O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) abrirá a Assembleia Geral das Nações Unidas, em Nova York, nesta terça-feira (18) e deve aproveitar o mote de que o Brasil está de volta ao cenário internacional para criticar a atual ordem mundial, que, segundo ele, escanteou as decisões do chamado Sul Global. O petista deve ter agenda cheia, diz a revista Veja, tendo recebido mais de 50 pedidos de encontros bilaterais antes mesmo de sua chegada aos Estados Unidos.
Uma das reuniões já foi confirmada com o presidente americano, Joe Biden, na quarta-feira. Depois desse encontro, é esperado o anúncio de uma iniciativa conjunta dos Estados Unidos e Brasil sobre melhoria de condições de trabalho e geração de empregos.
A medida tratará de políticas para trabalhadores de aplicativos, direito de representação sindical e condições para o trabalho decente. Dirigentes sindicais de ambos os países estarão presentes no encontro, e o trabalho entre os dois países nesta área começou em julho.
Existe, ainda, a expectativa por parte de setores da comunidade internacional, principalmente da Casa Branca e de países da União Europeia, de uma possível bilateral entre Lula e o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky. O evento ainda não foi confirmado, mas, segundo a agência de notícias Reuters, o governo brasileiro ofereceu dois horários ao líder de Kiev.
Se ocorrer, a reunião acontecerá após vários desencontros entre os dois chefes de Estado nos últimos meses.
Na cúpula do G7, no Japão, em maio, Zelensky havia pedido um encontro com Lula. O governo brasileiro disse que ofereceu alguns horários, com a informação de que o petista desmarcaria algum compromisso ou adiaria outros para priorizar o líder ucraniano. No horário marcado, no entanto, Zelensky não apareceu, de acordo com a diplomacia brasileira. Depois, o presidente ucraniano disse que houve uma “incompatibilidade de agendas”.
Desta vez, foi a Ucrânia quem pediu uma bilateral entre os dois presidentes em Nova York, mas nenhuma reunião foi confirmada até o momento.
Com um discurso focado no resgate da agenda dos países em desenvolvimento, Lula deve usar a Assembleia Geral como palco para voltar a reivindicar um assento permanente para o Brasil no Conselho de Segurança das Nações Unidos — desejo nutrido desde a fundação do organismo, na década de 1940.
O petista argumenta que, mais de um ano e meio após a invasão da Ucrânia pela Rússia, o órgão fracassou na busca de soluções para a paz. Neste contexto, o governo Lula já se ofereceu como mediador, defendendo uma espécie de “clube de paz” com outras nações em desenvolvimento, como Índia, Indonésia e África do Sul.
No entanto, entre os membros permanentes, os Estados Unidos são contra a ampliação. A China também não aceita a ideia, por causa do Japão, que também é candidato. E a Rússia, apesar das declarações de apoio ao Brasil, foi um dos que barrou o assento brasileiro no passado, alegando que o Ocidente já tinha três representantes: Estados Unidos, Reino Unido e França.
Além disso, como fez na cúpula do G20 na Índia, Lula deve dizer que o Brasil tem legitimidade para pedir atenção e cooperação no tema das mudanças climáticas e ainda cobrar dinheiro e comprometimento das nações desenvolvidas. Outros pilares já anunciados por ele, ao assumir a presidência do G20, no último fim de semana, devem aparecer no discurso nas Nações Unidas: uma ação global de combate à fome, a redução das desigualdades e o desenvolvimento econômico sustentável, baseado em aspectos ambientais e sociais.