domingo 28 de abril de 2024
Ibovespa fecha acima dos 130 mil pontos e renova máxima histórica após Fed — Foto: Patricia Monteiro/Bloomberg
Home / Mundo / MUNDO / Investidores apostam em títulos da Argentina e da Turquia em busca de ganhos exponenciais; vale o risco?
terça-feira 16 de janeiro de 2024 às 08:27h

Investidores apostam em títulos da Argentina e da Turquia em busca de ganhos exponenciais; vale o risco?

MUNDO, NOTÍCIAS


Players de investimentos globais, principalmente aqueles institucionais, estão aumentando suas apostas em títulos públicos da Argentina e da Turquia. Analistas creem segundo Sammy Rocha, da revista IstoÉ Dinheiro, que medidas de ambos os governos estão diminuindo os riscos de calote desses países e, em paralelo, prometendo retornos exponenciais.

Em determinadas obrigações de baixa notação, como a Argentina, por exemplo, o potencial de valorização vai além do ambiente global de taxas de juro, inflação e crescimento. Por isso, investidores estão acompanhando de perto as medidas do novo presidente da Argentina, Javier Milei, que promete libertar a economia do país da inflação, atualmente acima dos 211% ao ano.

Neste mês, o país sul-americano conseguiu entregar US$ 1,5 bilhão em pagamentos de juros aos detentores de títulos e fechar um acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI) que desbloqueia cerca de US$ 4,7 bilhões em financiamento.

Entre as condições acordadas com o FMI, a Argentina buscará um superávit fiscal primário de 2% do Produto Interno Bruto (PIB) neste ano. Além disso, Milei prepara mais medidas para levantar a economia do país.

Com isso, os títulos públicos argentinos subiram na semana passada devido às notícias positivas sobre o pagamento da dívida e o acordo com o FMI. O rendimento extra que os investidores exigem para manter a dívida do país caiu, em média, para 19 pontos percentuais em relação aos títulos do Tesouro dos EUA, face a 27 pontos percentuais em outubro, segundo dados do J.P. Morgan.

Já na Turquia, o presidente do país, Recep Erdogan, traçou um caminho para a elaboração de políticas ortodoxas, nomeando antigos banqueiros de Wall Street para cargos governamentais. Então, o banco central turco começou a aumentar as taxas de juros.

A dívida do país em dólares proporcionou ganhos de 18% no ano passado, e o rendimento extra que os investidores exigem para as obrigações despencou desde a reeleição de Erdogan, de acordo com dados do JPMorgan. Na sexta-feira, 12, a Moody’s Investors Service elevou a perspectiva da classificação de crédito do país para positiva, citando mudanças decisivas na política econômica.

Exposição a investimentos de alto

Para o sócio e CGA do Multi Family Office, João Atem, o movimento dos investidores ocorre pelo fato de competidores globais de Argentina e Turquia, entre eles Brasil, México e Rússia, terem se tornado inviáveis no sentido de um upside [quando o fôlego dos investimentos se esgotam e os rendimentos diminuem] para rentabilidades altas.

“O investidor, principalmente aquele institucional, está sempre buscando oportunidades de ganhos exponenciais. Quando se trata de títulos públicos, você deve olhar para o risco soberano e para o poder fiduciário daquela economia. Olhando hoje para Turquia e Argentina, eles chegaram a um patamar de retorno muito alto. No entanto, a alocação desses recursos deve estar atrelada à confiança na capacidade daqueles países em pagar as dívidas num futuro próximo”, avalia.

Segundo Atem, cerca de 98% do mercado global aloca seus recursos em países ocidentais. O índice aumentou após a Rússia, antes considerado um país emergente relevante no cenário financeiro, entrar em uma guerra contra a Ucrânia e acabar se isolando de países europeus e ocidentais.

Já o México, um concorrente natural de Argentina, Turquia e Brasil, aplicou nos últimos anos algumas políticas econômicas de controle fiscal, atraindo investidores por seus títulos, mas chegou ao seu upside.

“Vejo o Brasil seguindo um caminho contrário”, comenta Atem. Ainda segundo o analista, apesar do alto risco dos títulos turcos e argentinos, atualmente eles representam ‘a menina dos olhos’ do mercado global, pois “estão garantindo retornos consideráveis e apresentando mais garantias de pagamento de suas dívidas, além de maior controle fiscal”, complementa.

Risco para investimentos de pessoa física é maior

Conforme explica o diretor de negócios da Comdinheiro/Neologica, Felipe Ferreira, geralmente, em títulos de divida, o rendimento está atrelado a probabilidade de default (chance do credor que está tomando a dívida não realizar os pagamentos). Ele concorda que os títulos das dívidas argentina e turca estão pagando mais porque há altas chances de serem pagas ou, ao menos, não nos termos acordados.

“Isso explica por que esse mercado é acompanhado por players globais. Será que vale a pena? Grandes players possuem uma carteira diversificada, pois se você perde um titulo ou recebe um calote, terá outros títulos sustentando seu portfólio”, afirma.

Ferreira entende que o risco para o investidor pessoa física é ainda mais alto, e ressalta que o jogo do mercado financeiro é para “especialistas”.

“Uma pessoa física entrar pelo número face ou apenas pelo rendimento alto é um baita problema. Especialmente se entrar com parte representativa do seu patrimônio. Não faz sentido uma pessoa física colocar seu recurso num título desse sem conhecer. Considero que é um risco semelhante ao de ganhar na Mega-Sena. Agora, para fundos experientes, se tudo correr conforme as reformas que estão em andamento nesses países, o retorno realmente pode ser bastante significativo”, completa Ferreira.

Veja também

África do Sul: 30 anos de democracia sob signo da divisão

Três décadas após o fim do apartheid, país tem uma sociedade democrática, mas profundamente dividida. …

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

error: Content is protected !!
Pular para a barra de ferramentas