Vice-presidente do União Brasil, o ex-deputado federal e ex-prefeito ACM Neto, disse em entrevista a Julia Chaib e Camila Mattoso, da Folhapress, que as eleições municipais mostraram um presidente Lula da Silva (PT) enfraquecido e afastado das ruas, o que abre caminho para seus adversários em 2026.
ACM Neto, que integra a ala do partido mais refratária ao governo, defende esse enfrentamento com o PT, e diz que Lula faz um governo de esquerda, apesar de o próprio União Brasil, além de PSD, MDB, PP e Republicanos somarem 11 ministros na Esplanada.
“Se os outros campos políticos se organizarem, é possível ter uma eleição competitiva em 2026”, diz o político baiano, que foi derrotado pelo PT nas eleições para governador em 2022.
Qual é o balanço dessa eleição municipal e o recado que sai das urnas em termos de força de campos políticos?
O fator preponderante para a escolha do candidato a prefeito é a realidade de cada cidade. Isso tem muito mais peso do que as influências políticas externas. Sem desprezar situações específicas, ficou claro que a eleição foi municipal, muito mais do que nacional.
O segundo ponto é a ausência do presidente Lula, que, historicamente, participou de maneira muito ativa das eleições municipais. Em pouquíssimos lugares ele compareceu fisicamente e, mesmo os vídeos que gravou, na minha opinião, não tiveram maior efeito. Mostra que Lula não tem mais a liderança e o capital político que já teve, quando muitos acreditavam que apenas pela vinculação com ele já seria o suficiente para decidir uma eleição.
Por que acha que ele não participou?
O momento do governo não é extraordinário, ele não está no auge da popularidade. E a gente percebe certa dificuldade nesse governo de contato com as ruas.
Aliados de Lula dizem que ele não quis rachar a base, a qual seu partido integra, para evitar indisposições.
Não acho que tenha sido o propósito principal. Até porque não houve nenhuma conversa prévia de coordenação política para dizer: olha, o presidente não vai se envolver, porque aqui há dois, três partidos da base. Acho que [se ausentou] foi por medo de trazer a derrota para o colo do governo.
O que significa para 2026 essa sua constatação de que Lula não tem mais a força que tinha?
O presidente se elegeu em 2022 com o país muito dividido. Quem foi preponderante para a eleição dele não foi a esquerda, foram muitos eleitores de centro que rejeitavam Bolsonaro. De certa forma, todos os principais movimentos do governo, desde que o presidente assumiu, desconsideraram esses eleitores.
Tudo isso fez com que eles fossem perdendo, gradualmente, uma parte da força e do capital que acumularam na eleição. Aí entra um horizonte para frente. Se os outros campos políticos se organizarem, é possível ter uma eleição competitiva em 2026.
Qual campo saiu vitorioso?
Dá para ver claramente quem foi o derrotado: o PT, que até agora, em primeiro turno, não elegeu um prefeito de capital. Quando a gente vai observar do ponto de vista quantitativo, você tem alguns partidos que se destacaram: PSD, MDB, Progressistas, União Brasil. Esses partidos saem vitoriosos.
Vê o enfraquecimento da polarização nessa eleição?
A eleição municipal não necessariamente segue esse caminho, apesar de, em alguns lugares, isso ter acontecido. Mas o país continua polarizado e a dinâmica para a eleição presidencial é diferente. A tendência é que ainda exista, sim, uma polarização, talvez não com o desenho de 2022.
Qual a avaliação sobre o ex-presidente Jair Bolsonaro?
Ele teve uma participação muito mais presente do que Lula, mas não acho que a eleição municipal tenha sido decidida por Bolsonaro ou Lula. Ninguém está anulando a força nem dele, nem do Lula. Mas uma coisa é ter peso, outra é decidir a eleição.
Sobre São Paulo, o que aconteceu com Pablo Marçal representa uma perda de controle do Bolsonaro sobre o eleitorado?
Houve uma época em que você colocava o poste e elegia o poste, apenas pela força do padrinho. Isso é cada vez menor no país. E aí você vem para o fenômeno, por exemplo, do Pablo Marçal. Ele, da forma como ele é, representando um certo setor da direita, acabou puxando esses votos, independente de Bolsonaro querer evitar ou impedir isso. Essa coisa de que Bolsonaro ou Lula manda nos votos acabou. E São Paulo é uma prova disso.
Qual o seu diagnóstico em relação à direita? [O pastor] Silas Malafaia criticou Bolsonaro, Ricardo Nunes não quer o apoio de Marçal, Ciro Nogueira falou sobre os erros de Bolsonaro…
Os comentários mostram a relevância e o protagonismo que a direita teve na eleição. O próprio Tarcísio levando o Nunes para o segundo turno sai com um tamanho político maior. Ronaldo Caiado (União Brasil) em Goiás fez 94 prefeitos. Você tem hoje no campo da direita nomes novos, e não acho necessariamente ruim.
Falando de eleição da Câmara, um dos seus principais aliados, o baiano Elmar Nascimento, é candidato e tem buscado Lula por apoio. Ele mantém a candidatura e ele quer ser o candidato do governo?
Primeiro, o Elmar é o candidato à presidência da Câmara do União Brasil. Eu sempre compreendi que o papel dele como deputado federal é diferente do meu. Da mesma forma, eu sei que ele compreende que eu tenho que fazer oposição ao PT. Ninguém se elege presidente da Câmara de si próprio ou de um partido só. E qualquer um dos nomes que estão aí deseja ter o apoio do governo. Óbvio.
Vocês têm dois candidatos, um na Câmara e um Senado, com Elmar e o senador Davi Alcolumbre. Se tiverem que abrir mão de um, em nome de um acordo com os partidos, vocês abrem mão de quem?
Não misture alhos e bugalhos. Eu era presidente do Democratas, tínhamos uma bancada diminuta, e elegemos Rodrigo Maia e Davi Alcolumbre presidentes das duas Casas. Então não existe isso ‘ah, porque é do mesmo partido’. A dinâmica das eleições são bem separadas. Eu não perco o meu sono com essa preocupação de ter que escolher um e entregar a cabeça do outro.
RAIO-X
Antônio Carlos Magalhães Neto (ACM Neto), 45 anos
É vice-presidente nacional do União Brasil. Formado em direito pela UFBA (Universidade Federal da Bahia), foi deputado federal por três mandatos. Eleito pela primeira vez em 2002, renunciou ao mandato em 2012 para assumir a prefeitura de Salvador. Em 2016, foi reeleito prefeito. Disputou o governo da Bahia em 2022 e acabou derrotado.