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sexta-feira 4 de março de 2022 às 20:03h

Lula não é mais hegemônico na esquerda: petistas e filiados a outros partidos do bloco já questionam suas decisões

NOTÍCIAS, POLÍTICA


De acordo com matéria na IstoÉ, já se foi o tempo em que Lula tomava uma decisão sobre a conduta que as esquerdas deveriam ter e todo mundo cumpria sem contestação. Na eleição de 2018, inclusive, o ex-presidente mandava no PT e em seus satélites de dentro da cadeia em Curitiba. Hoje, os desígnios do manda-chuva petista não são levados a sério nem mesmo pelos lulopetistas. A desistência de Jaques Wagner da candidatura ao governo da Bahia é um exemplo dessa desobediência. Nome escolhido pelo próprio Lula para a disputa, o senador anunciou que estava fora do páreo numa reunião com dirigentes do partido na última segunda-feira, 28. De acordo com Wagner, sua decisão não implica na retirada de uma candidatura do PT, que ainda pode lançar outro candidato. “Quem decidirá se haverá candidatura ou não, não sou eu, será o partido”.

A verdade é que Jaques Wagner contrariou Lula e bagunçou os planos do PT para o estado, que incluíam a candidatura do atual governador Rui Costa para o Senado. Sem perder tempo, no mesmo dia da desistência de Wagner, o senador Otto Alencar (PSD) anunciou que poderia concorrer ao governo baiano. Disse que também tinha o aval do Lula, mas essa reviravolta não agradou parte da bancada do PT, que abriu dissidência com Lula.

No Espírito Santo, a situação também não está fácil para garantir a unidade pedida por Lula para manter a aliança com o PSB no estado. A tentativa do partido do demiurgo de Garanhuns é fechar uma federação com os socialistas, mas essa união está longe de ser concretizada. Afinal, se o PT se unir ao PSB, o casamento tem que durar por quatro anos e a associação tem que valer para todos os estados e isso enfrenta vários obstáculos. Muito embora o PT já tenha lançado a pré-candidatura do senador Fabiano Contarato (PT) ao governo do estado, a reeleição do governador Renato Casagrande (PSB) está no horizonte socialista.

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Lula vê traição entre aliados

Recentemente, o governador foi abatido por pesadas críticas dos petistas. Casagrande levou pedradas depois de receber para um almoço em Vitória o ex-juiz Sergio Moro, pré-candidato do Podemos à Presidência e um dos carrascos de Lula. Nos bastidores, fala-se que esse encontro soou como traição, ainda mais depois que o governador achou por bem concordar com uma postagem no Twitter do subsecretário de Estado de Políticas Sobre Drogas, Carlos Lopes, onde ele dizia que “o PT fez alianças até com satanás e agora quer regular quem o governador recebe”. Casagrande disse que os petistas são “arrogantes e prepotentes”.

Petistas dizem que a relação está estremecida. O presidente do PSB-ES, Alberto Gavini Filho, lembra que o partido não tem somente o PT para conversar. “Temos outros parceiros no estado, como PDT e Podemos”, disse Gavini, acrescentando: “Ter uma única opção afeta muito porque impede outros palanques. Para nós, é uma questão pragmática”. O PSB já confirmou apoio ao PT na Bahia, em Sergipe e no Piauí e reivindica agora uma contrapartida, como o apoio dos petistas em São Paulo ao ex-governador Marcio França (PSB), embora Lula não abra mão de Fernando Haddad para o posto. Em Pernambuco, o PSB exige o apoio do PT a Daniel Cabral; e no Rio de Janeiro, impõe a união dos petistas em torno de Marcelo Freixo. No Rio Grande do Sul, o PSB quer que Lula apoie Beto Albuquerque (PSB).

É exatamente por essa resistência do PT de Lula em apoiar França em São Paulo, Beto Albuquerque no Rio Grande do Sul e Casagrande no Espírito Santo que está se inviabilizando a união em torno de uma federação com o PT como Lula imaginou. O presidente nacional do PSB, Carlos Siqueira, disse que para avançar com a federação tem que haver acordo nos Estados. Para ele, onde o PSB é governo, o PT tem obrigação de apoiá-los. E Lula precisa descer do salto alto e perceber que a esquerda já não o segue como cordeirinho.

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