A reunião de caciques do MDB com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em São Paulo na segunda-feira expôs em números o racha do partido em relação à candidatura da senadora Simone Tebet ao Planalto. No encontro com a cúpula petista, lideranças do MDB em onze estados, concentrados no Norte e Nordeste, declaram apoio à candidatura de Lula no primeiro turno. Segundo Bruno Góes, Jeniffer Gularte e Gustavo Schmitt, do O Globo, a disposição de apoiar o ex-presidente e a pressão feita sobre a pré-campanha de Tebet, no entanto, podem resultar em retaliação da cúpula da legenda.
A direção do MDB tratou o movimento da ala lulista como um ato político isolado, sem chance de prosperar. A aliados, o presidente do MDB, Baleia Rossi (SP), disse que a exposição de caciques ao lado de Lula, tentando forçar uma virada ainda no primeiro turno, acaba por atrapalhar a negociação em um possível segundo turno. A consequência seria um “distanciamento” por conta do assédio da pré-candidatura do PT.
Costurada na semana passada com o senador Renan Calheiros (MDB-AL) durante uma série de encontros políticos de Lula em Brasília, a reunião faz parte de um movimento do PT para atrair partidos de centro, aumentar o leque de alianças para legendas além da esquerda e pressionar a candidatura de Simone.
Nas redes sociais, Baleia disse que Simone Tebet será alçada pelo partido candidata à Presidência:
“Conversei há pouco com alguns dirigentes do MDB que supostamente estariam com outro candidato a presidente. Eles me garantiram que vão apoiar @simonetebetbr na convenção que vai homologá-la candidata. Decidimos por maioria, respeitando as minorias. Teremos apoios nos 27 estados”.
A pré-candidata não se manifestou. Estrategistas de Tebet veem tentativa do PT de resolver a eleição no primeiro turno, com nomes que já integraram as gestões petistas.
A direção do MDB diz contar com o apoio de pelo menos cinco estados dos 11 que se fizeram presentes na reunião com Lula. No Rio de Janeiro, por exemplo, a legenda conta com quadros relevantes que apoiam Jair Bolsonaro. Washington Reis, por exemplo, será vice na chapa de Cláudio Castro (PL) ao governo do Rio — o atual governador é o nome do Planalto no pleito.
Outro argumento é de que os estados com maior peso de decisão na convenção votarão com a senadora, entre eles Rio Grande do Sul, São Paulo, Santa Catarina e Minas Gerais. O MDB também diz que os diretórios de Bahia, Espírito Santo, Maranhão e Piauí estarão com Tebet.
No Pará, do governador Helder Barbalho, a ausência do emedebista à reunião já evidenciou o lado do político. Embora o senador Eduardo Braga (AM) tenha dito que o representou na ocasião, o aceno só se justificaria porque Barbalho tem uma aliança regional com o PT.
Aliados da senadora consideram que os nomes que selaram apoio a Lula já estavam precificados pelo partido, com a exceção de Braga, que se uniu ao petista para reforçar seu palanque ao governo do Amazonas.
— Não há novidade nesses representantes do MDB que estão com Lula e em termos de diretórios eles representam minorias na convenção do MDB. Não muda nada. Só lamento a falta de compromisso partidário, mas isso infelizmente no Brasil é muito comum — disse Roberto Freire, presidente do Cidadania, sigla que apoia a pré-candidatura emedebista.
Mal-estar no entorno de Temer
O apoio do grupo de emedebistas de 11 estados a Lula causou mal estar no entorno do ex-presidente Michel Temer, cujos aliados mais próximos já demonstram pessimismo com a candidatura de Tebet.
Nas últimas semanas, Temer tem demonstrado preocupação em defender as medidas implementadas em sua gestão no Palácio do Planalto como a reforma trabalhista. Esse projeto está na mira dos petistas que prometeram inicialmente sua revogação, mas depois substituíram o termo por “revisão”, na tentativa de abrir diálogo com o sucessor de Dilma Rousseff na Presidência.
Em entrevista ao Globo no início do mês, Temer disse não ter nada contra o petista, mas enfatizou que é difícil manter um diálogo por conta das críticas que recebe dos apoiadores — que o chamam de golpista — e dos ataques do presidenciável a medidas aprovadas durante seu governo, como o teto de gastos e a reforma trabalhista.
Ainda que haja resistência no MDB, o presidente da sigla, Baleia Rossi, tem dito que conseguiu o apoio da maioria dos diretórios e afirma ter confiança de que a sigla vai homologar a pré-candidatura da senadora na convenção do próximo dia 27. Lideranças do MDB, no entanto, afirmam que o apoio a Tebet é apenas protocolar. Também dizem que a candidatura da senadora seria uma forma de “neutralizar” o bolsonarismo dentro do MDB e ainda manter o mínimo de unidade na legenda, que pode chegar mais dividida à disputa presidencial de outubro.