O prêmio Nobel de Economia de 2023 foi concedido nesta segunda-feira (9) à Claudia Goldin, historiadora econômica e professora da Universidade de Harvard. Goldin foi premiada pelo seu trabalho sobre mulheres no mercado de trabalho e os motivos que fazem perdurar esse degrau entre os gêneros — entre eles questões como casamento, maternidade e histórico familiar.
O prêmio de Economia, oficialmente chamado de “Prêmio do Banco da Suécia em Ciências Econômicas em memória de Alfred Nobel”, foi criado em 1968. A homenagem não fazia parte do grupo original de cinco prêmios estabelecidos por Alfred Nobel, que foram entregues pela primeira vez em 1901. O Nobel de Economia é o último concedido este ano. Os prêmios de Medicina, Física, Química, Literatura e Paz foram anunciados na semana passada. O prêmio em dinheiro é de 11 milhões de coroas suecas (equivalente a 5,1 milhões de reais), que serão entregues em 10 de dezembro. A professora Goldin é a terceira mulher laureada pelo prêmio — e a primeira a ser premiada sozinha. Elinor Ostrom, a premiada de 2009 e Esther Duflo, de 2019, dividiram o prêmio com homens.
No anúncio, a Academia de Ciências Econômicas responsável pelo prêmio destaca que, atualmente, as mulheres ainda recebem 30% a menos que os homens, apesar de terem níveis maiores de educação em diversas partes do mundo. A academia definiu a professora Goldin como uma “verdadeira detetive”, já que a pesquisa recolhe dados desde 1800, quando a economia americana deixou de ser majoritariamente agrícola para virar industrial. O estudo, segundo a academia, permitiu que a historiadora demonstrasse como e porquê as diferenças de género nos rendimentos e nas taxas de emprego mudaram ao longo do tempo — e porque continuam mesmo com políticas de igualdade de gênero.
Em seu trabalho, Goldin mostra que a participação feminina no mercado de trabalho não teve uma tendência ascendente ao longo de todo este período, mas sim uma curva em forma de “U”. A participação das mulheres casadas diminuiu com a transição de uma sociedade agrária para uma sociedade industrial no início do século XIX, mas depois começou a aumentar com o crescimento do setor dos serviços no início do século XX. Goldin explicou este padrão como o resultado de mudanças estruturais e da evolução das normas sociais relativas às responsabilidades das mulheres em relação ao lar e à família.
Goldin demonstrou que o acesso à pílula contraceptiva desempenhou um papel importante na aceleração desta mudança revolucionária, oferecendo novas oportunidades para o planeamento de carreira. Apesar da modernização, do crescimento económico e do aumento da proporção de mulheres empregadas no século XX, durante um longo período de tempo a disparidade salarial entre mulheres e homens ocorreu. De acordo com Goldin, parte da explicação é que as decisões educativas, que têm impacto numa vida inteira de oportunidades de carreira, são tomadas numa idade relativamente jovem. Se as expectativas das mulheres jovens forem formadas pelas experiências das gerações anteriores – por exemplo, das suas mães, que não voltaram a trabalhar até os filhos crescerem – então o desenvolvimento de suas carreiras será lento.
Historicamente, grande parte da disparidade salarial entre homens e mulheres poderia ser explicada por diferenças na educação e nas escolhas profissionais. Contudo, Goldin demonstrou que a maior parte desta diferença de rendimentos ocorre agora entre mulheres e mulheres que exercem a mesma profissão e que surge em grande parte com o nascimento do primeiro filho.
“Compreender o papel da mulher no trabalho é importante para a sociedade. Graças à investigação inovadora de Claudia Goldin, sabemos agora muito mais sobre os fatores subjacentes e quais as barreiras que poderão ter de ser abordadas no futuro”, afirma Jakob Svensson, Presidente do Comitê do Prémio em Ciências Econômicas.