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sexta-feira 16 de dezembro de 2022 às 06:55h

Margareth Menezes: A simbologia da primeira ministra anunciada por Lula

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Ela tem 60 anos, é baiana e encarna boa parte daquilo que Bolsonaro e seu séquito de fanáticos demonstram ter aversão. É mulher, negra, artista e engajada em movimentos sociais. Será ministra da Cultura, seguindo uma tradição iniciada no primeiro mandato de Lula, que convidou para o ministério o cantor e compositor Gilberto Gil, que deixou um legado extraordinário com a criação dos Pontos de Cultura. A um custo baixíssimo, a iniciativa gerou emprego e renda, levando espetáculos, bibliotecas e centros culturais responsáveis por fomentar a economia criativa e estimular a formação de público para as artes em todo o Brasil.

É bem verdade que Gil encontrou a casa arrumada. Seu antecessor na pasta foi o intelectual Francisco Weffort (1937-2021), professor e doutor em Ciência Política pela Universidade de São Paulo. Margareth Menezes assumirá um ministério que deixou de existir em janeiro de 2019 e, como secretaria, teve como gestores Regina Duarte e Mario Frias, eleito deputado federal por São Paulo pelo PL este ano. A gestão de ambos foi marcada por ataques à classe artística e à Lei Rouanet, o que disseminou entre bolsonaristas a crença de que a lei federal de incentivo à cultura é apenas mamata para vagabundos — algo tão absurdo quanto acreditar que a Terra é plana.

Se alguém pretender criticar a escolha de Lula argumentando que a cantora baiana não tem experiência como gestora ou em cargos de comando na administração pública, aqui vão algumas de suas credenciais. Margareth Menezes trocou os holofotes de sua carreira de projeção internacional pela dedicação a projetos sociais. Em 1990, a revista Rolling Stone premiou o disco Ellegibô como um dos cinco melhores álbuns de World Music do ano. A fama cresceu quando cantora excursionou pelo mundo em turnê com o cantor e compositor norte-americano David Byrne, ex-líder da banda Talking Heads. Na década seguinte, o que para muitos pode ter soado como um período de decadência artística foi na verdade pródigo em iniciativas ligadas ao empoderamento de jovens por meio da arte, da educação e da cultura. Fundadora da ONG Fábrica Cultural. Entre os programas mantidos pela entidade estão o Iaô Aprendiz em Cena, um curso técnico de qualificação na área teatral, e o Mercado Iaô, centro de arte, educação e negócios criativos que tem como foco a profissionalização do artesanato baiano. É também de Margareth Menezes a iniciativa Afropop Brasileiro, título do sexto álbum da cantora e que se transformou em um movimento voltado para reverberar a potência da cultura afro-urbana brasileira e suas conexões modernas. Um de seus frutos é o Festival AfroPop.

Sobre as razões para se dedicar a esse movimento, Margareth fez o seguinte comentário, em 2021: “Precisamos pensar o Brasil com mais pertencimento, mais propriedade. A cultura que não se renova fica estática no tempo, endurece e envelhece dentro da sua rotunda. Vivemos tempos de constante modernização e nós, afro-brasileiros, temos o direito e o dever de nos posicionarmos”. Uma afirmação assim denota o compromisso em fazer sua parte para transformar a sociedade. Algo necessário para superar a cultura do ódio e a sensação de impunidade que permite ataques como o de bolsonaristas que xingaram Gilberto Gil em um jogo do Brasil na Copa do Catar.

Ter experiência apenas como articuladora de movimentos culturais e sociais pode não ser suficiente para tornar uma artista capaz de fazer um bom mandato à frente de um ministério. Mas há um fator simbólico na escolha de Margareth para a cultura que transcende até o fato de ela ser negra, mulher, nordestina e artista. Ela foi reconhecida pela MIPAD (Most Influential People of African Descent), instituição chancelada pela ONU, como uma das 100 personalidades negras mais influentes do mundo em 2021. A lista incluiu nomes consagrados na música cono Beyoncé e Jay-Z. Esse reconhecimento dá à futura ministra uma espécie de autoridade para restaurar a imagem internacional do Brasil no campo da cultura. E isso pouca gente pode fazer após o pesadelo dos últimos quatro anos. Muito axé, ministra Margareth Menezes!

Por Celso Masson – Diretor de núcleo da revista IstoÉ Dinheiro

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