Até pouco tempo atrás, o magistrado responsável pela Lava-Jato no Rio era aliado de Witzel – agora, se aproxima de Bolsonaro
Enquanto monta uma composição em São Paulo para enfrentar o governador João Doria (PSDB), o presidente Jair Bolsonaro tenta construir no Rio de Janeiro uma aliança com o mesmo espírito: derrotar outro ex-aliado e agora desafeto, o também governador Wilson Witzel (PSC). Para a eleição municipal, o parceiro escolhido (embora no primeiro turno a tendência é que Bolsonaro fique neutro) deve ser o atual prefeito, Marcelo Crivella (Republicanos), a quem o presidente chegou a convidar para dançar em um evento evangélico na Praia de Botafogo no último dia 15 — foi correspondido, e o vídeo viralizou na internet.
O ‘namoro’ mais surpreendente de Bolsonaro, porém, é com outro personagem que estava no mesmo palanque, o juiz federal Marcelo Bretas. Até pouco tempo atrás, o magistrado responsável pela Lava-Jato no Rio era aliado de Witzel — colegas de toga, iam a eventos juntos, principalmente jogos do Flamengo, e a irmã de Bretas, Marcilene Cristina Bretas Santana, foi nomeada assessora da Controladoria-Geral do Estado em abril pelo governador. Nas últimas semanas, o juiz vem se afastando de Witzel (chegou a apagar os registros com o governador em suas redes sociais), ao mesmo tempo que se aproxima de Bolsonaro. Bretas acompanhou a comitiva oficial também na inauguração de uma obra na Ponte Rio-Niterói — nas duas solenidades foi convidado pelo presidente.
Nos bastidores, comenta-se que Bretas procura se afastar de Witzel desde que o governador foi citado por um delator no âmbito da Operação Calvário como beneficiário de caixa dois nas eleições. Ao se aproximar de Bolsonaro, o juiz estaria de olho ainda nas duas vagas no STF que serão abertas com a aposentadoria de Celso de Mello e de Marco Aurélio Mello em 2020 e 2021, respectivamente (evangélico, Bretas se enquadraria no pré-requisito de Bolsonaro de escolher um juiz “terrivelmente” adepto da religião para a Corte). A movimentação recente de Bretas, no entanto, irritou procuradores da Lava-Jato, que temem a perda de credibilidade de suas decisões. O Conselho Nacional de Justiça vai apurar se o juiz cometeu “atos de caráter político-partidário” e de “superexposição e promoção”.