“Estou feliz”, disse Lula segundo a coluna de Josias de Souza, no UOL, após saber no meio de uma entrevista que uma juíza de Brasília arquivara o processo sobre o tríplex. Referiu-se ao caso como uma grande “mentira contada pelos meus algozes.” Soou eufórico: “Quem era herói está virando bandido e quem era bandido está virando herói”, disse.
Mudou muito o Brasil. Noutros tempos, havia corrupção sem corruptores. Com a regulamentação da delação premiada, surgiu uma profusão de corruptores confessos. De repente, estão sumindo os corruptos.
Nenhum dos empresários que pagaram milhões por consultoria fictícia à empresa de PC Farias durante o governo Collor foi condenado. A CPI dos corruptores, consequência lógica da CPI dos anões corruptos do Orçamento, foi abatida no nascedouro.
Algo diferente sucedeu no julgamento do mensalão. Foram para a cadeia petistas e seus operadores. Na Lava Jato, corruptores amedrontados delataram os benfeitores. O caso do tríplex rendeu cana a Lula e a Léo Pinheiro, da construtora OAS.
Deve-se a felicidade de Lula não ao reconhecimento de sua inocência, mas à prescrição dos crimes que lhe foram imputados: corrupção e lavagem de dinheiro. Transferido pelo Supremo de Curitiba para Brasília, o caso deveria ser julgado novamente. Como Sergio Moro foi considerado suspeito, tudo começaria do zero.
Deu-se o esperado: Com mais de 70 anos, Lula foi beneficiado com o encurtamento do prazo de prescrição, que cai pela metade. Feitas as contas, verificou-se que não pode mais ser punido. Daí o arquivamento.
Desceram ao arquivo morto cópias de mensagens em que executivos da OAS falam sobre as reformas do tríplex a mando da família de Lula, foto do pajé do PT vistoriando as obras do apartamento na companhia do dono da OAS, depoimento do zelador do prédio sobre as visitas, delação na qual Léo Pinheiro afirma que Lula era o real proprietário do imóvel, faturas referentes à realização das benfeitorias: troca do piso, cozinha planejada, sauna, elevador… Só ficou faltando o corrupto.
Prisioneiro de uma lógica bem particular, Lula trata prescrição como absolvição. Estalando de pureza moral, estufa o peito como uma segunda barriga para declarar-se “herói.” Tornou-se uma espécie de São Jorge às avessas —do tipo que sai para salvar a donzela e acaba se casando com o dragão.