As pré-candidatas a prefeitas do Rio de Janeiro, de Montes Claros e de Salvador – Benedita da Silva, Leninha Souza e Major Denice Santiago – apontaram o racismo e a desigualdade de gênero como elemento desafiador para suas postulações, cada uma na sua cidade. Aposta do PT para três cidades de grande importância para o país, o trio encontrou-se em live especial do PT Brasil, promovida pela Secretaria Nacional de Combate ao Racismo do partido em homenagem ao Dia Internacional da Mulher Negra, Latino-Americana e Caribenha, comemorado neste sábado, 25 de julho.
As dificuldades enfrentadas nas suas trajetórias públicas, seja na política ou nas profissões, foram elencadas pelas três pré-candidatas petistas. Exemplos de racismo estrutural e explícito, como terem assessoras brancas confundidas com deputadas na presença delas ou serem tratadas como funcionárias das Casas Legislativas onde atuam, foram lembrados. As três ainda apontaram os desafios de pensar a gestão de cidades tão relevantes a partir da pauta negra e do debate sobre igualdade de gênero.
“Quando mais forte uma mulher negra estiver, mais forte eu também estou. Elas também podem vir, porque todas juntas estamos muito mais fortes. Todas nós sofremos com o machismo e com o racismo”, afirmou Major Denice. A ex-comandante da Lei Maria da Penha, que conviveu durante anos atendendo mulheres violentadas, ainda pontuou que “o patriarcado estrutura a nossa sociedade e provoca um outra pandemia perversa, que é o feminicídio” sofrido pelas mulheres. “E ainda vamos sofrer, além disso, o racismo. Se uma mulher já é enfraquecida, uma mulher negra pior. Essa é uma construção extremamente perversa que tentou nos limitar, mas nós fomos lá e fomos transformando esses espaços, a polícia”, disse Major Denice.
Abrindo sua fala com poesia da mineira Conceição Evaristo, Leninha Souza ainda foi longe ao dizer que “as mulheres são como as águas, quanto mais você junta, maior elas ficam”. A pré-candidata do PT de Montes Claros ainda frisou que as cidades governadas por mulheres passam por um tipo diferenciado de gestão, mais ligada ao cuidado com as pessoas.
“Eu creio que nós mulheres, do nosso jeito de fazer as coisas, é diferente, mais cuidadoso, afetuoso, e creio que o mundo vai se transformar quando estivermos ocupando os espaços, quando nós mulheres e mulheres negras estivermos disputando, governando as cidades”, profetizou a mineira, deputada estadual do PT.
Deputada federal, ex-governadora, ex-ministra, ex-vice-governadora e pré-candidata à Prefeitura do Rio, Benedita da Silva finalizou a atividade do PT nacional colocando todo mundo para sambar e chorar, ao entoar versos da canção ‘Mulher Brasileira’, da grande sambista Leci Brandão, deputada estadual do Estado do Rio de Janeiro. “Uma grande mulher com um grande ideal é o que a gente precisa/ sempre foi retaguarda, mas vai pra vanguarda de modo viril/ E é a esperança no futuro do Brasil”, diz a letra da música.
Antes, Benedita já havia feito um forte discurso sobre o papel das mulheres negras na construção do Brasil e das suas riquezas. “Quando falamos de mulheres e sobretudo de mulheres negras, estamos falando do Brasil, da maioria das famílias brasileiras, do feminicídio, da que ganha menos no mercado de trabalho, da que é violentada, da violência doméstica, da mulher que é a última a ser atendida no hospital porque aguenta mais no imaginário das pessoas”, afirmou.
“Hoje falamos em economia solidária, mas quem constrói a economia desde o fim da escravidão são as mulheres negras, as economistas do Brasil. Nós somos arquitetas e engenheiras, porque fomos nós que fomos para a favela e construímos os barracões. Eles sabem que nossos passos vêm de longe. Eles sabem”, emocionou.