De acordo com Ricardo Kotscho Colunista do UOL, dois movimentos opostos foram registrados esta semana nas campanhas dos dois candidatos que ponteiam todas as pesquisas em 2022.
Enquanto Lula caminhava cada vez mais para o centro, em busca de alianças com PSD e MDB, para poder governar caso seja eleito, Bolsonaro resolveu radicalizar de vez na extrema-direita militar, ameaçando “chamar o Braga Netto”, ministro da Defesa (como fez o general João Figueiredo, no ocaso do regime militar, ao “chamar o Pires”, Walter Pires, comandante do Exército), para atacar as urnas eletrônicas e o Tribunal Superior Eleitoral, na tentativa de recuperar os votos perdidos em sua luta pela reeleição, mais improvável a cada nova rodada das pesquisas.
Antes de entrar no tema da coluna para entender o movimento do presidente, gostaria de fazer algumas perguntas:
O que os militares, afinal, têm a ver com o processo eleitoral? Onde está escrito na Constituição que as Forças Armadas devem “supervisionar as eleições”? Por que o comandante da Aeronáutica precisa garantir que vai respeitar o resultado das eleições e bater continência para o eleito? Qual é a formação técnica de Braga Netto para decidir se as urnas eletrônicas são ou não seguras?
Na coluna “A operação Militar de Bolsonaro”, publicada neste domingo na Folha, meu colega Bruno Boghossian ajuda a encontrar as respostas:
“O presidente remexe o caldo golpista porque desconfia de suas chances – e dá sinais de que teme perder já no primeiro turno. Na mesma transmissão em que levantou suspeitas sobre as urnas, ele disse que a disputa deve ser definida em dois turnos, `porque ninguém pode terminar uma eleição e ter dúvida´”.
Como assim? Que dúvida é essa? A lei eleitoral estabelece que será declarado vencedor o candidato que obtiver 50% dos votos mais um. Só haverá segundo turno, se nenhum candidato alcançar esse índice no dia 2 de outubro.
Sentindo o cheiro da derrota, Bolsonaro tenta desde já contestar o resultado, e corre novamente para os quartéis em busca de ajuda, como costuma fazer sempre que se sente acuado. É ele quem novamente leva as Forças Armadas para o centro de sua conspiração contra as eleições, como fez na “live” da última quinta-feira, em que procura manter mobilizado seu eleitorado fiel, que hoje não passa de 25% nas pesquisas, cerca de metade das intenções de voto do líder nas pesquisas.
“Nosso pessoal do Exército (nosso quem, cara pálida?), da guerra cibernética (deflagrada por ele mesmo), buscou o TSE e começou a levantar possíveis vulnerabilidades. Foram levantadas várias, dezenas de vulnerabilidades (…). Isso está nas mãos do ministro Braga Netto, para tratar desse assunto. E ele está tratando disso com o TSE. E as Forças Armadas vão analisar e dar uma resposta.”
Quais vulnerabilidades? Onde estão as provas? Vão dar respostas a quem? Isso, como de costume, ele não disse. Só levantou suspeitas para poder, mais adiante, contestar o resultado das eleições. “Nós vamos participar da primeira à ultima fase, do código-fonte à sala secreta”, anunciou Bolsonaro, falando também em nome das Forças Armadas, em entrevista, no sábado, à Super Rádio Tupi, do Rio, em que participou de um reality show com o novo aliado, o ex-governador Antony Garotinho, para ver quem era mais perseguido pela Globo. “Eu sou um herói nacional por resistir a três anos de ataques da Globo”, vangloriou-se conforme Ricardo Kotscho.
Mas o novo presidente do TSE, Luís Roberto Barroso, não se abalou com o novo ataque de Bolsonaro. Foi cirúrgico: “Ele não precisa de fatos, a mentira já está pronta. Antes, o presidente dizia que tinha provas da fraude. Intimado a apresentá-las, não havia coisa alguma. Essa é a retórica repetida. É apenas um discurso vazio”.
E Lula? E o PT?, perguntarão meus amigos bolsominions aqui na coluna.
Pois é, enquanto Bolsonaro brigava com as urnas e com o TSE, Lula jantava na sexta-feira com o ex-tucano Geraldo Alckmin para selar a chapa, que será oficialmente anunciada em março, depois do ex-governador paulista decidir para qual partido vai. Lula encontrou-se também com o presidente do PSD, Gilberto Kassab, na tentativa de costurar uma aliança já para o primeiro turno, após fracassar a candidatura fantasma de Rodrigo Pacheco, aquele que foi sem nunca ter sido.
No jantar, já pensando num possível governo. Lula e Alckmin discutiram problemas do país em áreas como saúde, educação e questões, sociais, e a relação com o futuro Congresso.
Mais do que votos em busca da vitória já no primeiro turno, Lula acredita que a aliança com Alckmin faz um aceno a setores de centro e centro-direita, que poderá ajudar Fernando Haddad nas eleições para o governo de São Paulo.
Em resumo, passando a régua: ao mesmo tempo em que Bolsonaro se prepara para reagir à derrota e melar o jogo, Lula constrói pontes para governar em caso de vitória. Talvez isso explique o último Datafolha, em que o petista abria 26 pontos de vantagem sobre o atual presidente (48% a 22%), índices semelhantes às pesquisas divulgadas este ano. .
O resto é apenas torcida, fake news ou desespero.
Vida que recomeça