Desempenhos fracos da indústria e da agropecuária ofuscaram a força de serviços e a economia brasileira registrou leve queda no segundo trimestre deste ano, perdendo força em relação ao início de 2021 e estabilizando-se depois de três trimestres seguidos de crescimento.
Entre abril e junho, o Produto Interno Bruto brasileiro registrou queda de 0,1%, mostrando perda de força depois de uma expansão de 1,2% no primeiro trimestre.
A leitura divulgada nesta quarta-feira pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) frustrou a expectativa em pesquisa da Reuters de avanço de 0,2%.
Na comparação com o segundo trimestre de 2020, o PIB registrou alta de 12,4%, contra expectativa de crescimento de 12,8% nessa base de comparação. Essa é a maior taxa da série iniciada em 1996, devido à base baixa de comparação.
Com esse resultado, o PIB acumulou no primeiro semestre crescimento de 6,4% em relação ao mesmo período de 2020. A atividade econômica continua no patamar do fim de 2019 ao início de 2020, período pré-pandemia. Mas ainda está 3,2% abaixo do ponto mais alto, alcançado no primeiro trimestre de 2014.
Depois de um começo de ano cheio de incertezas, o Brasil seguiu vivendo no segundo trimestre restrições para controle da pandemia, que aos poucos foram sendo relaxadas.
Mas ao mesmo tempo o país passou a sofrer com um forte aumento da inflação, em meio à alta do dólar e dos preços das commodities no exterior, bem como dificuldades nas cadeias globais de suprimentos. Reajustes da gasolina e das contas de luz também pesaram nos bolsos dos consumidores, com o fantasma da escassez hídrica no radar.
“Cada vez mais os efeitos (da pandemia) vão se dissipando e as explicações (para esse resultado) vão sendo ampliadas para além dela, com juros, crédito, mercado de trabalho e inflação”, avaliou a coordenadora de Contas Nacionais do IBGE, Rebeca Palis.
Serviços
O destaque no período foi serviços, diante da reabertura da economia com o alívio nas medidas de contenção da Covid-19, depois de este ter sido o setor mais afetado pela pandemia.
No segundo trimestre, os Serviços apresentaram crescimento de 0,7% em relação aos três primeiros meses do ano, repetindo a taxa vista nos três primeiros meses do ano nessa base de comparação.
Os melhores resultados foram de informação e comunicação (+5,6%), outras atividades de serviços (+2,1%). O setor de serviços, entretanto, ainda está 0,9% abaixo do nível pré-pandemia.
Mas o número trimestral foi apagado pelas retrações de 0,2% na Indústria e de 2,8% da Agropecuária, que sofreu com questões climáticas e ainda teve a safra de café em bienalidade negativa.
No setor industrial, o peso veio das quedas de 2,2% nas indústrias de transformação em meio à falta de insumos e de 0,9% na atividade de eletricidade e gás, água, esgoto, atividades de gestão de resíduos com o aumento no custo de produção por conta da crise hídrica.
Essas retrações compensaram a alta de 5,3% nas indústrias extrativas e de 2,7% na construção.
Do lado das despesas, a Formação Bruta de Capital Fixo, uma medida de investimento, despencou 3,6% no segundo trimestre sobre o período anterior, depois de ter avançado 4,8% no primeiro.
As Despesas das Famílias ficaram estagnadas, ainda sob impacto dos efeitos da pandemia, e as do Governo aumentaram 0,7%.
“O consumo das famílias pesa mais de 60% no PIB. Apesar dos programas de auxílio do governo, do aumento do crédito a pessoas físicas e da melhora no mercado de trabalho, a massa salarial real vem caindo, afetada negativamente pelo aumento da inflação. Os juros também começaram a subir. Isso impacta o consumo das famílias”, explicou Palis.
Em relação ao setor externo, as Exportações de Bens e Serviços cresceram 9,4%%, a maior variação desde o primeiro trimestre de 2010, enquanto as importações diminuíram 0,6%.