Maior bancada da Câmara dos Deputados e fora do bloco dos partidos progressistas, o PT tentará conseguir apoio de outras legendas em torno de um nome para a presidência da Casa. Nos bastidores, contudo, e diante da dificuldade desse arranjo, petistas não descartam apoiar a reeleição de Rodrigo Maia (DEM-RJ), que fechou aliança com o PSL de Jair Bolsonaro na última semana.
A votação no início de fevereiro é secreta.
Segundo o líder da bancada do PT, Paulo Pimenta (PR-RS), o partido irá convidar outras legendas para uma reunião no próximo dia 14, em Brasília. “Vamos continuar trabalhando pelo nosso objetivo de construir um bloco democrático popular com PT, PDT, PSB, PCdoB e PSol e alguns deputados que estamos conversando”, afirmou o deputado ao HuffPost Brasil.
O PSol, no entanto, já lançou seu candidato, Marcelo Freixo (PSol-RJ), na última semana. Para Pimenta, Freixo tem “densidade social”, mas a prioridade deve ser os interesses do grupo – que ainda está apenas nos planos do PT. “Quando se faz um esforço de construir um bloco tem que ouvir todo mundo. Pode ser do PDT, PSB, PCdoB. Tem que conversar para ver quem reúne condições”, disse.
Tanto Pimenta quanto a presidente do PT, deputada eleita Gleisi Hoffmann (PT-PR), se opõem publicamente à aproximação com Maia. “Candidato que quer ter vínculo com governo com certeza não vai ter apoio [do PT]”, afirmou o petista.
Em 2 de janeiro, a bancada do PSL, partido do novo presidente, fechou apoio a Maia, em troca de um lugar na Mesa Diretora e do comando da CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) e da Comissão de Finanças.
Apesar da resistência de alguns petistas a Maia, as conversas continuam. Nesta terça-feira (8), o presidente da Câmara se reuniu com o governador do Piauí, Wellington Dias (PT), e a bancada do estado. “A Câmara é a representação do povo. A eleição de presidente da Câmara não é de governo e oposição, nem de direita-esquerda”, afirmou Maia ao deixar o escritório do governador.
Na posse do presidente Jair Bolsonaro, o presidente do DEM, ACM Neto, adotou discurso similar ao dizer que o deputado não é candidato de um partido, mas de uma “frente ampla partidária que pode unir governo e oposição”.
Para chegar ao comando da Casa, Maia contou com o apoio de partidos mais alinhados à esquerda, em troca de garantir que pautas conservadoras ligadas a direitos LGBT e de mulheres não chegassem ao plenário. Por esse motivo, ele era visto como o candidato de alguns deputados do PCdoB e PT nos bastidores. Juntos, PT, PSB, PDT, PSol e PCdoB somam 135 integrantes.
PT isolado
O esforço do PT por uma união da esquerda não deve, contudo, encontrar apoio entre outras legendas progressistas. Líder do PCdoB, Orlando Silva (PCdoB-SP) disse que a bancada não havia sido convidada para a reunião na próxima semana.
Líder do PDT, André Figueiredo (PDT-CE) disse que também não foi chamado para o encontro. De acordo com ele, o apoio do bloco a Maia não está descartado.
Nesta terça (8), PCdoB, PDT e PSB se encontraram em São Paulo, mas ainda não há uma definição de como o bloco irá se posicionar. Questionado sobre possível apoio a Maia, Orlando disse que apesar de considerá-lo um amigo, não pode falar por outros deputados. “A eleição é do presidente da Câmara. Não é do líder do governo nem da oposição”, disse à reportagem.
De acordo com o parlamentar, a sigla se reúne na próxima semana para continuar as articulações. “Não pode ser o terceiro turno da eleição presidencial. Não dá pra misturar a disputa”, completou. Ele classificou também como previsível a aliança de Maia com o PSL.
Capitão Augusto busca votos no PSL
Em busca de deputados do partido de Bolsonaro insatisfeitos com a aproximação com Maia, o deputado Capitão Augusto (PR-SP) afirma que irá manter sua candidatura. Seu partido anunciou nesta terça que irá apoiar Maia. “Mantenho a candidatura da mesma forma. Até porque já sabia que o PR iria se impor”, disse ao HuffPost.
O presidente da bancada da bala diz acreditar que Maia chegará ao segundo turno e tem buscado votos para ganhar a disputa final. “No segundo turno temos 273 novos deputados querendo mudança. Dos reeleitos, grande parte não quer um terceiro mandato para Rodrigo”, disse. O parlamentar estima ter 70 votos no momento e pretende chegar a 110.
Capitão Augusto aposta na resistência de parlamentares ao presidente da Câmara devido à sua interlocução com partidos progressistas. “Nos últimos 3 anos ele namorou muito com a esquerda, vai pesar isso. E com toda certeza o PT estará no palanque dele no segundo turno. O antipetismo deve me ajudar”, diz.
Um de seus concorrentes, João Campos (PRB-GO), representante da bancada evangélica, já deixou a disputa. O PRB faz parte do bloco de Maia, que conta também com PSD, PROS e PPS, além do DEM, PSL e PR.
Quem pode atrapalhar os planos do deputado da bancada da segurança é Fábio Ramalho (MDB-MG). Popular entre parlamentares do baixo clero, ele tem buscado apoio entre legendas do centrão.
Na última segunda-feira (7), em reunião com o presidente Bolsonaro, Ramalho se comprometeu em pautar as reformas de interesse do novo governo e minimizou a aproximação do Planalto com Maia. “Ele não vai interferir na disputa da Câmara, deixou isso bem claro. A questão do PSL foi direto do Bivar [presidente do PSL], não partiu dele. Ele tem uma grande simpatia por mim”, disse a jornalistas após o encontro.
Ainda estão na disputa Alceu Moreira (MDB-RS) e JHC (PSB-AL).