Eleito há dois meses, o presidente da Argentina, Javier Milei, enfrenta nesta quarta-feira (24) seu primeiro grande teste do mandato, diante de uma greve geral liderada pelos principais sindicatos do país. A paralisação tem início às 12h, no horário local, indo até 0h, o que deve afetar serviços como indústria, aeroportos, transporte, bancos, saúde, educação, restaurantes e teatros.
A greve foi convocada pela Central Geral do Trabalho (CGT), união sindical histórica que é vinculada ao peronismo. Também conta com adesão da Central dos Trabalhadores da Argentina (CTA) e outros sindicatos e movimentos sociais. Segundo os participantes, mais de 200 associações internacionais apoiaram a medida.
Em território argentino, ao longo do dia, manifestantes realizarão diferentes concentrações e marchas até o Congresso, em apoio a legisladores que devem votar contra as reformas ultraliberais de Milei.
A mobilização poderá ser sentida até no Brasil. As companhias aéreas Gol e Latam cancelaram e adiaram voos para o país vizinho nesta quarta-feira, já que a Associação de Pessoal Aeronáutico (APA) prometeu parar da 0h à 0h (o que também afeta viagens internas). Além disso, estão marcadas manifestações e panelaços em frente a embaixadas e consulados da Argentina em Brasília (10h), Porto Alegre (13h) e São Paulo (17h), bem como no Uruguai, França, Espanha, Alemanha e Bélgica.
Motivo da greve
A paralisação é uma reação a duas medidas anunciadas em dezembro pelo novo governo para desregular a economia e reduzir os gastos do Estado, que correm em paralelo. A primeira é um “megadecreto”; a segunda, um pacote imenso apelidado de “lei ônibus”, que está sendo discutido no Congresso.
Com 366 artigos, o decretaço já está em vigor, mas teve suspensa pela Justiça a parte relativa à reforma trabalhista. Já o pacotão de leis acaba de ser revisado pelo governo nesta segunda-feira 22, o que excluiu 141 dos seus 664 artigos originais, mas mantém as reformas liberais de base. Está previsto que o texto seja votado no plenário da Câmara nesta quinta-feira, 25.
Reação do governo
A administração de Milei adotou uma postura intransigente em relação à greve e tem tentado dissuadir a população de aderir à mobilização.
“Estão claramente do lado errado da história”, afirmou o porta-voz do presidente, Manuel Adorni, na terça-feira 23, anunciando que os funcionários federais que participarem da paralisação terão o dia de trabalho descontado.
O ministro da Justiça argentino, Mariano Cúneo Libarona, ameaçou entrar com ações judiciais contra os organizadores da greve. Já o ministério da Segurança, liderado pela ex-candidata presidencial Patricia Bullrich, criou uma linha telefônica para denunciar supostas tentativas de coação de sindicalistas para que mais pessoas participem de protestos.
“Sabendo da existência de extorsões, ameaças e pressões a trabalhadores para que no dia 24 de janeiro se somem à greve contra sua vontade, pelo perigo de perder seu trabalho ou ajuda social que recebem, habilitamos a linha 134 para denúncias”, anunciou o ministério.
Ironizando a medida, sindicalistas disseram que vão usar a linha para denunciar as ameaças que sofrem do governo de serem processados por participar do movimento.
Manifestantes também colocarão mais uma vez à prova o “protocolo antipiquetes” criado por Milei e Bullrich. Alvo de controvérsia, a iniciativa consiste em usar forças de segurança federais para impedir o bloqueio de ruas e estradas durante protestos, estratégia recorrente no país. Na prática, porém, ela impede o trânsito dos participantes, dificultando sua chegada nos protestos. Ainda não gerou confrontos diretos.