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Cientistas operam aparelho de coleta de amostras em sedimentos marinhos, em um navio na Baía de Beppu, no Japão, em 6 de junho de 2021 - DR. MICHINOBU KUWAE-EHIME CENTRE OF MARINE ENVIRONMENTAL STUDIES/AFP
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segunda-feira 10 de julho de 2023 às 06:52h

Lama marinha do Japão conta história do impacto humano na Terra

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Sob a água do mar da Baía de Beppu, no Japão, há camadas de sedimentos e lama aparentemente banais que contam a história de como os seres humanos alteraram fundamentalmente o mundo ao seu redor.

O local está entre os considerados para serem designados como um “golden spike” (pico de ouro em tradução literal), local que oferece evidências de uma nova era geológica definida pelas nossas espécies: o Antropoceno.

O caminho para concordar que a nova era tem sido longo e controverso, com cientistas discutindo há anos sobre como o Holoceno, que começou há 11.700 anos, foi realmente substituído por um novo período definido pelo impacto humano na Terra.

A chave para suas discussões foi escolher um local que documente claramente a maneira como mudamos o nosso ambiente, desde a contaminação com plutônio de testes nucleares, até a destruição de microplásticos.

Doze locais ao redor do mundo foram considerados como um “golden spike”, incluindo uma turfeira na Polônia, uma barreira de corais australiana, e a baía de Beppu em Oita, sudoeste do Japão.

Michinobu Kuwae, professor associado no Centro de Estudos Ambientais da Marinha de Ehime, estuda a área há aproximadamente uma década.

Ele iniciou as investigações de como a mudança climática afetou as populações de peixe, com camadas de escamas de peixe depositadas entre na bacia sedimentar da baía, oferecendo pistas sobre o passado.

Foi apenas mais recentemente que ele começou a considerar a localização como um potencial “golden spike”, dada as múltiplas “impressões digitais antropogênicas, incluindo produtos químicos e radionuclídeos, depositados nos bacia sedimentar da baía”.

Os depósitos de sedimento permitem os cientistas a localizar “a data e o nível precisos de um limite entre o Antropoceno-Holoceno”, diz ele à AFP.

“Existem os mais diversos marcadores antropogênicos.”

Essa preservação perfeita é o resultado de várias características únicas, explicou Yusuke Yokoyama, professor do Instituto de Pesquisas Atmosféricas e Oceânicas da Universidade de Tóquio”, que analisou amostras do núcleo do local.

O fundo da baía desce rapidamente a partir da costa, criando uma bacia que retém o material na coluna de água e “meio que cria uma sopa de missô”, disse ele à AFP.

A água pode fluir, mas apenas move de volta para a superfície, e a falta de oxigênio significa que não há organismos interferindo no sedimento ou rompendo os depósitos.

Um “sinal de alerta” para a humanidade

“Isso é como o Baumkuchem, o bolo, uma pilha de panquecas, e você pode contar essas para obter a idade exata”, acrescentou ele.

Para um local ser considerado uma localização “golden spike”, ela deve atender a várias condições, como oferecer um registro de pelo menos do século passado, juntamente com “sinais antropogênicos” específicos como o teste de bombas nucleares, mudanças de ecossistema e industrialização.

Também precisa oferecer um arquivo completo do período coberto, e marcadores que permitam aos cientistas identificar de qual ano é a camada.

O coral é considerado por muitos como um bom candidato porque ele cresce em camadas como um tronco de árvore e absorve elementos dissolvidos na água, incluindo marcas de testes nucleares.

Mas ele não consegue capturar materias que não dissolvem na água, como os microplásticos.

O sedimento da Baía de Beppu, ao contrário, captura tudo desde o escoamento de fertilizantes agrícolas a depósitos de inundações históricas registradas em documentação oficial, assim como as escamas de peixes e plásticos.

A característica mais convicente, no entanto, de acordo com Kuwae e Yokoyama, são as marcas de um série de testes de bombas nuclearas realizados em todo o Oceano Pacífico entre 1946 e 1963.

Os testes produziram radiação atmosférica detectável globalmente, mas também marcas diretas registradas em locais perto de onde eles foram realizados.

“Nós podemos detectar os dois”, disse Yokoyama.

“Como a Baía de Beppu está localizada a jusante… podemos identificar marcas particulares de certos testes”.

Amostras centrais coletadas da Baía de Beppu mostraram picos de plutônio que estão correlacionados com testes nucleares individuais e correspondiam a descobertas feitas nos corais próximos a Isghigaki.

Seja qual for o local escolhido como um “golden spike”, espera-se que a Baía de Beppu e outras localizações candidatas mantenham importantes recursos para entender o impacto humano na Terra.

E Kuwae espera um designação oficial do Antropoceno será um “sinal de alerta” para a humanidade.

“A deterioração do meio ambiente global, incluindo o aquecimento global, está progredindo rapidamente”, disse ele.

“Nós estaremos em um estado em que a Terra original segura, uma vez perdida, não poderá mais ser recuperada”.

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