Fora dos comandos de Câmara e Senado a partir do mês que vem, os presidentes Arthur Lira (PP-AL) e Rodrigo Pacheco (PSD-MG) começaram a pavimentar os caminhos para a vida “na planície” ou “no chão do plenário”, como costumam dizer os parlamentares. Com o planejamento sobre o futuro político em construção, ambos conseguiram manter a autoridade até o fim do período de quatro anos de gestão. Tanto Lira quanto Pacheco costuraram acordos segundo Lauriberto Pompeu, do com o objetivo de emplacar aliados no comando das Casas — e os nomes apadrinhados são os favoritos.
O presidente do Senado já disse que a tendência é deixar a vida pública em 2027, quando acaba seu mandato. O presidente Lula da Silva (PT) e outros governistas, contudo, vêm tentando convencê-lo a concorrer ao governo de Minas Gerais em 2026. Outra possibilidade seria assumir um cargo de ministro, enquanto a sonhada vaga para o Supremo Tribunal Federal (STF) não aparece.
Lira, por sua vez, dá todos os sinais de que tem fôlego para seguir na política por mais tempo. Aliados veem o Senado como um caminho natural, e o próprio presidente da Câmara já falou publicamente sobre a possibilidade.
Caso seja essa a escolha, ele deve enfrentar o senador Renan Calheiros (MDB-AL), seu adversário histórico. Haverá duas vagas em disputa, mas há no entorno de Lira quem defenda uma composição política em que os dois concorram com o apoio de Lula.
Assim como Pacheco, que tem o aliado Davi Alcolumbre (União Brasil-AP) como favorito para comandar o Senado a partir do ano que vem, Lira possivelmente fará o seu sucessor. Não há definição, porém, de qual posição vai ocupar na gestão de Hugo Motta (Republicanos-PB). O deputado terá, ao menos, influência como um conselheiro.
Interlocutores de Lira dentro do PP dizem que o chefe da Câmara ainda não se programou. Colegas de partido dizem, inclusive, que ele tem dado sinais trocados a respeito de qual grupo político vai ficar mais próximo visando à eleição de 2026. Quem tem conversado com ele diz que ora Lira dá a entender estar ao lado do ex-presidente Jair Bolsonaro, ora sinaliza ter interesse em comandar um ministério no governo Lula.
Para trazer Lira para perto do governo, parlamentares têm falado sobre a possibilidade de o deputado comandar o Ministério da Agricultura. Uma das ideias aventadas é que o atual chefe da pasta, Carlos Fávaro, do PSD de Mato Grosso, volte para o Senado e se torne vice de Davi Alcolumbre. Mas esse não é um caminho fácil. Isso porque a vice já foi prometida ao PL.
Costuras políticas
Integrantes da articulação política do governo negam que haja mudanças ministeriais definidas, e avaliam que alterações nos cargos do primeiro escalão do governo só devem começar a tomar uma forma a partir de fevereiro, com a oficialização das trocas de comando da Câmara e do Senado.
Outra possibilidade defendida por aliados de Lira é que ele assuma um papel de liderança na Câmara e se afaste do governo. A ideia seria repetir o que fez Alcolumbre nos últimos quatro anos. Mesmo fora do comando do Senado, conseguiu manter poder na Casa ao exercer influência sobre Pacheco e outros pares.
— Acho que ele (Lira) permanecer na Câmara nos liderando é mais forte para o projeto dele de 2026 — disse o presidente do PP, senador Ciro Nogueira (PP-PI) ao jornal O Globo no fim de outubro.
Se a opção for continuar no Congresso, o presidente da Casa poderia assumir um cargo com influência, como a relatoria da Lei de Orçamentária Anual (LOA), responsabilidade da Câmara este ano, ou a presidência da Comissão Mista de Orçamento (CMO), indicação da Casa em 2026.
Aliados do presidente da Câmara dizem que o principal objetivo dele é garantir que seja eleito senador em 2026. Há dúvidas, porém, se o melhor caminho para isso é ter o comando de um ministério ou continuar na Câmara exercendo um protagonismo na gestão de Motta.
Em relação à candidatura ao Senado, já são observadas dificuldades que Lira precisará superar. Uma eventual aliança com Renan Calheiros, seu principal rival na política, é considerada difícil.
Lira planeja se candidatar ao Senado em uma chapa que teria o prefeito de Maceió, João Henrique Caldas (PL), conhecido como JHC, como candidato a governador de Alagoas.
Por outro lado, seus rivais tentam articular uma candidatura forte a governador, papel que deve caber ao ministro dos Transportes, Renan Filho, e fazer com que JHC dispute o Senado, o que traria mais concorrência para o presidente da Câmara na ambição de ser promovido a senador.
Chapa em discussão
O chefe da Câmara, no entanto, diz que há um acordo para que JHC dispute a governador e ele, ao Senado.
— Esse é nosso acordo. Público, inclusive — declarou.
Embora seja filiado ao partido de Bolsonaro, o prefeito de Maceió tem se aproximado do governo federal, com vistas a ter Marluce Caldas, sua tia, escolhida para uma vaga no Superior Tribunal de Justiça (STJ). O prefeito chegou a ser convidado a sair do PL e se filiar ao PSD para ter uma proximidade maior com a gestão de Lula. Lira diz não acreditar que o prefeito saia do PL.
Por sua vez, Pacheco adota um estilo diferente em relação ao seu futuro eleitoral. Seus aliados dizem que não vale a pena já se colocar como opção para o governo de Minas Gerais, e que isso deixaria ele mais exposto à fritura de bolsonaristas, que representam praticamente metade dos eleitores do seu estado, de acordo com o resultado da eleição presidencial de 2022.
O entorno do presidente do Senado avalia também que ele não precisa entrar em disputa antecipada. O nome do senador ao governo é defendido por PSD e PT.
Já no campo do governador Romeu Zema (Novo) há divisão entre aqueles que desejam ter o vice-governador Matheus Simões (Novo) como candidato ou o senador Cleitinho (Republicanos-MG).
Em relação a ter um cargo na Esplanada dos Ministérios, tanto integrantes do governo quanto aliados do presidente do Senado dizem que não há nenhuma definição sobre o assunto.
Pacheco tem um desejo antigo de ser ministro da Justiça. A pasta, no entanto, é ocupada por Ricardo Lewandowski, nome próximo do presidente Lula. Ou seja, seria uma troca difícil de ser operada.
Um ministro de Lula diz que Pacheco pode ser incluído na Esplanada, mas ressalta que isso faz parte de um quebra-cabeça maior e que, para ter definido qual lugar ele terá, é preciso ter definido os espaços que todos os partidos terão nessa reforma ministerial.
O senador do PSD tem falado que, quando sair do comando do Senado, vai voltar a ocupar o gabinete 24, onde ele despachava antes de usar a sala da presidência. Pacheco também tem se ocupado em articular quais serão os espaços que o PSD terá no Senado na gestão de Alcolumbre. Foi ele, por exemplo, que intercedeu para que seu partido comande a Comissão de Constituição e Justiça , que deverá ser presidida pelo senador baianao Otto Alencar (PSD) a partir do ano que vem.
Marcos da gestão
Pacheco
- Reforma tributária – Como presidente do Congresso, coube a ele promulgar a PEC, após aprovação nas duas Casas
- CPI da Covid – Foi intimado pelo STF a instalar a comissão, que expôs erros do governo Bolsonaro na pandemia
- Dívida dos estados – Articulou projeto no Senado para refinanciar débitos de governos estaduais com a União
Lira
- Reforma tributária – Entre idas e vindas desde 2021, conduziu a aprovação da PEC, cuja base foi texto surgido na Câmara
- Kit obstrução – Cortou opções regimentais para barrar projetos, o que aumentou aprovações com menos debate
- Votação recorde – Com apoio do PT ao PL, se reelegeu em 2023 à frente da Casa com 464 votos, maior índice até hoje.
Próximos passos
Pacheco
- Governo de MG – Hipótese de concorrer a governador é a mais forte, mas Pacheco evita antecipar entrada na disputa
- Ministro de Lula – Chance de assumir pasta da Justiça, sonho antigo do senador, exige outros ajustes no governo
- Articulação no Senado – Pacheco tem intercedido por espaços para o PSD na Casa, e articulou para emplacar aliado na CCJ
Lira
- Senado por Alagoas – Deputado já admitiu o plano de se lançar a senador em 2026, contra o rival Renan Calheiros (MDB)
- Ministro de Lula – Outra hipótese ventilada é a de assumir a pasta da Agricultura, caso o atual titular ganhe outra função
- Relatoria do Orçamento – Aliados defendem que Lira permaneça na Câmara em posições de destaque, com foco nas emendas