal cliente do escritório do faz-tudo de Moro? A Petrobras!
A 13ª Vara Federal de Curitiba, onde Moro atuava, cuidava exclusivamente dos casos relacionados à… Petrobras! A Lava Jato foi criada em 2014, e a relação entre o amigão de Moro e a petroleira dura coisa de cinco anos.
Reproduzo trecho de reportagem do Globo em que Cunha tenta explicar por que, claro!, também aí não há conflito de interesses:
“Cunha afirma que nunca atuou em processos da estatal na área criminal, onde correram os processos da Lava-Jato, e que todos os contratos que ganhou foram vencidos por apresentar o menor preço via licitação pública, da qual participaram outras bancas de advocacia. Segundo ele, isso afasta qualquer conflito de interesses entre sua atuação como advogado e como coordenador da candidatura do ex-juiz:
‘Evidentemente, não há qualquer vínculo ou conflito com a minha atuação profissional neste momento’, disse o advogado, acrescentando que seu escritório é qualificado para atuar nessas ações.
Sobre a possibilidade de que o seu trabalho para a Petrobras seja usado por adversários de Moro na campanha ao Planalto, Luís Felipe afirma que é possível haver crítica ‘infundada, equivocada ou dolosamente distorcida”, mas que não tem receio algum.”
Como se vê, o dublê de advogado e chefão de campanha, supostamente “workaholic, metódico e organizado”, como afirma o texto, acha que o cheiro que emana de óbvio conflito de interesses não se deve ao fato de ele advogar para a Petrobras, empresa de controle público, e cuidar da campanha eleitoral do cara que era juiz exclusivo dos casos que envolviam a Petrobras. Não! Qualquer desconfiança decorre da pura má-fé.
Daí que a sua exposição pública tenha características de, digamos, operação controlada, já com estratégia antecipada de redução de danos. Ele não está sendo descoberto, mas apresentado. E vai dizendo de cara: “Sim, a Petrobras compõe o faturamento do meu escritório”.
Temos de aprender uma lição com Moro: certas pessoas — aquelas de que ele não gosta ou que obstam suas ambições — são culpadas mesmo que os fatos apontem o contrário. É raro que um juiz admita que condenou sem provas. Ele fez isso em embargos de declaração no caso do tríplex. Esses são os indivíduos “abaixo de qualquer suspeita”. Vale dizer: qualquer uma serve para esmagá-los.
E há ele e seus amigos — ou aqueles que ele perdoa (lembram-se Onix Lorenzoni, quando ainda eram amiguinhos?). Bem, nesse caso, temos os cidadãos acima de qualquer suspeita e dos fatos.
Reitero: segundo os critérios que Moro aplicou para os outros, Moro já teria sido alvo de mandado de busca e apreensão, condução coercitiva e prisão preventiva.
Oh, quero preservar Moro dos critérios de Moro.
Mas não será comigo (Reinaldo Azevedo Colunista do UOL) que vai parar acima dos mortais.