De volta ao Brasil após cumprir um longo roteiro por países da África, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva terá uma série de questões a resolver nesta semana. A mais urgente delas ele trouxe na bagagem da viagem e envolve a crise diplomática criada após comparar a ação de Israel na Faixa de Gaza ao Holocausto. A declaração, em entrevista na Etiópia, gerou uma forte reação do governo israelense e a convocação do embaixador do Brasil no país do Oriente Médio.
O governo brasileiro vai aguardar o resultado dessa reunião em que o embaixador brasileiro, Frederico Meyer, deve ouvir reprimendas dos representantes de Israel antes de se manifestar. A ideia é evitar que a crise ganhe maiores proporções e acabe por afetar a relação entre os dois países.
Representantes do governo do Oriente Médio afirmaram, em caráter reservado, que Israel também discute quais serão as ações adotadas em relação à fala de Lula, além do repúdio público. No X (antigo Twitter), Netanyahu escreveu: “Trata-se de banalizar o Holocausto e de tentar prejudicar o povo judeu e o direito de Israel se defender. Comparar Israel ao Holocausto nazista e a Hitler é cruzar uma linha vermelha. Israel luta pela sua defesa e pela garantia do seu futuro até à vitória completa, e faz isso ao mesmo tempo que defende o direito internacional”.
Já no plano nacional, Lula precisará agir para melhorar a articulação política com o Congresso, que volta aos trabalhos nesta semana após o carnaval. Como mostrou o GLOBO, o presidente pretende chamar líderes da Câmara e do Senado para discutir a pauta econômica que pretende aprovar ainda no primeiro semestre.
Na lista que será apresentada pelo presidente estão a regulamentação da reforma tributária, programas para aumentar acesso ao crédito, projetos relacionados à transição ecológica e medidas que aumentam a arrecadação. É este últmo item, porém, que enfrenta mais resistências após o governo editar Medida Provisória (MP), no fim do ano passado, para suspender a desoneração da folha de pagamentos e benefícios do Programa Emergencial de Retomada do Setor de Eventos (Perse).
Na tentativa de amenizar o momento turbulento com o Congresso, impulsionado pelo veto do presidente Lula a R$ 5,6 bilhões em emendas de comissão, o governo prepara uma série de acenos. O principal deles é instituir um calendário para o pagamento das verbas indicadas pelos parlamentares, demanda antiga do Parlamento. O Palácio do Planalto também indicou que vai manter distância da eleição à presidência da Câmara, que já movimenta deputados, e há ainda negociações para destravar o repasse de verbas do Ministério da Saúde.
Fuga em Mossoró
Internamente, Lula também terá que lidar com desgaste pelo registro da primeira fuga de um presídio federal no país. As buscas pelos dois fugitivos da Penitenciária Federal de Mossoró, no Rio Grande do Norte, já duram seis dias.
Ontem, em coletiva de imprensa na Etiópia, Lula disse que é preciso saber como os detentos “cavaram um buraco e ninguém viu”.
— A primeira pessoa que disse que estaria fazendo uma sindicância para apurar se houve participação de alguém que trabalhava no presídio foi o ministro Lewandowski e, por isso, estamos à procura dos presos e esperamos encontrá-los. Queremos saber como esses cidadãos cavaram buraco e ninguém viu. Só faltaram contratar escavadeira.