sábado 23 de novembro de 2024
O líder do governo no Senado, Jaques Wagner (PT) — Foto: Cristiano Mariz/O Globo
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terça-feira 4 de junho de 2024 às 13:54h

‘Ministro não precisa de convite para ajudar no Congresso’, cobra líder do governo

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Após as derrotas do governo no Congresso, impulsionadas pelo voto de parlamentares de partidos que ocupam ministérios, o líder do governo no Senado, Jaques Wagner (PT), cobrou os ministros a atuarem mais ativamente na articulação política. Em entrevista a Camila Turtelli e Jeniffer Gularte, do O Globo, após a reunião com o presidente Lula que definiu uma mudança de estratégia na relação com o Parlamento, Wagner defendeu a presença mais intensiva do chefe do Executivo para contornar as turbulências e reconheceu que, neste mandato, o chefe do Executivo dedicou menos tempo à tarefa, na comparação com as gestões anteriores: “As pessoas querem bater foto com o presidente, não com o emissário”, destacou.

O senhor participou da reunião da articulação política com o presidente Lula, na segunda-feira. O que muda na estratégia após as derrotas do governo? Ele estará mais presente?

Estamos voltando ao que sempre existiu no primeiro e segundo governos (de Lula), que é a reunião das segundas-feiras. Não tem novidade. Vocês continuam achando que a sessão do Congresso foi uma derrota, mas eu considero uma vitória. Nós não perdemos nada do essencial sobre finanças, mantivemos a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO). Perdemos em temas de costumes e hábitos que rendem na disputa de redes sociais.

Mas Lula queria que o veto dele às restrições à ‘saidinha’ de presos fosse mantido…

Sim, mas ali foi uma questão de opinião. No que é programa de governo, não perdemos nada. É óbvio que ele queria que mantivesse, porque era uma convicção.

Em julho do ano passado, o senhor disse que era “fundamental” a presença de Lula no dia a dia da articulação. Por que isso ainda não aconteceu?

Não sei. Só perguntando a ele. A decisão de retornar (agora) foi dele, certo? O sistema é presidencialista. É a figura dele que puxa, sempre foi. As pessoas querem bater foto com o presidente, com o governador, não com o emissário. A presença dele muda a capacidade de articulação. Mas tem que dar o tempo. Não posso impor. Ele passou um ano e pouco preso. Não pôde ir ao enterro do irmão, foi ao enterro do neto parecendo que era um traficante de altíssima periculosidade, cheio de gente em volta. Ele viu muita gente comemorar a morte da esposa (Marisa Letícia, ex-primeira-dama, em 2017). O cara tem alma, não é de ferro.

Ele tem menos paciência agora para essas conversas com parlamentares?

Evidentemente, você teve um presidente Lula e agora tem outro. Ele continua sendo uma voz de ponderação e está com a mesma vontade de fazer. Quando estamos nas reuniões, é ele quem sugere. O pique é absolutamente o mesmo, a disponibilidade pode não ser a mesma. Mas ele sabe que, quando senta à mesa para conversa, é diferente.

O governo entregou ministérios a partidos de Centrão com a expectativa de ter uma base confortável no Congresso. Não funcionou?

O que Lula fez foi adotar a política que sempre adotou: quem ajudou a conquistar tem direito a se ver no governo. Infelizmente, a relação partido-parlamentar não é mais a mesma. Os parlamentares se sentem muito mais autônomos, por conta das emendas e do fundo partidário. A gente deve começar a fazer reuniões chamando os ministros de tal partido e as suas bancadas. “Cara pálida, e aí? Você está sentado aqui, quantos votos tem o teu partido quando eu preciso?”.

Os ministros de partidos aliados estão dizendo que eles não foram chamados a colaborar na articulação nem para se empenhar no veto da “saidinha”…

Não precisam ser chamados. Se depender de convite, nós convidaremos, mas não precisava ter convite. Alguém que está no governo e não acha que tem que trabalhar para aprovar matéria…

Parlamentares reclamam também que há ministros que não frequentam o Congresso nem os recebem no gabinete. Isso atrapalha?

Reconheço que tem alguns que são mais afeitos a receber, outro menos. Não é favor nenhum ministro receber parlamentar. O sistema democrático. Você tem que aprovar essas coisas aqui e, portanto, atender. Óbvio que o ministro tem uma pauta executiva para tocar, mas eu acho de bom tom separar meio dia na semana para ir desafogando. Não tem ninguém na vida pública que não tem que ser executivo e político. Fora disso, só em outra atividade.

Há possibilidade de reforma ministerial no segundo semestre. O senhor acha que resolve a situação do governo no Congresso?

Reforma ministerial é um critério absolutamente do presidente, que passa por execução daquele ministério e passa, evidentemente, pelas questões da política. Se eu botei alguém lá para representar um grupamento e o grupamento não se sente representado, para mim é um problema. Se eu botei alguém lá que representa o grupamento, mas não realiza nada, é o mesmo problema. A unidade do governo está na figura do presidente da República. É um programa único. Não pode ter um programa para cada ministério. Não estou dizendo que tenha, mas tem gente com essa concepção: “Ministério tal é meu”. Não é seu, querido. Você foi indicado.

E o que falta na articulação política?

Falta nada, só o tempo. A sociedade também tem de dizer que tipo de comando ela quer: o do medo ou o do argumento. Não vou sucumbir ao comando do medo. Não me interessa ganhar nesse mesmo sistema. É uma injustiça falar que a articulação política vai mal. Estamos saindo de uma tormenta, que era o estilo deles (bolsonaristas) de governar: “Não tenho política para dar, então toma dinheiro”. Começou o orçamento secreto. Todo mundo sabe disso. O Congresso foi empoderado. Então, vamos para o parlamentarismo. Se vocês querem esse sistema, temos que mudar, porque aí você está empoderado, mas está responsabilizado.

Sua relação com o ministro Rui Costa (Casa Civil) está abalada?

As pessoas vivem querendo botar uma cunha (rachadura) aí. Não vou botar. Tanto faz se eu gosto mais, se eu gosto menos, se ele gosta mais ou menos. Nós construímos uma história. Não vou jogar fora. Cada um tem seu estilo. É óbvio que eu tenho um cacoete mais da política, ele tem mais o da gestão. A pergunta que tem que ser feita é se quem colocou ele lá está gostando. E eu posso dizer que sim.

Todos os pré-candidatos à presidência da Câmara são líderes de partidos que integram a base do governo. Como o governo fará para não ser atingido nessa disputa?

Não quer e não vai sair chamuscado. Lula vai conviver com quem a Câmara escolher. O que ele pode desejar é que o eleito não seja nem líder da oposição nem líder de governo, o que não é papel do presidente da Câmara. Se depender da minha opinião, governo não entra. Isso é uma coisa entre partidos.

No Senado, o governo deve apoiar Davi Alcolumbre?

O governo não vai apoiar ninguém. O que eu vou fazer como senador é outra coisa. Não existe candidato do governo.

E, como senador, o senhor apoia Alcolumbre?

Meu voto é secreto.

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