Na manhã do último domingo (9), de acordo com reportagem de João Vitor Ferreira, da revista Quatro Rodas, centenas de motoristas se encontraram na capital paulista para o “rolê dos sem topete”, carros que tiveram seus tetos retirados, transformados em conversíveis na marra. Mas o que parece um passeio automotivo comum, acabou como caso de polícia.
Assista:
Os “sem topete” é um grupo que, por vontade própria, transforma seus carros em conversíveis improvisados. Isso não é contra a lei, mas legalizar carros assim é burocrático. Para que esteja dentro das normas, o processo deve ser feito por oficinas especializadas e ter laudo do Inmetro, que autoriza o projeto em determinados modelos.
O grupo teve como ponto de encontro o Jardim Imperador, na zona leste de São Paulo, reunindo participantes até de estados vizinhos, como Paraná e Minas Gerais. De lá, eles pegaram a marginal Tietê, travando uma das pistas para a prática do “borrachão”, quando os motoristas realizam acelerações queimando os pneus e soltando fumaça.
O destino dos “sem topete” era a rodovia dos Bandeirantes. Foi só lá, cerca de 30 km de distância do ponto de encontro, onde uma única viatura abordou os mais de 150 veículos presentes. Os carros ilegais só pararam depois que os oficiais ameaçaram atirar contra o comboio, conforme afirma Márcio Duarte.
“No percurso inteiro a gente encontrou com várias viaturas, tanto da CET quanto da Civil, mas nenhuma deu ordem de parada. Quando chegou na Bandeirantes, essa viatura deu ordem de parada, mas eram muitos carros. Nisso, acho que conseguiu passar uns dez carros. Aí eles fecharam a Bandeirantes e conseguiram parar os outros”, explica o participante que disse estar acompanhando um dos organizadores.
E o “borrachão” foi apenas uma das infrações divulgadas, sem medo, nas redes sociais. Nos vídeos, podemos ver passageiros andando sem cinto de segurança (porque a fixação dos cintos ficava nas colunas dos carros, que foram removidas), carros batendo contra a cancela de pedágio, veículos pegando fogo, motoristas se chocando propositalmente e até um Fiat Uno sem portas, teto e colunas.

Apesar de todos os problemas causados e do longo percurso, a polícia conseguiu apreender poucos carros. “Pelo o que eu acompanhei, acho que só aprenderam alguns carros, mas eles ficaram bastante tempo lá. Acho que pelo menos uns cinco carros foram presos. Depois fizeram outras blitze, sei que na Avenida do Estado teve uma.”
A Polícia Militar de São Paulo afirmou em nota oficial que, ao todo, apenas cinco veículos foram abordados e todos tiveram múltiplas autuações. Foram eles: Fiat Palio (oito autuações); Ford Ka (oito autuações); Ford Corcel (sete autuações); Chevrolet Monza (cinco autuações) e Renault Twingo, esse que estava proibido de circular por problemas na documentação e estava sendo guiado por um motorista com a carteira suspensa por excesso de pontos.

“Diante dos fatos, com a exceção do veículo com queixa criminal (Twingo) que foi para o DP Caieiras/SP, todos os demais veículos foram recolhidos ao pátio, devido às irregularidades constatadas, mantendo assim, resguardando assim, a segurança dos usuários da rodovia”, informou a PM de São Paulo por meio de nota oficial.

Como foi organizado?
Márcio conta que tudo foi planejado através do Instagram e em apenas uma semana. Sem revelar nomes, ele diz que um dos organizadores é um influencer conhecido, com cerca de 10 milhões de seguidores.

Porém, o evento parece ter saído do controle do grupo. “O combinado era só fazer um passeio usando somente a faixa da direita, parar em um ponto para tomar café e retornar cada um para sua casa”, explica Márcio. “Tentaram ao máximo organizar para não virar bagunça. Mas sempre tem alguns que querem se mostrar mais”.

O participante também afirma que eles já esperavam uma ação da polícia. “Foi avisado que em caso de polícia era para encostar os carros. Todos já foram sabendo que poderia perder o carro a qualquer momento”.
E sem medo nenhum da polícia, o grupo anuncia que já tem data em local para uma próxima edição do “rolê dos sem topete”: “Vai ser pior. Vamos para a praia.”