A deputada federal Lídice da Mata (PSB) analisou em entrevista ao jornal Tribuna da Bahia, o primeiro ano do governo de Jerônimo Rodrigues (PT) na Bahia. Destacando aspectos positivos, como a atração de investimentos da BYD e a ênfase na luta contra a fome, a ex-prefeita de Salvador ressaltou a necessidade de políticas educacionais e de saúde mais abrangentes para a capital baiana. Ao abordar as eleições municipais, Lídice apontou a importância de discutir o direcionamento de Salvador.
Tribuna – Eu gostaria que a senhora falasse brevemente sobre a sua impressão desse primeiro ano do governo Jerônimo Rodrigues. O que a senhora destacaria de mais positivo e também de negativo?
Lídice – Acho que o governo de Jerônimo, a figura do governador se afirmou neste ano. O ano passado foi um ano da vitória eleitoral, mas Jerônimo não era uma pessoa muito tradicional na política baiana; nunca foi candidato a vereador, deputado ou algo do tipo. Então, ele encantou a Bahia com o seu jeito humilde e simples na campanha e consolidou essa imagem de homem acessível como governador. O seu governo está sendo bem avaliado pelos baianos em todas as regiões. Especialmente notável é a sua ligação com a luta contra a fome. Essa bandeira definitivamente é sua. Além de dar continuidade a obras importantes e estruturantes na educação e saúde, ele inovou em cada uma dessas políticas. Na área de educação, além de entregar dezenas de novas escolas de tempo integral construídas durante sua gestão na Secretaria de Educação no governo anterior, ele inovou em políticas públicas, como agora, nesse período de férias. Das 1100 escolas existentes no estado, cerca de 500 foram abertas para permitir que jovens com dificuldades financeiras na sua sobrevivência familiar possam praticar esportes e cultura durante a semana, além de receber café da manhã e almoço na escola, vinculando a relação com a escola ao combate à fome e vice-versa, fortalecendo os laços do estudante com a instituição. Jerônimo deu um grande passo no início dessa gestão, que foi a confirmação da BYD na Bahia. Sem dúvida, esse é um marco inicial do seu governo, confirmado pela Câmara dos Deputados e pelo Congresso Nacional, com a manutenção dos benefícios fiscais para a planta da empresa, como havia sido oferecido anteriormente para a Ford. Então, a primeira grande conquista do governo na luta pelo desenvolvimento da Bahia foi justamente essa atração de investimento da BYD para o Polo Petroquímico. Não tenho dúvida de que foi um ano muito importante para consolidar a imagem de Jerônimo como governador do estado.
Tribuna – Este ano é de eleição municipal, e Salvador tem sido um centro de debate desde o ano passado. A senhora, como ex-prefeita de Salvador, na sua avaliação, quais são as principais necessidades da cidade hoje e que o próximo prefeito deveria priorizar?
Lídice – Claro que a cidade tem grandes necessidades, e acho que o cuidado com as obrigações de educação e saúde para o município está sempre em primeiro plano. Na área da educação e das atribuições da prefeitura, destaco a necessidade de uma política de fortalecimento das creches públicas municipais. Dada a dimensão de Salvador, sua característica social, e por ser uma cidade com 54,4% de mulheres, é necessário ter creches para introduzir crianças de baixa renda numa relação cognitiva de aprendizado básico na primeira infância. Isso é essencial para a sociabilidade e aprendizado que ainda não são formais, não é? Devido à necessidade de garantir que as mulheres possam trabalhar, deixando seus filhos em um lugar seguro, Salvador precisa de uma ampla rede de creches municipais, que não pode se limitar apenas às creches comunitárias, embora estas sejam importantes. Na área da saúde, Salvador precisa fortalecer suas ações nos postos de saúde municipais e a rede de proteção à saúde. A cidade precisa ser ampliada e fortalecida para reduzir o número de pessoas que recorrem aos hospitais por falta de atendimento na rede pública de saúde. Mas, principalmente, Salvador precisa discutir o seu caminho como cidade. O que ela quer ser? Salvador perdeu população e protagonismo econômico no Nordeste. Ela não é mais a capital mais importante do Nordeste em termos de população e economia, perdendo o lugar para Fortaleza. Isso demonstra que ela não está direcionando seus esforços para sua vocação central. Salvador não deve se tornar uma cidade que atende apenas aos interesses do capital imobiliário. Embora o capital seja importante, não podemos ter um modelo de crescimento voltado principalmente para o capital imobiliário, como visto na ocupação da orla.
Tribuna – A sra. falou recentemente sobre o projeto de desafetação de imóveis…
Lídice – A proposta recente de desafetação de 44 áreas pela prefeitura pode levar a uma situação de insegurança jurídica, e é preocupante que a cidade desafete suas áreas públicas sem dar satisfação à população sobre objetivos e projetos para esses espaços. Não é justificável apenas para aumentar a arrecadação. Salvador já tem um IPTU caro, prejudicando seu desenvolvimento econômico. Parece que a cidade está sacrificando suas áreas verdes e espaços públicos em prol do interesse exclusivo do capital imobiliário privado. Queremos uma cidade livre, com outras áreas econômicas se desenvolvendo ao lado do setor imobiliário, e que a economia criativa contribua efetivamente para o desenvolvimento da cidade.
Tribuna – O que a senhora achou da escolha de Geraldo Júnior como candidato do grupo à prefeitura de Salvador? O PSB vai indicar um possível nome para a vice?
Lídice – Acho que a escolha do vice é parte da estratégia para organizar a chapa, e o nome deve ser definido coletivamente para agregar mais força política. O PSB está discutindo e já ofereceu ideias ao nosso pré-candidato, continuando a organização da campanha. O partido certamente tem bons nomes para oferecer, mas não cabe apenas ao partido ou a qualquer outro reivindicar o cargo de vice. Isso deve ser naturalmente discutido em torno do perfil da chapa.
Tribuna – Quais são as metas do PSB para as eleições deste ano? Em termos de crescimento de prefeitos e vereadores, o partido tem atraído vários prefeitos nas últimas semanas.
Lídice – Acabei de ter uma reunião em que fechamos a vinda de mais um candidato. Temos trazido muitas lideranças, e o partido está crescendo e continuará crescendo muito. Em regiões em que não estávamos presentes, agora já temos de 3 a 4 candidatos. Outros prefeitos estão discutindo conosco, e eu não gostaria de mencionar números, pois ainda não concluímos esse processo. O crescimento do PSB está sendo significativo.
Tribuna – A senhora acha que o governo Lula deixou a desejar em algum ponto na sua concepção? Ou o resultado foi positivo?
Lídice – Não acho que tenha deixado a desejar. Essa nunca foi a minha expectativa. O governo de Lula tinha a tarefa de reconstruir o país e suas políticas públicas centrais, que estavam destruídas. A diferença entre o primeiro ano de governo de Lula em 2002 para agora é evidente. Lula recebeu uma herança de Fernando Henrique, que, mesmo sendo adversário político, organizou políticas públicas para o país. Muitas delas eram insuficientes, mas ele fortaleceu as instituições democráticas de maneira civilizada. Isso contrasta com os últimos 4 anos de governo, que tiveram como meta desconstruir as políticas públicas no país. Houve um retrocesso significativo na educação, e o tempo perdido nessa área não é recuperado rapidamente. Na saúde, também enfrentamos retrocessos. Só agora estamos recuperando a capacidade de vacinação de crianças em doenças que já havíamos superado, como o sarampo, devido à falta de cuidado do Ministério da Saúde e das políticas de saúde. Estamos reconstruindo o país e todas as políticas públicas. Nos próximos 20 anos, a população acima de 60 anos no Brasil se aproximará da população jovem, e em 30 anos ultrapassaremos o número de nascidos e jovens no Brasil. O país precisa se preparar para acolher a população idosa, criando oportunidades para a inclusão econômica desses idosos de segmentos médios da população. Temos um grande desafio pela frente, e 2024 será o ano da colheita em algumas áreas, mas em outras ainda continuaremos a plantar para superar desafios como a fome, a pobreza e fazer o país voltar a crescer com sustentabilidade ambiental e desenvolver uma nova indústria moderna no Brasil.
Tribuna – O Governo do Estado lançou um programa relacionado a cisternas. Eu gostaria de saber se, durante suas andanças pelo estado, em conversas com prefeitos, a senhora tem notado que o problema da seca tem crescido nos últimos anos. Como os governos podem se mobilizar para enfrentar isso?
Lídice – Este ano estamos enfrentando uma grande estiagem, e já temos um pedido de 190 municípios em estado de emergência. Isso torna necessário medidas do governo federal para atender os pequenos produtores, garantindo água para o consumo humano e animal no estado da Bahia. Com 69,9% do território no semiárido e mudanças climáticas ocorrendo, o governo federal retomou o projeto Água para Todos para enfrentar esse desafio.