Em menos de dois meses no cargo de premiê britânica, Liz Truss já perdeu dois ministros e enfrenta uma crise de confiança. Nesta última quarta-feira (19) Suella Braverman, Ministra do Interior, renunciou ao cargo, alegando, como motivo para sua demissão, ter usado sua conta de e-mail pessoal para enviar um documento oficial para um colega, um “erro” e uma “infração técnica”, pelos quais ela disse aceitar sua responsabilidade.
“Renuncio”, escreveu a ex-ministra na carta. Braverman disse ainda estar “seriamente” preocupada com as políticas do governo. “Fingir que não cometemos erros, agir como se ninguém pudesse ver que nós cometemos esses erros e esperar que as coisas fiquem bem por arte da magia não é uma política séria”, acrescentou. Grant Shapps, ex-ministro dos Transportes, foi o novo nomeado horas depois como Ministra do Interior.
Após seis semanas no poder, Truss enfrenta críticas generalizadas por não entregar o cargo, após obrigar seu então ministro das Finanças, Kwasi Kwarteng, a assumir a culpa por uma proposta orçamentária que criou um tsunami econômico no país. Rejeitada pela opinião pública e questionada dentro de seu próprio partido, a dirigente conservadora declarou, nesta quarta, em comparecimento no Parlamento britânico que pretende se manter no cargo. Até agora, seu silêncio havia sido rompido apenas por uma entrevista à rede BBC.
A crise de Truss começo no final de setembro, quando seu então ministro das Finanças, Kwasi Kwarteng, apresentou um pacote de medidas econômicas com cortes significativos de impostos e um colossal auxílio para as contas de energia – duas questões que suscitaram temores de um descontrole dos gastos públicos. Essa movimentação fez a libra cair a níveis históricos, e os juros de empréstimos a famílias e empresas ficaram mais caros. O Banco da Inglaterra precisou intervir para impedir que a situação não degenere em crise financeira.
Um levantamento do YouGov aponta que apenas um de cada dez britânicos e um a cada cinco eleitores do Partido Conservador tem opinião favorável a Truss. Entre os membros do partido, 55% estimam que ela deveria renunciar, enquanto 38% preferem que continue no cargo.
A dois anos das próximas eleições parlamentares, a oposição trabalhista se sobressai frente aos conservadores nas pesquisas. Cinco deputados de seu partido já pediram publicamente que Truss deixe o cargo. Com a falta de um sucessor claro, os conservadores têm reservas quanto a se lançarem em um novo e desgastante processo para indicar um líder. Buscam um consenso sobre uma pessoa, mas parecem longe de encontrá-la. Truss assumiu no dia 6 de setembro como premiê britânica depois que Boris Johnson renunciou ao cargo no começo de julho devido a uma série de escândalos que abalaram seu governo e que vários de seus ministros renunciaram ao cargo.