Divisão entre grupos dos extintos PSL e DEM ainda perdura
Após inúmeras brigas e disputas pelo comando do partido desde a fusão entre PSL e DEM, há dois anos, o presidente do União Brasil, deputado Luciano Bivar (PE), deve se afastar da presidência em maio, quando acaba seu mandato, e ser substituído pelo vice, Antônio Rueda, seu aliado, mas que mantém melhores relações com a ala egressa do antigo DEM, informa reportagem de Marcelo Ribeiro e Raphael Di Cunto, do jornal Valor.
Caberá a Rueda liderar a discussão sobre as candidaturas de prefeitos e vereadores no próximo ano e também para a próxima eleição presidencial (em que a sigla ainda não tem uma postura clara sobre o que fará ou quem apoiará). O novo mandato da direção do partido terá duração de quatro anos e se encerrará apenas em maio de 2028.
O edital de convocação da comissão executiva do União Brasil foi publicado na quinta-feira (26). A reunião foi marcada para 20 de novembro, em Brasília, e decidirá sobre a antecipação da 1ª Convenção Nacional do partido. Nesse encontro serão eleitos os dirigentes do partido para um mandato de mais quatro anos. O evento ocorreria em abril, mas será antecipado para fevereiro.
Manobra?
Um primeiro edital, contudo, tinha sido publicado no começo da semana, convocando a reunião para o dia 6, mas foi cancelado. O vaivém faz com que políticos da sigla fiquem com o pé atrás de que Bivar ainda tentará alguma manobra para permanecer no poder, embora aliados reconheçam que ele está sem força para isso (e que só aceitou chamar o encontro do diretório nacional após perceber que haveria apoio suficiente para fazer isso à sua revelia).
O documento justifica a reunião da comissão executiva pela “necessidade de ajuste do calendário da 1ª Convenção Nacional Ordinária aos prazos legais de migração partidária (6 de março de 2024) e filiação partidária (6 de abril de 2024), a fim de garantir maior segurança jurídico-política aos integrantes e futuros filiados do União Brasil no pleito de 2024”.
O prazo de 6 de abril é o limite para que os políticos que desejam concorrer na eleição municipal de 2024 estejam filiados a seus partidos. O argumento da ala contrária a Bivar é que deixar a eleição para depois desse prazo afastaria eventuais candidatos, receosos de mudanças nos diretórios estaduais e municipais com a chegada de um novo presidente.
Disputas, conflitos & divergências
Os grupos de Bivar e do secretário-geral do partido, ACM Neto, vêm se digladiando há meses pelo comando dos diretórios estaduais após a eleição nacional. Houve conflitos no Amazonas, Maranhão, Pernambuco, Rio de Janeiro, Mato Grosso do Sul e Acre. A senadora Soraya Thronicke (MS) saiu da sigla e foi para o Podemos após perder a presidência estadual.
Ainda há divergências sobre como será a nova composição do comando do União Brasil.
Um influente dirigente do partido diz que deve ocorrer apenas a mudança na presidência, com a substituição de Bivar por Rueda, e a escolha de um novo primeiro-vice-presidente. Neste cenário, o grupo do atual presidente continuaria com a maioria dos votos da direção.
Já dois outros dirigentes dizem que a intenção é alterar de forma mais profunda o diretório com o objetivo de acabar com a divisão entre grupos dos extintos PSL e DEM que ainda perdura. Para isso, se espelharia as forças estaduais do partido e as bancadas no Congresso.
Embora a eleição ocorra de forma antecipada, o mandato de Bivar não será encurtado e só terminará mesmo em maio. Mas, na visão de uma liderança da sigla, já dará segurança aos futuros candidatos e colocará na presidência alguém mais novo, com 53 anos, e mais condições de viajar o país todo durante a campanha para selar as alianças. Bivar tem 79 anos.
Bivar confirmou ao jornal Valor o acordo e afirmou que a antecipação é importante para garantir o ingresso de mais políticos na sigla durante a janela partidária do próximo ano. A meta do União Brasil é lançar candidatos a prefeito de pelo menos dez capitais em 2024. Hoje o partido administra três dessas cidades: Salvador, Curitiba e Porto Velho.