quinta-feira 30 de janeiro de 2025
Lula durante a reunião ministerial — Foto: Ricardo Stuckert/Divulgação
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terça-feira 28 de janeiro de 2025 às 14:30h

Lula desenha reforma ministerial por 2026 e ministros tentam se salvar; veja cenários

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Em meio à busca por ajustar a base e também pavimentar o apoio de partidos de fora da esquerda em sua possível busca pela reeleição em 2026, o presidente Lula da Silva (PT) começa a traçar alguns cenários conforme reportagem de Caio Spechoto e Sofia Aguiar, do Broadcast/Estadão, para a reforma ministerial que deve realizar nas próximas semanas.

Há no mundo político, a expectativa de que Lula faça mudanças no primeiro escalão do governo tanto para trocar ministros com trabalho mal avaliado pela cúpula do Executivo quanto para reorganizar seus partidos aliados. O presidente, porém, tem dado sinais trocados sobre o tema. Segundo apurou a reportagem, ele às vezes indica que fará uma reformulação ampla e, em outras ocasiões, que planeja alterações pontuais. Nesse cenário, só as trocas de ministros muito próximos do presidente da República, como Rui Costa (Casa Civil) e Fernando Haddad (Fazenda), estariam totalmente descartadas.

As discussões e especulações sobre a reorganização dos partidos da base do governo têm ainda dois eixos principais: o que fazer com Rodrigo Pacheco (PSD-MG) e Arthur Lira (PP-AL), que deixam as presidências do Senado e da Câmara no início do mês que vem; e como manter próximos o MDB e o PSD, tidos como os principais aliados do Planalto fora da esquerda. Além disso, Lula tentaria começar a organizar seu grupo político para as eleições de 2026.

São esperadas conversas com as bancadas do PSD e do MDB na Câmara nas próximas semanas. Os emedebistas se dizem contemplados pela atual formação do ministério, com Renan Filho (Transportes), Jader Filho (Cidades) e Simone Tebet (Planejamento). Pessedistas, porém, têm dito nos bastidores que o ministério dedicado à bancada do partido na Câmara não atende às suas expectativas. Trata-se do ministério da Pesca, comandado por André de Paula, ex-deputado pela legenda.

Uma das mudanças em debate seria o remanejamento do PCdoB, que hoje ocupa o Ministério de Ciência e Tecnologia (MCTI), para o Ministério da Pesca no provável redesenho de seu primeiro escalão. A ideia seria liberar a pasta hoje comandada por Luciana Santos para uma negociação política envolvendo partidos de fora da esquerda. Também é especulada a ida da ministra para o Ministério das Mulheres, no lugar de Cida Gonçalves.

É quase consenso no entorno do presidente Luiz Inácio Lula da Silva que o MCTI é um ministério grande demais para um partido com apenas 8 deputados, como o PCdoB, e que pode ser uma pasta útil para reacomodar legendas mais poderosas da base do governo. O problema é que o clima na comunidade científica, onde o presidente da República tem apoio, costuma ser contrário a entregar o ministério a partidos do Centrão. Além disso, ao nomear Luciana Santos para a pasta, o presidente da República não teria feito um cálculo sobre a correlação de forças no Congresso, mas recompensado um partido que o apoia há décadas.

As especulações sobre o Ministério da Pesca se devem justamente ao descontentamento da bancada do PSD na Câmara, que acha a pasta pequena demais para seu tamanho. A estrutura é comandada por André de Paula, ex-deputado. Ele tem bom trânsito entre os congressistas do partido e deverá continuar sendo ministro caso Lula troque a pasta dedicada ao PSD da Câmara. O partido tem outros dois ministérios, mas ocupados por políticos oriundos do Senado – Carlos Fávaro (Agricultura) e Alexandre Silveira (Minas e Energia).

Afastado de Pacheco e com o cargo em risco, Silveira ganhou o apoio agora justamente de parte da bancada do partido na Câmara. O aval pode dificultar uma eventual troca na pasta. Silveira e Pacheco foram aliados próximos por anos. O hoje ministro foi alçado ao cargo por indicação do presidente do Senado. Agora, os dois vivem um afastamento político. Pacheco e Davi Alcolumbre (União-AP), favorito para ser o próximo presidente do Senado, comunicaram ao Planalto semanas atrás que o ministro de Minas e Energia já não contempla o acordo firmado no início do governo. Dessa forma, a permanência de Silveira no primeiro escalão se tornaria cota pessoal do presidente, não mais uma indicação da legenda.

Alexandre Silveira, porém, tem atendido aos deputados do PSD, seu partido. A legenda tem bancadas relevantes em Estados onde há muita mineração ou petróleo, como Minas Gerais, Rio de Janeiro e Pará. A força política do Ministério de Minas e Energia é maior em locais com essas características. A capacidade política de um ministério no Rio de Janeiro é especialmente importante para o partido porque o prefeito da capital do Estado, Eduardo Paes, quer ser candidato a governador.

Outro motivo que faz a bancada pessedista na Câmara ter interesse no MME é a Comissão de Minas e Energia da Casa, presidida pelo partido. O colegiado serve para discutir projetos para a área e tem emendas de comissão para destinar a projetos executados pelo Ministério de Minas e Energia.

Um fator que vai além de acordos entre o governo e os partidos políticos também pesa a favor de Silveira. Ele se aproximou de Lula e da primeira-dama, Janja Lula da Silva, ao longo desses dois anos de governo. Também tem afinidades com o ministro da Casa Civil, Rui Costa. Diante dessas relações, interlocutores do governo avaliam que é possível que Silveira saia da cota partidária e migre para a pessoal de Lula nas próximas semanas.

Nos últimos dias, o governo deu início a conversas com partidos de fora da esquerda para entender quais são as demandas das siglas para apoiar a gestão Lula em seus dois anos finais – e em uma eventual reeleição em 2026. Na terça-feira, 21, o ministro de Relações Institucionais, Alexandre Padilha, esteve com o deputado Hugo Motta (Republicanos), favorito na eleição de presidente da Câmara, e com o secretário de Indústria e Comércio do Paraná, Ricardo Barros – deputado licenciado pelo PP e um dos políticos mais influentes do partido.

Os deputados do PSD almejam o Ministério do Turismo no lugar da Pesca por ter mais capilaridade nos Estados e municípios. Caso consigam a troca, o provável nome para a nova pasta seria o próprio André de Paula. O Ministério do Turismo tem R$ 1,1 bilhão previsto no Orçamento de 2025 proposto pelo Executivo, enquanto o da Pesca tem R$ 257 milhões. Além disso, o Turismo é uma das principais atividades econômicas em regiões onde o PSD tem bancadas fortes, como o Paraná (por causa de Foz do Iguaçu), Rio de Janeiro e Bahia.

Hoje, o Ministério do Turismo é comandado por Celso Sabino, do União Brasil. Retirá-lo de lá sem encontrar um novo espaço para a legenda também traria desgaste político.

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