Enterrados em uma cova rasa dentro de uma remota caverna da Indonésia, os arqueólogos encontraram os ossos de um jovem que eles dizem que poderia reescrever a história da medicina.
Usando técnicas de datação por radiocarbono, os cientistas estimam que o corpo permaneceu intocado por 31.000 anos dentro da caverna Liang Tebo, na província oriental de Kalimantan, em Bornéu, de acordo com pesquisa publicada na revista Nature na quarta-feira (7).
Mas o aspecto mais marcante da descoberta foi que o jovem ou a jovem estava sem a perna esquerda inferior, com sinais de que havia sido cuidadosamente amputada quando a pessoa era pré-adolescente ou adolescente antes de sua morte por causas desconhecidas entre 19 e 21 anos, disseram os pesquisadores.
O esqueleto notavelmente intacto foi encontrado em 2020 por arqueólogos australianos e indonésios, que dizem que a amputação revela considerável habilidade cirúrgica e é o exemplo mais antigo no registro arqueológico, abalando nossa compreensão da sofisticação dos humanos da Idade da Pedra.
“É significativo porque afasta consideravelmente o conhecimento de nossa espécie sobre cirurgia e medicina complexa”, disse Maxime Aubert, professor do Centro de Pesquisa Social e Cultural da Universidade Griffith, em Queensland, por e-mail.
“Eles precisavam ter um conhecimento profundo da anatomia humana, como interromper o fluxo sanguíneo, anestesia e antissepsia. Tudo isso só se tornou a norma muito recentemente”, escreveu Aubert.
Os especialistas pensavam que os humanos não tinham experiência para realizar procedimentos difíceis, como amputação, até que o surgimento da agricultura e os assentamentos permanentes transformaram a sociedade humana nos últimos 10.000 anos.
Antes dessa descoberta, o amputado mais antigo conhecido era um agricultor idoso cujo antebraço esquerdo havia sido removido logo acima do cotovelo há 7.000 anos no que hoje é a França, observou o estudo.
Foi apenas 100 anos atrás que a amputação cirúrgica se tornou uma norma médica ocidental. Antes de desenvolvimentos como antibióticos, segundo o estudo, a maioria das pessoas teria morrido no momento da amputação.
“Perda de sangue, choque e infecção subsequente foram as principais fontes de amputação fatal até relativamente recentemente na história humana”, disse Tim Maloney, pesquisador da Universidade Griffith e um dos coautores do estudo.
O indivíduo teve a perna esquerda amputada quando criança e sobreviveu por seis a nove anos após a cirurgia, de acordo com a pesquisa.
Não havia vestígios de infecção nos ossos, e um novo crescimento ósseo se formou sobre a área amputada – algo que leva um tempo considerável. Além disso, enquanto o resto do esqueleto era do tamanho de um adulto, os ossos amputados pararam de crescer e mantiveram o tamanho infantil.
O cirurgião ou cirurgiões que realizaram a operação há 31.000 anos, provavelmente com facas e bisturis feitos de pedra, devem ter conhecimento detalhado da anatomia e dos sistemas musculares e vasculares para expor e negociar as veias, vasos e nervos e evitar a perda fatal de sangue e infecção, disse o estudo.
Após a amputação, cuidados intensivos de enfermagem e cuidados teriam sido vitais, e a ferida teria que ser limpa e desinfetada regularmente.