O presidente Lula da Silva (PT) voltou a cobrar a responsabilidade dos países ricos na crise climática durante participação por videoconferência na cúpula dos Brics, que acontece na Rússia. Um acidente doméstico no sábado impediu a viagem de Lula ao país por recomendações médicas.
— O Brics é ator incontornável no enfrentamento da mudança do clima, não há dúvida de que a maior responsabilidade recai sobre os países ricos, cujo histórico de emissões culminou na crise climática que nos aflige hoje. É preciso ir além dos 100 bilhões anuais prometidos e não cumpridos e fornecer medidas de monitoramento dos compromissos assumidos.
Ontem, Lula conversou com o presidente russo Vladimir Putin. “O presidente Putin quis saber do estado de saúde do presidente e lamentou que ele não pôde ir à Cúpula dos Brics, e o presidente Lula também, devido ao acidente sofrido no sábado. E que serão feitos os arranjos para a participação dele na reunião por videoconferência”, diz a nota da Presidência.
Em seu discurso, Lula mencionou pontos importantes da sua política internacional, ampliada principalmente através da presidência brasileira do G20, como a Aliança Global Contra a Fome e a Pobreza e a taxação de super ricos. Lula também destacou a realização da COP 30 no Brasil e falou sobre a presidência brasileira dos Brics.
— Na presidência brasileira dos Brics, queremos reafirmar a vocação do bloco na luta por um mundo multipolar e por relações menos assimétricas entre os países. Não podemos aceitar a imposição de apartheids no acesso à vacina e medicamentos como ocorreu na pandemia, nem no desenvolvimento de inteligência artificial que caminha para se tornar privilégio de poucos.
Até o ano passado formado por Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul, agora o Brics aumentou para dez países. Por iniciativa da China, o bloco conta agora com Egito, Irã, Emirados Árabes Unidos, Arábia Saudita e Etiópia.
Lula também criticou a estrutura financeira mundial e afirmou que hoje acontece um “Plano Marshall” às avessas, com países em desenvolvimento financiamento países desenvolvidos. Nesse contexto, Lula citou a presidência de Dilma Rousseff no Novo Banco de Desenvolvimento, ou Banco dos Brics, destacando as linhas de crédito.
— O fluxo financeiro continua seguindo para as nações ricas. É um Plano Marshall às avessas, em que as economias emergentes em desenvolvimento financiam o mundo desenvolvido. […] O novo Banco de Desenvolvimento que neste ano completa 10 anos tem investido na infraestrutura necessária para fortalecer nossas economias e promover uma transição justa e soberana. Sobre a liderança da companheira Dilma Rousseff, o NDB conta com uma carteira com quase 100 projetos com financiamento na ordem de US$ 33 bilhões.
Há, ainda, pelo menos 30 outras nações interessadas em entrar para o clube, como Venezuela e Nicarágua, e outras que tentam preparar o terreno para uma futura candidatura, como o Afeganistão, que tem o Talibã à frente do governo.
Diante disso, Lula buscará temas relacionados à origem econômica do Brics para mostrar que não compactua com a tese de que o grupo está crescendo como oposição ao Ocidente.
Acidente doméstico
No sábado, Lula sofreu uma queda no banheiro, bateu a cabeça e precisou levar pontos na região. O médico do presidente, Roberto Kalil, afirmou que exames apontaram “mínimo ponto de hematomas” no cérebro do presidente após a queda. De acordo com Kalil, é pouco provável que esse hematoma evolua.
Após a queda, Lula foi atendido no Hospital Sírio Libanês em Brasília e precisou levar pontos no local. Com o acidente, ele cancelou a ida à Rússia onde participaria da Cúpula do Brics.
Kalil o liberou para trabalhar normalmente, porém sem atividades físicas nesta semana. Nesta segunda-feira, ele seguiu a recuperação no Palácio da Alvorada, mas recebeu ministros para reuniões.
Nesta segunda-feira, Lula afirmou que o acidente doméstico que sofreu no sábado foi “grave”, mas que não afetou a parte “mais delicada” da cabeça.